Abertura da 28ª Semana Teológica da Unicap discute novos cenários da Teologia - Unicap
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Abertura da 28ª Semana Teológica da Unicap discute novos cenários da Teologia
A Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) deu início à 28ª edição da Semana Teológica, que traz como tema central “A Teologia em Novos Cenários: aspectos eclesiológicos, pastorais e sociais”. O evento foi aberto no auditório G1, com a presença do Reitor da Unicap, Prof. Dr. Padre Pedro Rubens, da coordenadora do Programa de Pós-graduação em Teologia, Profª Drª Maria Rita Gomes, do Pró-reitor de Graduação, Prof. Dr. Degislando Nóbrega, e do diretor do Instituto Humanitas, Prof. Dr. Padre Lúcio Flávio Cirne.
O painel de abertura trouxe as reflexões de dois conferencistas, Maria Rita Gomes e o professor Sérgio Albuquerque Damião, ambos da Unicap, sobre o tema “Estatuto Epistemológico da Teologia”. As discussões giraram em torno das transformações do campo teológico e de sua relação com o contexto latino-americano, ressaltando a importância de uma teologia conectada com o ambiente em que é produzida.
Durante sua fala, Padre Pedro Rubens destacou a “virada contextual” que a teologia sofreu, especialmente nas Américas, tanto na América do Norte quanto na América Latina. Ele ressaltou que essa transformação permitiu à teologia "abrir os olhos" para os desafios do local em que ela era feita “e para os problemas que a colocavam em xeque”.
Padre Pedro também apontou que essa virada foi fundamental para que o restante do mundo percebesse a contextualidade da teologia. Citando o teólogo Christoph Theobald, ele explicou que "depois que as teologias latino-americanas fizeram teologia contextual, nos demos conta da contextualidade de toda a teologia". Segundo ele, essa nova perspectiva desafia a teologia a se debruçar sobre o seu próprio contexto e seus desafios, como a multiculturalidade.
Além de abordar os aspectos históricos e contextuais da teologia, o Reitor fez questão de destacar a importância de superar o "complexo de vira-lata" em relação às teologias latino-americanas, que são estudadas e respeitadas internacionalmente, mas muitas vezes subvalorizadas dentro do próprio continente.
Finalizando sua participação, Padre Pedro compartilhou um desejo de integrar diferentes disciplinas dentro da teologia. "Meu sonho era ainda fazer um curso em que a gente pudesse trabalhar a hermenêutica filosófica, a hermenêutica bíblica e a hermenêutica geológica, três professores cada um puxando por um desses lados", concluiu.
Em sua conferência, Maria Rita Gomes trouxe uma análise detalhada sobre as mudanças epistemológicas na teologia ao longo do tempo. Segundo ela, antes do Concílio Vaticano II, a teologia era fortemente marcada por uma abordagem escolástica, rígida e desconectada da realidade vivida pelas pessoas. “Era uma escolástica que se definia por ser um método aristotélico. Não descia, assim, ao chão no qual se vivia”, explicou a professora.
Ela destacou que essa teologia pré-Vaticano II focava na defesa da ortodoxia católica e tinha uma ênfase legalista, voltada para a preservação da doutrina e das estruturas institucionais da Igreja. “A reflexão teológica era frequentemente desconectada das experiências vividas e das realidades sociais, econômicas, com menos ênfase nas implicações práticas e pastorais da própria teologia”, comentou.
A partir do Concílio Vaticano II, porém, a teologia passou por uma reviravolta, assumindo uma postura mais aberta, dialógica e pastoral. Segundo Maria Rita, o concílio representou uma mudança significativa, afastando-se de uma metodologia puramente especulativa para adotar um método indutivo e contextual. “O concílio se afastou da abordagem escolástica, altamente sistemática e especulativa, para uma metodologia mais indutiva, contextual e interdisciplinar”, afirmou.
Um dos pontos centrais trazidos pela conferencista foi a nova eclesiologia surgida com o Vaticano II, que passou a ver a Igreja como uma "comunidade peregrina, sempre necessitada de renovação". Essa nova visão abriu espaço para um diálogo mais profundo com o mundo moderno, não mais baseado na condenação, mas numa postura crítica e construtiva. “A nova eclesiologia abre-se a um relacionamento com o mundo moderno, pela adoção de uma postura não condenatória da modernidade em si mesma, mas assumindo um papel significativo de instância crítica”, afirmou.
