Publicado Por: Karine Rizzardi

A história

Mais do que uma sigla, SOFIA indica um saber construído ao longo de mais de 15 anos. Começou com uma interrogação advinda da clínica que se estendeu para o desejo de saber sobre as motivações para adoção, abrindo campo para pesquisa e posteriormente para o ensino.

Escutar o desespero de uma mãe adotiva que ao não saber o que fazer com a filha, tencionava devolvê-la, foi o pontapé inicial para refletir sobre o desejo de ter filho e construir uma clínica da adoção. As especificidades reveladas nas escutas de pais adotivos nos permitiram distinguir dois desejos distintos: o desejo de gestar e o desejo de ter filhos. Se na filiação biológica eles se articulam, na adotiva eles seguem caminhos distintos. Entender isso e considerar a filiação no seu aspecto biológico, jurídico e psicológico constituíram o lastro de onde partimos.

Começamos como uma atividade estritamente clínica e dela nunca nos dissociamos, assim como fez Freud com a Psicanálise. No entanto, o tema exige outras incursões culturais, sociais e jurídicas o que nos forçou a enveredarmos pela pesquisa e foram várias. Sem esquecer o solo no qual este projeto estava plantado, ou seja, numa universidade, convocamos doutorandos, mestrandos, graduandos e pós-doutorados para produzirem conhecimentos sobre o tema, o que gerou diversas publicações nacionais e estrangeiras. Com isso abrimos um espaço para estágios, sendo um rico campo de ensino que hoje se consolida com a criação de um Curso de Especialização sobre Família Adotiva e Parentalidade. O pioneirismo de implantarmos um Projeto/Programa desse porte, no qual congrega ensino, pesquisa e extensão recebe reconhecimento nacional e internacional expressos nos diferentes convites para publicar, ministrar conferências etc.

Ressalto que o trabalho de tecitura construído sem pressa e sempre com o propósito de contribuir para a adoção no Estado de Pernambuco fez com que a Coordenadora da Infância e da Juventude do Estados de Pernambuco estabelecesse conosco acordos de cooperação envolvendo diferentes comarcas e diversos Projetos. Junto com esta coordenadoria desenvolvemos atenção a pais adotivos e a candidatos a adotar; a mais doadoras e um projeto de construção de um banco de dados sobre adoção (em fase de conclusão)

O trabalho

Começamos como um serviço atrelado à Clínica de Psicologia da UNICAP para atender pais adotivos ou candidatos a adoção e nos colocamos à disposição para colaborar com a 2ª.Vara da Infância e da Juventude do Estado de Pernambuco que acolheu com simpatia nossos préstimos e passamos a receber, além da demanda espontânea, os casos identificados pelas equipes dos Setores de Adoção de diferentes comarcas, como precisando de acompanhamento psicológico.

Ao mesmo tempo que iniciava tal prática, empreendemos a primeira pesquisa junto aos arquivos de processos de adoção, sobre o desejo de adotar revelados pelos candidatos a adotar.

Ao tornar público os resultados destes trabalhos, em eventos científicos, no Brasil e na França, e o interesse de partilhar experiência nos fez empreender a organização e realização conjunta de um congresso Franco-brasileiro sobre adoção cujo produto gerou a nossa primeira coletânea. Os efeitos desse evento foram vários e um deles o convite do Desembargador Luiz Carlos Figueiredo - então Coordenador Geral da Infância e Juventude do Estado de Pernambuco -, para ter acesso aos processos sob a responsabilidade dessa coordenadoria no sentido de produzir pesquisa. Assim começamos o trabalho de construção de bancos de dados de adoção do Estado de Pernambuco (em fase de conclusão), que viabilizará pesquisas futuras. As teses e dissertações que se desenvolviam pari passo também tiveram visibilidade através de apresentações em congressos nacionais e internacionais, gerando publicações.

 

A experiência

Após mais de 15 anos de funcionamento ininterrupto construímos um saber sobre a adoção e sobre o processo de filiação

A experiência tem mostrado que não basta escutar e considerar os desejos que sustentam os pedidos de adoção, acompanhar o engajamento da criança na família adotiva no estágio de convivência, esses são aspectos importantes que não podem ser negligenciados. Mas é preciso dar voz às crianças para entendermos um outro lado da filiação, igualmente aos técnicos que acompanham o dia a dia das crianças nas casas de acolhimento. A dinâmica social envolvida tem mostrado que por mais que os operadores do direito façam valer os direitos da criança, as soluções serão sempre singulares.

Se no início, entendíamos que era fundamental acolher os pais adotivos e/ou os candidatos a adotar porque era preciso saber qual o lugar que a criança iria ocupar no imaginário dos pais e da família para ver como se susteria a filiação que não sendo biológica, garantiria vínculo parental e simbólico; passamos, com o tempo e a experiência de escuta e pesquisa de crianças, como sujeitos portadores de uma história que deve se inserir na família adotiva. Desenvolvemos, então, uma pesquisa pós-doutoral na qual fomos ouvir as crianças nas próprias casas de acolhimento.

            A construção de uma clínica da adoção sustentada em escuta e pesquisa continua o que faz do SOFIA um projeto de referência.

Os produtos

Os produtos são diversos tanto no campo da assistência quanto no campo da pesquisa:

  1. Realizamos inúmeros atendimentos pelo Sofia (mais de 250); desde uma conversa e esclarecimento como acompanhamento psicológicos de pais adotivos, candidatos a adoção, crianças e adolescente e mães doadoras;
  2. Produzimos 03 teses, 07 dissertações, 17 monografia de TCC, e 07 trabalhos de Iniciação Científica e 01 estágio pós-doutoral;
  3. Ministramos 05 conferências na França e 09 palestras aqui no Brasil. Ao todo foram 40 apresentações em eventos científicos nacionais e internacionais;
  4. Organizamos um Colóquio Franco-brasileiro sobre Família e Adoção;
  5. Construímos um Banco de Dados de Adoção do Estado de Pernambuco (adoção pelo cadastro), em fase de conclusão;
  6. Organizamos um Curso de Especialização sobre Família Adotiva e Parentalidade, já aprovado pelo CONSEPE;
  7. Organizamos e publicamos 02 coletâneas, publicamos 01 livro sobre uma dissertação, publicamos 03 artigos em livros franceses e vários artigos em revistas e livros nacionais.

 

 

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