Instituto Ubuntu da Unicap recebe visita de comitiva de juízes de Guiné-Bissau

O Instituto Ubuntu de Estudos Africanos e Diaspóricos, da Universidade Católica de Pernambuco, recebeu na manhã desta segunda-feira, dia 4, na Sala dos Conselhos, no prédio da Reitoria, a visita da comitiva de juízes do Tribunal Fiscal da Guiné-Bissau. O grupo formado pelo presidente do Tribunal Fiscal, juiz Alfredo Có; pelo juiz Mário Bandanhe; juiz Marcelo Malam Djassi; juiz Mohamed Baldé, e pela assessora do juiz presidente, Rosine Fonseca Soares da Gama Baio, foi recebido pelo Reitor, Prof. Dr. Pe. Pedro Rubens; pela Pró-reitora de Pesquisa, Pós-graduação e Inovação e Coordenadora do Instituto Ubuntu, Profª. Drª. Valdenice José Raimundo; pelo Pró-reitor Comunitário e de Extensão, Prof. Dr. Pe. Delmar Cardoso; e pelo Pró-reitor de Graduação, Prof. Dr. Degislando Nóbrega.

Além da Mesa Diretora, participaram também a Coordenadora de Pesquisa e Inovação, Profª. Drª. Marina Barros; a Coordenadora da Pós-graduação Stricto Sensu, Profª. Drª. Carla Teixeira; a Diretora da Escola de Ciências Jurídicas, Profª. Drª. Karina Vasconcelos; a Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Direito - PPGD. Profª. Drª. Érica Babini; o Vice-coordenador do PPGD, Prof. Dr. Glauco Salomão; o Coordenador do Programa de Pós-graduação em Indústrias Criativas - PPGIC, Prof. Dr. Lula Pinto; a docente da Graduação e Pós-graduação em História, Profª. Drª. Lídia Santos, funcionários, alunos e ex-alunos da Unicap.  
 

A Coordenadora do Instituto Ubuntu de Estudos Africanos e Diaspóricos e Pró-reitora de Pesquisa, Pós-graduação e Inovação da Unicap, professora Valdenice Raimundo deu as boas-vindas aos magistrados africanos falando da alegria em acolhê-los na Universidade. Em seguida passou a palavra ao Reitor, Padre Pedro Rubens. O Reitor cumprimentou a todos e destacou a relação do Brasil com a África de dívida, de reconciliação e de cooperação.

“Sem esquecer relações do passado que marcaram a história, abrir uma agenda de presente e futuro que possa ser de reparação, reconciliação e, também, de cooperação internacional, considerando a alteridade, a autonomia dos países e o reconhecimento. Então, do ponto de vista da Universidade, todo esse pensamento crítico e, também, esses projetos de colaboração e cooperação comum são bem-vindos. E, pedir a vocês, que nos ajude a compreender não só a África de antes, mas a África de hoje e quais são os projetos, quais são os direitos em pauta, que certamente também vão nos enriquecer”, disse Padre Pedro Rubens.

O Pró-reitor Comunitário e de Extensão, Padre Delmar Cardoso, apresentou a história e a identidade da Universidade Católica de Pernambuco. “A Universidade, como Universidade Católica, é a terceira do Brasil. Como Universidade somos do início dos anos de 1950, mas fomos autorizados como Faculdade, a partir de 1943. Padre Pedro esteve recentemente em Roma e o Papa Francisco disse que a identidade de uma Universidade Católica é o humanismo, é fazer com que o humano apareça. Um dos autores cristãos antigos Santo Irineu de Lião diz que ‘a glória de Deus é um homem vivente, um homem vivo’ e eu gosto de lembrar de uma homilia do Papa Gregório Magno que disse no dia de Natal: ‘quando a gente vê aquele menino na manjedoura, só Deus poderia ter sido tão humano’. A humanidade e a divindade não são díspares, contrários, mas se unem”, destaca Padre Delmar.   

A doutoranda em Ciências da Religião, integrante do Núcleo de Estudos Afro-brasileiro e Indígena - NEABI, e integrante do Instituto Ubuntu de Estudos Africanos e Diaspóricos da Unicap, Dona Lucia dos Prazeres falou da felicidade em participar do evento. “Estou muito feliz de estar aqui, espero que as nossas relações se estreitem e que a gente possa enegrecer cada vez mais essa Universidade”.