Essa mudança de paradigma, segundo Maria Rita, exigiu uma reorientação das prioridades teológicas, com temas como eclesiologia, liturgia e o papel dos leigos ganhando maior destaque, enquanto abordagens como a metafísica neotomista perderam centralidade. A professora enfatizou que essa nova abordagem da teologia se conecta diretamente com questões contemporâneas, como justiça social, cuidado ecológico e a dignidade humana, dialogando com áreas como as ciências, economia e geopolítica.
Ela também destacou a importância do Papa Francisco na retomada dessa perspectiva teológica, mencionando sua carta ao grande chanceler da Pontifícia Universidade Católica da Argentina, na qual o pontífice articula uma teologia que interage com as fronteiras do conhecimento e com as experiências vividas. Para Maria Rita, essa nova forma de fazer teologia "une o depósito da fé com a realidade da vida" e transforma o teólogo em um agente de cura, conectando a reflexão teológica com as urgências do mundo contemporâneo.
Já o conferencista Sérgio Albuquerque Damião trouxe uma reflexão sobre a teologia à luz das transformações paradigmáticas, recorrendo à filosofia das revoluções científicas de Thomas Kuhn. Damião começou destacando como, na cultura científica, novos paradigmas emergem para substituir os modelos tradicionais que se tornam insustentáveis frente às anomalias que desafiam o conhecimento acumulado. Esse conceito de "mudança de paradigma", essencial para Kuhn, também se aplica ao campo teológico.
Damião explorou a maneira como a teologia se depara com os desafios de renovação de suas próprias bases interpretativas. A mudança de paradigmas, segundo ele, é fundamental para que a prática teológica se mantenha relevante no contexto contemporâneo. Ao citar Kuhn, Damião definiu o paradigma como "a constelação de crenças, valores e técnicas partilhadas por uma comunidade", aplicando essa ideia ao desenvolvimento teológico, onde as novas interpretações surgem em momentos de crise, forçando uma revisão profunda dos conceitos até então aceitos.
Em sua apresentação, ele destacou que as anomalias na ciência e na teologia são inicialmente tratadas como fenômenos que podem ser absorvidos pelos modelos vigentes, mas, com o tempo, tornam-se insustentáveis dentro desses paradigmas. Assim, ocorre uma transição revolucionária que, em vez de ser acumulativa, rompe com o passado para instaurar uma nova maneira de entender o mundo. No âmbito teológico, essas mudanças são igualmente inevitáveis e necessárias, pois "a própria racionalidade teológica se vê desafiada a reinterpretar seus fundamentos quando a realidade se altera".
Damião também chamou a atenção para o impacto das novas tecnologias digitais e da sociedade da aceleração, conceito proposto pelo sociólogo Hartmut Rosa. Ele observou que a velocidade com que os novos paradigmas se formam e se dissipam na era digital é sem precedentes, afetando profundamente a prática teológica. "Vivemos numa época de intensa crise de racionalidade, que nos leva a uma desconfiança generalizada das instituições, incluindo a Igreja", disse ele, pontuando que a teologia contemporânea precisa lidar com o pragmatismo consumista e o individualismo exacerbado que caracterizam o atual modelo social.
Além de abordar os desafios externos, Damião enfatizou a necessidade de a teologia se abrir à realidade que a cerca, sem perder de vista o mistério que envolve a fé. Para ele, a teologia é tanto uma ciência quanto um "mistério eclesial", que deve estar a serviço do discernimento pessoal e comunitário, buscando sempre se situar no interior da tradição e da economia salvífica cristã. Contudo, ele salientou que essa abertura ao mundo precisa ser mediada por uma análise crítica dos paradigmas que moldam a sociedade, para que a teologia não perca sua pertinência ao se acomodar em modelos interpretativos ultrapassados.
Ao final, Damião fez uma importante advertência sobre o risco de a fé se tornar prisioneira de suas próprias expressões teológicas. Para ele, enquanto as expressões da fé são legítimas, é fundamental que elas sejam vistas como provisórias e abertas à mudança. "As expressões teológicas podem e devem mudar sempre que mude o paradigma da cultura, enquanto a intencionalidade profunda da fé permanece inalterada", afirmou, propondo que a teologia, assim como a ciência, deve estar em constante evolução, respondendo aos novos desafios.
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