Na 29ª Semana Teológica da Universidade Católica de Pernambuco, o Prof. Dr. Pe. Fernando Ponce León, da Pontifícia Universidade Católica do Equador, apresentou a conferência “Esperança da política, política da esperança”, em que refletiu sobre os desafios contemporâneos da democracia e sobre a necessidade de recuperar a dimensão transformadora da esperança no âmbito político.
Logo no início, o conferencista destacou que, embora a política devesse ser um espaço para a construção do futuro, ela se encontra marcada por crises e desconfianças: “A política poderia ser uma boa notícia, sem embargo, no contexto atual é muito difícil entender que a política seja percebida como uma ferramenta positiva para o futuro”.
O pesquisador chamou atenção para um dado preocupante: “Na América Latina, apenas 48% dos entrevistados preferem a democracia a qualquer outra forma de governo, uma queda de 15 pontos em treze anos”. Esse cenário, segundo ele, evidencia o enfraquecimento do apoio às instituições democráticas e o aumento da indiferença ou até da simpatia por alternativas autoritárias.
Para explicar esse processo, o professor apontou fatores como “a desconfiança nas instituições políticas, a polarização e o excesso de líderes autoritários que burlam os controles institucionais”. A partir dessa constatação, Ponce León argumentou que é urgente resgatar a esperança como virtude política, inspirando-se em teólogos como Jürgen Moltmann e Emilce Cuda.
Ao abordar Moltmann, destacou que a esperança não pode ser reduzida a um simples otimismo, mas deve ser entendida como força ativa que transforma a realidade: “Não se trata de uma utopia no sentido de ‘não-lugar’, mas de uma realidade que já se faz presente e que, por isso, cria condições para o futuro”.
O palestrante frisou que, nesse horizonte, a política da esperança é uma prática comunitária que “perturba, questiona e rompe a ordem atual das coisas, não para criar um vazio de poder, mas para abrir espaço a uma nova ordem social, política e religiosa”.
Dialogando com Emilce Cuda e com o Papa Francisco, Ponce León apresentou a ideia de “organizar a esperança”. Citando Dom Tonino Bello, recordou: “Não há que limitar-se a esperar, há que organizar la esperança”. Traduzida em termos práticos, essa organização significa converter a esperança em ações concretas de justiça e solidariedade, muitas vezes lideradas por movimentos populares, redes eclesiais, universidades, associações de trabalhadores e até mesmo iniciativas empresariais comprometidas com o bem comum.
Nesse ponto, ressaltou que a América Latina, “o continente mais católico do mundo, mas também o mais desigual e violento”, demanda um discernimento profundo para que a experiência religiosa vá além do dogmatismo, aproximando-se de uma vivência cristológica, centrada na libertação e na conscientização. Para o conferencista, isso implica um novo paradigma de cuidado: “economia de cuidado, recuperação da cidadania como cuidado da Casa Comum e cuidado do tecido social”.
Ponce concluiu afirmando que a esperança cristã, longe de ser passiva, é compromisso com a transformação da história. “As derrotas são passageiras e os triunfos são decisivos”, afirmou. E completou: “A política da esperança não é mero discurso espiritual, mas um chamado a reconsiderar as promessas, a confiança e os princípios democráticos, para que a vida social seja marcada pela liberdade, igualdade e dignidade de todos”.