Workshop Internacional discute resiliência urbana integrada na Borda Histórica Continental do Recife

A Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) abriu, na tarde desta segunda-feira (22), no Pavilhão Maker, o Workshop Internacional Resiliência Urbana Integrada: perspectivas para a borda histórica continental do Recife. O evento, realizado em parceria com a University of the Arts London (UAL), por meio da Central Saint Martins, e com a Agência Recife para Inovação e Estratégia (Aries), reúne professores, pesquisadores e estudantes do Brasil e do exterior. A programação segue até a próxima sexta-feira (26), com atividades em campo voltadas para o levantamento de dados e experimentações metodológicas.

O workshop amplia os estudos que já vêm sendo realizados pela Unicap sobre a Borda Histórica Continental do Recife, área marcada pela confluência entre patrimônio cultural, desigualdades sociais e vulnerabilidade ambiental. Até aqui, a pesquisa havia se concentrado em dados objetivos, como uso e ocupação do solo, infraestrutura, comércio e mobilidade. Nesta nova etapa, o grupo passa a investigar também os dados subjetivos — como memórias coletivas, percepções de insegurança, sentimentos de pertencimento e engajamento comunitário — considerados fundamentais para compreender a vitalidade urbana e propor políticas mais justas e efetivas.

Para a arquiteta e urbanista Juliana Muniz Westcott, doutoranda da Central Saint Martins/UAL e colaboradora da Aries, a integração entre camadas objetivas e subjetivas é o núcleo do workshop.

“Estamos olhando para dimensões como justiça social, justiça ambiental, comércio informal e edifícios abandonados. O desafio é propor formas de reutilizar esses espaços, cruzando dados concretos de degradação ambiental e infraestrutura com as percepções, histórias e experiências da população local”, explicou.

Segundo Juliana, a metodologia será construída de forma colaborativa, em um processo que envolve não apenas professores e estudantes da Unicap e da UAL, mas também os moradores e organizações que atuam no território.

O arquiteto britânico Alex Warnock-Smith, diretor do Urban Projects Bureau e professor da Central Saint Martins, apresentou no workshop o conceito de Práticas Espaciais Críticas. Para ele, a cidade não deve ser apenas estudada, mas também questionada a partir de uma abordagem que combina teoria, prática projetual e intervenção social.

“As Práticas Espaciais Críticas buscam desconstruir modelos tradicionais de urbanismo. Elas nos convidam a pensar como as relações de poder, as desigualdades e as emergências climáticas se manifestam no espaço urbano, e como podemos propor respostas a partir de um engajamento coletivo. É nesse ponto que a troca internacional se torna fundamental, pois diferentes contextos oferecem soluções e aprendizados distintos”, afirmou.

Warnock-Smith também destacou a importância de inserir a emergência climática como eixo estruturante nos programas de ensino de Arquitetura e Urbanismo, prática que vem sendo incorporada pela UAL.

Fotografia como ferramenta de pesquisa

A professora Diana Ibanez Lopez, coordenadora do mestrado em Cidades da Central Saint Martins, trouxe a fotografia como metodologia de análise do território. Para ela, as imagens capturam nuances que os levantamentos convencionais não revelam.

“Fotografar é documentar relações entre pessoas, espaços e infraestruturas. É uma forma de criar narrativas visuais que enriquecem o processo de leitura da cidade, revelando camadas sociais e culturais que complementam os dados objetivos”, destacou.

Perspectiva econômica e áreas dinâmicas do Recife

Representando a Aries, a arquiteta Inês Domingues apresentou o estudo de diversificação econômica e áreas quentes do Recife, parte do plano Recife 500 anos. O levantamento utiliza informações do Cadastro Mercantil e outros bancos de dados para identificar centralidades urbanas, vocações econômicas e vazios estratégicos.

“Esse estudo permite localizar áreas de dinamismo econômico, mas também os vazios urbanos que podem ser reativados. A ideia é cruzar esses dados objetivos com os intangíveis que estamos debatendo no workshop, orientando políticas públicas para transformar o Recife até 2037 em uma cidade inovadora, sustentável e menos desigual”, disse.

A parceria com a Aries é estratégica, já que a agência atua na articulação entre poder público, setor privado e sociedade civil, projetando cenários de inovação urbana. Para a professora Andréa Câmara, assessora da Escola de Tecnologia e Comunicação da Unicap, o workshop integra um ciclo de estudos que vem sendo realizado ao longo do semestre com estudantes de Arquitetura e Urbanismo.

“Chamamos essa experiência de análise integrada da Borda Histórica do Recife. Nosso propósito é olhar para o território em todas as suas dimensões — sociais, ambientais e econômicas — e chegar, até o fim do ano, a um plano de massa com diretrizes urbanas. O workshop internacional amplia essa reflexão, trazendo diferentes metodologias e visões críticas que enriquecem o processo de ensino, pesquisa e extensão”, explicou.

A presidente da Aries, Mariana Pontes, ressaltou a importância da parceria com a Unicap e a UAL para pensar o Recife a longo prazo. Segundo ela, a agência busca alinhar as estratégias de desenvolvimento da cidade a partir de evidências científicas e experiências inovadoras.

“Este workshop é fundamental porque coloca a cidade no centro do debate acadêmico internacional, mas sem perder de vista a realidade local. Ao reunir pesquisadores, estudantes e a comunidade, conseguimos construir um olhar mais completo sobre os desafios e as potencialidades da Borda Histórica, o que contribui diretamente para o planejamento estratégico do Recife até 2037”, afirmou.