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Lançamento do livro “Governar e Escravizar” provoca reflexões sobre a responsabilidade histórica de Pernambuco no sistema escravista atlântico

Lançamento do livro “Governar e Escravizar” provoca reflexões sobre a responsabilidade histórica de Pernambuco no sistema escravista atlântico
A noite desta segunda-feira (15), na Biblioteca Central da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), foi marcada pelo lançamento do livro Governar e Escravizar: João Fernandes Vieira e André Vidal de Negreiros nas relações de poder atlânticas e tráfico de escravizados entre Angola e Pernambuco (1658-1666), de autoria do Prof. Dr. Leandro Nascimento de Souza, coordenador do Programa de Pós-graduação em História da Unicap. A obra é fruto de sua tese de doutorado, defendida em 2020, e apresenta reflexões inovadoras sobre o papel de Pernambuco na formação e consolidação do sistema escravista atlântico.
O evento foi promovido pelo Instituto Ubuntu de Estudos Africanos e Diaspóricos da Unicap e contou com a acolhida da Profª Drª Valdenice José Raimundo, coordenadora do Instituto e Pró-reitora de Pesquisa e Pós-graduação da Universidade, além da presença da Profª Drª Maria do Rosário da Silva, coordenadora da Licenciatura em História.
Pernambuco como motor da escravidão atlântica
Na apresentação de sua obra, Leandro Nascimento destacou descobertas feitas durante a pesquisa documental que modificaram a compreensão inicial de seu trabalho. Um dos pontos centrais é a relação entre a expansão da produção açucareira em Pernambuco e a fundação da capitania de Angola, oficializada pelo rei Dom Sebastião em 1575.
Segundo o historiador, a necessidade crescente de mão de obra para os engenhos pernambucanos justificou a implantação de uma base de operações da Coroa portuguesa em território africano, o que consolidou o tráfico de africanos escravizados. “A capitania de Pernambuco forneceu a justificativa para a criação da capitania de Angola, tornando-se responsável pelo início e pela consolidação do sistema escravista atlântico”, afirmou.
Essa constatação, segundo o autor, levanta questões atuais sobre a responsabilidade histórica: se Pernambuco desempenhou papel central na estruturação do sistema de escravidão, caberia hoje ao estado contribuir de forma mais enfática com políticas de reparação e ações afirmativas voltadas à população negra, a mais impactada por esse legado.
Elites coloniais e permanência no poder
Outro eixo da pesquisa relaciona a atuação da elite política colonial à manutenção de privilégios ao longo dos séculos. Inspirado em reflexões do historiador João Fragoso, Leandro Nascimento observa que grupos dominantes em Pernambuco transitaram da colônia ao Império e à República preservando posições de poder. “Se essa elite foi responsável por criar as condições do sistema escravista, é preciso pensar em como o Estado pode assumir, no presente, responsabilidades para corrigir desigualdades estruturais”, ressaltou.
Governadores de Angola e o protagonismo pernambucano
A obra também traz um estudo inédito sobre os pernambucanos João Fernandes Vieira e André Vidal de Negreiros, personagens tradicionalmente lembrados pela expulsão dos holandeses, mas que também governaram Angola. De acordo com a pesquisa, ambos se destacaram como grandes traficantes de pessoas escravizadas e protagonistas de campanhas militares que desestruturaram o Estado do Congo, um dos mais organizados da África Centro-Ocidental.
Vieira chegou a ser excomungado pela Companhia de Jesus devido aos excessos cometidos em Angola, mas nunca sofreu punições efetivas em vida. Negreiros, por sua vez, liderou a Batalha de Ambuíla (1665), que fragmentou o Estado do Congo e gerou consequências políticas por mais de dois séculos.
“São dois dos maiores senhores e traficantes de escravizados do seu tempo. Não podemos naturalizar suas ações como algo próprio da época. Existiam vozes que se levantavam contra a escravidão já no século XVII, como o padre Lourenço de Mendonça, responsável por mobilizar a Igreja Católica a condenar oficialmente a escravidão em 1688”, destacou Leandro.
Reflexões sobre memória e responsabilidade
Entre as diversas questões levantadas no livro, o professor enfatizou a ausência de espaços de memória no Recife que recordem o tráfico atlântico. Até 1630, o porto da cidade era o maior ponto de desembarque de africanos escravizados das Américas e, ao longo da escravidão, consolidou-se como o quarto maior porto do mundo nesse processo.
“No entanto, não existe no Recife um espaço de memória que trate dessa relação direta com a escravidão. O livro é também um chamado para que a sociedade cobre do poder público mudanças e reconheça essa responsabilidade histórica”, afirmou.
Um olhar africano sobre a história
O diferencial da obra, segundo o autor, é trazer para o centro da narrativa a visão dos próprios soberanos africanos, como os reis do Congo e a rainha Nzinga Mbandi. Cartas enviadas a papas e monarcas europeus no século XVII revelam a denúncia das violações de soberania cometidas pelos governadores pernambucanos em Angola.
“Esse olhar rompe com a ideia equivocada de que os portugueses apenas compravam escravizados de africanos. Houve constantes guerras promovidas ou alimentadas por interesses coloniais, transformando disputas locais em guerras econômicas para capturar pessoas”, explicou.
Encerrando a noite, Leandro Nascimento lembrou que o livro é resultado de uma longa trajetória iniciada em sua tese e que só ganhou forma editorial cinco anos depois de sua defesa. Para ele, trata-se de uma obra de História, mas também de responsabilidade social: “Mais do que revisitar o passado, é um convite a refletir sobre o presente e sobre as escolhas que fazemos como sociedade”.
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