Publicado Por: Alessandro Douglas

O jornalismo é uma profissão cada vez mais necessária. No entanto, desde as últimas eleições, os profissionais da área tem lidado diariamente com comentários que não apenas desaprovam seu trabalho, mas também que os reduzem como pessoas nas redes sociais. As ondas de linchamentos virtuais que ocorrem com mais frequencia no twitter, são voltadas especialmente para as jornalistas mulheres que já fizeram ou fazem críticas de oposição ao governo atual.

Desigualdade salarial, vítimas de feminicídio, vítimas de relacionamento abusivo, alvo de piadas e comentários sexistas. São inúmeros os tipos de violência a que as mulheres são submetidas. Carmem Silva é pesquisadora e militante feminista da organização não-governamental SOS Corpo. Para ela, o motivo está na construção histórica da sociedade atual: “Porque vivemos em uma sociedade patriarcal, que é o sistema onde os homens têm mais poder, eles são considerados com maior valor que as mulheres”.

Natália Cordeiro, integra o Fórum de Mulheres de Pernambuco, e aponta a questão do machismo, que anda lado a lado com o patriarcado na sociedade. “Se a gente entende que o machismo é uma estrutura social, já que a sociedade foi construindo ideias do que era ser homem e do que era ser mulher, é difícil de ser mudado já que é algo construído há muitos anos”.

MULHERES ESCREVENDO MATÉRIAS PELO MUNDO

A pesquisa “Ataques e assédio: o impacto sobre as jornalistas e suas matérias” realizada pela International Women’s Media Foundation e TrollBusters, mostrou que 63% das 597 jornalistas nos Estados Unidos e em outros países já foram ameaçadas ou assediadas online, 58% foram ameaçadas pessoalmente e 26% foram atacadas fisicamente. Entre as jornalistas que trabalham nos EUA e sofreram ataques virtuais, 78% dizem que foram alvos por serem mulheres e, entre as jornalistas trabalhando em outros países, o percentual foi de 68%.

Com os dados da pesquisa, pode-se observar que as condições das mulheres jornalistas é preocupante, já que as chances de sofrerem esse tipo de assédio na internet aumenta drasticamente só pelo o fato de serem mulheres. Diversos são os danos psicológicos que podem ser resultantes na vida da mulher ao ser vítima de comentários misóginos. A psicóloga Alissandra Cruz de Oliveira analisa que: “as pessoas vítimas de linchamento virtual podem ter reforçada a crença de que são menos valiosas do que o que de fato são. Principalmente as mulheres, em razão do machismo que enfrentam na sociedade que as obriga a ter que demonstrar muito mais competência para assumir os seus papéis profissionais”.

DIREITOS VIOLADOS

São muitos os direitos violados em casos de linchamentos virtual. A advogada Fábia Lopes que também é jornalista e militante feminista revela que “No linchamento virtual há tanto violação de princípios previstos na nossa Constituição, quanto de direitos previstos no ordenamento jurídico brasileiro. O primeiro princípio a ser violado, por exemplo, é o da Dignidade da Pessoa Humana. Esse princípio reconhece que as pessoas são merecedoras de respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade”.

Fábia afirma que é preciso identificar e punir os agressores que, nos casos de violência virtual contra as mulheres, são homens em sua grande maioria. “Quanto às medidas jurídicas cabíveis, considero que é indispensável registrar um Boletim de Ocorrência na Delegacia de Crimes Cibernéticos, localizada na Rua da Aurora, 487 – Boa Vista, Recife/PE (Fone: 3184-3207). Na delegacia, será feito o inquérito policial, que poderá resultar na denúncia pelo Ministério Público e, consequentemente, na instauração do processo penal. Dependendo do crime tipificado, a pena varia, em média, de 03 meses a 03 anos de prisão”.

No Brasil, os casos mais recentes foram os das jornalistas Patrícia Campos Mello e Vera Magalhães, que fizeram matérias de denúncia contra o Presidente da República. Com isso, houve chuva de comentários misóginos e sexistas nas redes

sociais das jornalistas, o twitter foi uma delas. Nas atuais regras sobre violência, assédio e outros tipos de comportamentos abusivos na plataforma, é explicitado que “Não é permitido fazer ameaças de violência contra um indivíduo ou um grupo de pessoas”, no entanto, a rede social continua mantendo os posts no ar, e mesmo com denúncias alegam que os tweets não se encaixam na categoria.

Com todos os dados abordados percebe-se que as mulheres ainda são vistas como o “sexo frágil”, e que podem ser tratadas como objetos. Ao longo da história, as mulheres lutaram em busca de conquistar seus direitos, e na sociedade atual, com líderes que propagam o ódio e a violência, a luta por igualdade e justiça deve fortalecer o movimento.

Matéria escrita por: Lara Felix (@laraffelix) e Thayla Kerolyn (@thaylakerolyn) Para a disciplina: Jornalismo e Direitos Humanos

Universidade Católica de Pernambuco

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