Professora da Unicap conquista Prêmio ANP de Inovação Tecnológica 2025 na categoria Personalidade da Academia

A professora da Escola de Tecnologia e Comunicação da Unicap, Leonie Asfora Sarubbo, conquistou o Prêmio ANP de Inovação Tecnológica 2025 na categoria Personalidade Acadêmica. A proeza marca um ponto decisivo na trajetória de uma das cientistas mais influentes do país.

Única pesquisadora brasileira escolhida nesta edição, ela acumula reconhecimentos que evidenciam sua liderança científica, como a ascensão ao nível Pesquisadora 1A do CNPq e sua presença entre os 2% de pesquisadores mais influentes do mundo, segundo o World Scientist and University Rankings 2023 – AD Scientific Index.

Sua atuação de mais de duas décadas em biotecnologia, com destaque para o desenvolvimento de biossurfactantes aplicados à mitigação de impactos de petróleo e derivados, consolidou avanços tecnológicos inéditos no país e reforçou sua contribuição para soluções sustentáveis de relevância global.

A pesquisadora também se destaca pelo papel estratégico na integração entre academia e setor produtivo, especialmente por meio do Instituto Avançado de Tecnologia e Inovação (IATI), onde atua como diretora acadêmica. Ali, liderou dezenas de projetos tecnológicos, incentivou a formação de novos pesquisadores e fortaleceu uma cultura de inovação orientada a desafios reais da cadeia energética e petroquímica.

Sua presença em publicações internacionais, como a revista britânica Personal Care Insights, amplia ainda mais o impacto de sua produção científica, reafirmando o protagonismo de Pernambuco na pesquisa aplicada e projetando a ciência brasileira em cenários de alta competitividade global. Pouco antes de viajar ao Rio de Janeiro para receber a premiação da Agência Nacional do Petróleo, Leonie concedeu entrevista na qual falou da conquista, resultados e desafios da pesquisa.

1. Quais foram os marcos ou resultados mais significativos da sua trajetória acadêmica que a senhora acredita terem levado à escolha como “Personalidade Acadêmica” da Prêmio ANP de Inovação Tecnológica?

Esses resultados estão fundamentados na consolidação de uma carreira voltada à pesquisa aplicada, à inovação tecnológica e à geração de impactos socioambientais, especialmente no contexto dos setores energético e petroquímico. Entre as contribuições de maior relevância, destaco os desenvolvimentos tecnológicos pioneiros voltados à mitigação dos impactos ambientais associados ao uso e ao manejo de petróleo e de seus derivados. O primeiro deles refere-se ao biodetergente biodegradável e atóxico, formulado como um desengraxante industrial inovador, inexistente nos mercados nacional e internacional, capaz de remover resíduos de petroderivados impregnados em peças, pisos, máquinas e instalações industriais. Trata-se de uma tecnologia de inovação radical, que substitui produtos importados de maior toxicidade e custo, ao mesmo tempo em que atende às exigências ambientais, operacionais e econômicas das empresas do setor.

Outro marco foi o desenvolvimento do Biogel, um surfactante natural e biodegradável, inédito no mercado, voltado à descontaminação de ecossistemas sensíveis afetados por derramamentos de petróleo – incluindo recifes de corais, manguezais, fauna marinha e formações rochosas. O produto foi utilizado com sucesso no maior derramamento de petróleo já registrado na costa brasileira, demonstrando eficiência operacional, segurança ambiental e aplicabilidade em larga escala. Por ser biodegradável e não tóxico, o Biogel se diferencia amplamente dos dispersantes químicos importados atualmente utilizados, representando um avanço tecnológico de impacto direto para o setor regulado pela ANP.

Além das contribuições tecnológicas, considero igualmente determinante o papel desempenhado na cofundação e na consolidação do Instituto Avançado de Tecnologia e Inovação (IATI), instituição sem fins lucrativos dedicada ao desenvolvimento de soluções tecnológicas e à formação de pesquisadores. No IATI, foram concluídos até o momento 40 projetos de inovação tecnológica, com mais de 120 bolsas de pesquisa concedidas e mais de 150 pesquisadores beneficiados. O instituto atua de forma decisiva na integração entre academia e setor produtivo, fortalecendo a inovação orientada ao mercado e contribuindo para a geração de emprego, renda e novos produtos de base tecnológica.

Por fim, destaco a contínua atuação na formação de recursos humanos, com orientação de mestres, doutores, pesquisadores de iniciação científica e pós-doutorado, além de múltiplas iniciativas de popularização da ciência, participação em eventos acadêmicos e ações de estímulo às mulheres na ciência. O conjunto dessas ações reforça meu compromisso de promover soluções tecnológicas ambientalmente corretas, economicamente viáveis e socialmente relevantes.

2. Na sua visão, qual a importância do papel da academia — e de instituições como a Universidade Católica de Pernambuco — no desenvolvimento tecnológico e na inovação do setor energético nacional?

Na minha visão, o papel da academia no desenvolvimento tecnológico e na inovação do setor energético nacional é absolutamente central. Instituições como a Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) exercem uma função estratégica por reunirem três elementos essenciais para o avanço do país: produção científica de excelência, formação de recursos humanos qualificados e capacidade de transformar conhecimento em soluções tecnológicas aplicáveis ao setor produtivo.

Em primeiro lugar, a academia é o ambiente onde se desenvolvem pesquisas de longo prazo, capazes de gerar inovação genuína e sustentada. No caso da Unicap, isso se manifesta por meio de grupos de pesquisa consolidados, programas de pós-graduação e uma estrutura institucional que fomenta a investigação científica voltada para problemas reais do setor energético, ambiental e industrial. Como resultado, tecnologias inéditas — como biossurfactantes, biopolímeros, biocelulose e soluções para mitigação de impactos de petróleo e derivados — puderam ser concebidas e amadurecidas em ambiente acadêmico antes de serem aplicadas em escala real.

Além disso, a Universidade tem papel determinante na formação de profissionais e pesquisadores altamente qualificados, que são essenciais para sustentar a inovação no setor energético. A atuação da Unicap na capacitação de alunos de graduação, mestrado e doutorado, bem como na integração com programas como o Rede Nordeste de Biotecnologia (Renorbio) e parcerias com instituições nacionais e internacionais, amplia a capacidade do país de gerar conhecimento e desenvolver novas tecnologias.

A academia também desempenha um papel essencial na responsabilidade socioambiental, criando tecnologias que conciliam eficiência energética, redução de impactos ambientais e atendimento às demandas regulatórias. As pesquisas desenvolvidas na Unicap expressam o compromisso da instituição com soluções que não apenas atendem às demandas da indústria de petróleo e gás, mas que também promovem um desenvolvimento mais limpo, seguro e sustentável.

3. Que desafios e oportunidades a senhora identifica hoje para a pesquisa e inovação no setor de energia no Brasil, e como pretende continuar contribuindo para superá-los a partir da sua atuação acadêmica?

O Brasil vive um momento de grandes desafios e oportunidades no setor de energia, e acredito que a academia desempenha um papel decisivo na construção de soluções inovadoras, sustentáveis e estrategicamente alinhadas às demandas do país. Pretendo continuar contribuindo por meio da pesquisa aplicada, da formação de talentos, da consolidação de instituições de inovação e do compromisso permanente com tecnologias que promovam eficiência, segurança e sustentabilidade no setor energético nacional.