A integrante do Instituto Ubuntu e aluna de Pedagogia da Unicap, Carine Itshi, nascida na República do Congo, disse sobre sua alegria em estar no encontro e aproveitou para fazer um apelo. “Eu vou aproveitar também essa oportunidade para falar para vocês. Meu País é muito rico em minerais. Todo tipo de minerais que vocês podem imaginar está no meu País. Infelizmente, com essa riqueza, meu País sofre uma guerra silenciosa que já totalizou mais de 15 milhões de mortos e o mundo está calado. Essa guerra eu não sei se vai acabar. Porque não são só os rebeldes do M23 (Movimento 23 de Março), que são os ruandeses que estão fazendo a guerra com o Congo, mas é uma força internacional. Uma força imensa, muito grande que dá armas para os ruandeses matar o Congo. Isso é muito triste e ninguém fala sobre isso. O mundo inteiro fala de Israel, fala de Palestina, mas o Congo ninguém fala, por causa dos interesses pessoais. Estou pedindo para vocês para combatermos esse genocídio, e quando ficamos calados vamos, também, fazer parte desses crimes”, desabafa emocionada Carine Itshi.    

Em sua fala, a Pró-reitora Valdenice Raimundo disse que já vem conversando com Carine sobre toda essa situação no Congo e que é solidária nessa questão. Em seguida, falou sobre o surgimento do Instituto Ubuntu, criado em 10 de novembro de 2023, dentro da Semana da Consciência Negra da Unicap. “Sou uma mulher negra que pesquisa a questão racial no Brasil, a questão racial na interface de gênero nas políticas públicas. O Instituto Ubuntu nasce, prioritariamente, de nós pretos do Brasil, do desejo de retorno à África, ao continente que tiraram da gente lá atrás e a gente sente esse desejo de ir ao continente, de estar no continente e de se aproximar do continente. Nos foi contada uma história do Brasil, nessa temática racial, que nos negaram muita coisa, muitos elementos da história. A história foi contada sempre com heróis e protagonistas sendo homens e mulheres brancas, portugueses que invadiram o Brasil. A partir do Núcleo de Estudos Afro-brasileiro e Indígena - NEABI da Unicap, como também do Instituto Ubuntu de Estudos Africanos e Diaspóricos recontar a história ou fortalecer a história que a gente vem contando há muito tempo. Nessa história, a gente não quer deixar os povos de fora, como fizeram os colonizadores. A gente quer que todo mundo possa entender e entender-se e ser respeitado na história. Tanto é que o NEABI busca, aqui na Universidade, a questão dos povos indígenas, que a história negou legados”, destaca!

“O Instituto Ubuntu nasce dessa necessidade de aproximação com o Continente Africano, mas academicamente consolidar a internacionalização. Como o professor, Padre Delmar Cardoso, nosso Pró-reitor Comunitário e de Extensão, falou que quando se pensa em internacionalização, o último continente a se pensa é o Continente Africano. A gente quer derrubar essas muralhas e mostrar das possibilidades concretas de relação com o Continente Africano a partir do Instituto Ubuntu, como forma de cooperação técnica, cultural e acadêmica, através de pesquisas que a gente pode ter com os países africanos. Hoje, especificamente, falando com Guiné-Bissau, a gente tem falado bastante com o professor Arnaldo Sucuma (Coordenador do Núcleo de Relações Internacionais do Centro Universitário de Patos). A gente não quer fazer estudos comparativos, a gente quer estudar quais relações a gente tem com o Continente Africano? Olhando para a diáspora e olhando para a contemporaneidade. Eu fico muito grata a cada um que veio estar aqui com a gente, nós vamos contar com vocês nesse processo de consolidação do Instituto Ubuntu”, conclui professora Valdenice José Raimundo.                  

Em entrevista ao Boletim Unicap, o presidente do Tribunal Fiscal de Guine-Bissau, juiz Alfredo Có, falou sobre a visita à Universidade Católica de Pernambuco. “É uma porta aberta para nós, muito importante.  Nós vamos voltar para Guiné e vamos entrar em contato com a professora Valdenice Raimundo para firmarmos parcerias. Inclusive, eu tenho uma filha de 23 anos que quer vir estudar aqui no Brasil e vou entrar em contato com ela para ela vir estudar aqui na Unicap, que tem uma instalação linda. Vou fazer tudo para ela vir estudar aqui”, enfatiza o juiz Alfredo Có.  

A comitiva de magistrados da Guiné-Bissau chegou ao Recife na última semana de fevereiro para participar de uma capacitação técnica na Escola Fazendária – Esafaz, da Secretaria da Fazenda do Estado de Pernambuco, que ocorreu de 26 de fevereiro a 1º de março. Eles retornam à África nesta terça-feira, dia 5.