Publicado Por: Alessandro Douglas

A morte de João Alberto Freitas, homem negro de 40 anos espancado por seguranças do Carrefour, em Porto Alegre, no dia 10 de novembro - véspera do Dia da Consciência Negra - desencadeou uma onda de protestos nos últimos dias.

A rede de supermercados havia anunciado que todo resultado das vendas nas lojas no Brasil na sexta-feira, 20 de novembro, seria revertido para projetos de combate ao racismo no país. Em seguida, a empresa propôs a criação de um Comitê Externo de Diversidade e Inclusão, e foi duramente criticada pelo movimento negro e antirracista.

A Coalizão Negra por Direitos,
articulação que reúne mais de 150 organizações, coletivos e entidades do movimento negro e antirracista, rejeitou em nota a proposta de empresa, declarando que a medida tinha como objetivo invizibilizar a violência racista que levou João Alberto Silveira de Freitas à morte. “São diversos casos que não deixam dúvidas quanto ao conhecimento da direção da rede no Brasil sobre o papel ativo do Carrefour em práticas violentas fundadas no racismo. Ao longo do tempo, esses crimes têm sido denunciados, seja através da mídia, ou seja, através das organizações sociais negras, culminando agora neste bárbaro assassinato,” afirmou a coalizão negra em nota de repúdio.

Em Pernambuco, as manifestações após o dia da consequência negra, foram marcadas por confusão e violência policial. O desentendimento entre manifestantes e policiais começou quando a ativista Lu Mattos, da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, fez o uso do microfone e uma caixa de som para impedir a invasão do estacionamento. A ativista foi presa, acusada de vandalismo por incitar a invasão, sendo responsabilizada pelo ato e encaminhada à 2ª Delegacia de Polícia de Boa Viagem. “A levaram a força, mas fomos todos para a delegacia com ela. Depois de mais de 1h de espera, a liberaram como suspeita, de um crime que ela não cometeu. Ela era uma mulher preta, eu sou uma mulher preta, e a gente tem culpa, mesmo sem ter culpa,” desabafou Myrella Santana de 19 anos, estudante e militante do movimento negro, feminista e LGBT.

Apesar da luta antirracista ter crescido muito no país, o racismo ainda é um problema recorrente. Segundo dados da Rede de Observatórios da Segurança, grupo de estudos sobre violência nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará, Bahia e Pernambuco, 75% dos mortos pela polícia são negros (pretos e pardos). Informações do Atlas da Violência 2020, refletem a necessidade da manutenção dos direitos dos negros, já que, a taxa de homicídios cresceu 11,5%, de 2008 a 2018, enquanto a de não negros caiu 12%.

Mesmo após 32 anos da criminalização do racismo na Constituição Brasileira, ele ainda se faz presente e enraizado em nossa sociedade. Negros ainda são maioria nos presídios e entre as vítimas de homicídios. Além disso, correspondem a parcela da população que tem menos acesso à saúde e à educação, compondo também o segmento de menor renda.

O primeiro artigo da Declaração Universal Dos Direitos Humanos, adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU), promove a igualdade de direitos e liberdades de todos os seres humanos, mas essa realidade atualmente no Brasil, ainda está distante da maioria do povo brasileiro.

Matéria: Amanda Remígio

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