I Jornada de Ciberpsicologia e Humanidades Digitais promove debate sobre sofrimento psíquico nas redes e impactos sociais da tecnologia - Unicap

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I Jornada de Ciberpsicologia e Humanidades Digitais promove debate sobre sofrimento psíquico nas redes e impactos sociais da tecnologia

Publicado Por: Daniel França

A relação entre sofrimento psíquico, juventude e redes sociais foi o eixo central da palestra da pesquisadora Renata Guaraná durante a I Jornada de Ciberpsicologia e Humanidades Digitais, evento promovido pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia Clínica da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) na tarde desta quinta-feira (5). Com o título “Coração partido, celular na mão: a trama do adolescente sertanejo nos stories”, a conferência discutiu os modos como adolescentes expressam dores emocionais nos ambientes digitais, sobretudo por meio das redes sociais.


Renata apresentou dados e reflexões que fazem parte de sua pesquisa de doutorado, desenvolvida na linha de ciberpsicologia da Unicap. Um dos pontos de destaque foi a constatação de que os jovens tendem a interpretar e nomear seus sofrimentos com base em rótulos psicopatológicos amplamente divulgados em ambientes virtuais. “Eles interpretam o sofrimento deles por um viés psicopatológico. Se estão tristes ou sofrendo, acham logo que é uma depressão ou que a angústia que estão sentindo é um quadro de ansiedade patológico”, explicou.

A pesquisadora também chamou atenção para práticas autolesivas como forma de expressão da dor emocional, embora tenha apontado uma mudança recente em função da política de moderação de conteúdo do Instagram. “O Instagram proibiu imagens de cortes autolesivos e aí a gente viu menos isso nas redes sociais. Esse dado indica que a política adotada pela plataforma reflete no comportamento dos adolescentes”, afirmou.


Guaraná defendeu a necessidade de uma mediação mais qualificada do uso digital, tanto por parte das famílias quanto das instituições de ensino. “As medidas parentais são muito mais restritivas. Então, meu filho fez alguma coisa errada, eu tiro o celular dele. E essa medida não é eficaz. Os próprios adolescentes já sinalizaram que eles não têm capacidade de se autogerir online. É necessário essa mediação eficaz dos pais. Também as escolas precisam se responsabilizar pelo que acontece com os seus alunos”, alertou.

Ao ser questionada sobre a idade ideal para acesso às redes sociais, a pesquisadora foi categórica ao apontar que o problema não está apenas na idade, mas na falta de fiscalização eficiente e no uso indevido das plataformas por menores de 13 anos. “O Instagram é para pessoas acima de 13 anos, mas a maneira como a ferramenta restringe isso é muito branda. Então, temos crianças na plataforma e a própria plataforma sabe disso. Eu defendo muito mais que a gente tenha políticas de fiscalização e controle dos conteúdos do que uma restrição fixa de idade”, completou.

Uma jornada para consolidar um campo em expansão

Organizado pelas professoras Véronique Donard e Suely de Melo Santana, o evento marca a primeira edição da jornada do Laboratório de Ciberpsicologia da Unicap e tem como proposta apresentar o que vem sendo produzido na linha de pesquisa em ciberpsicologia, bem como promover o intercâmbio entre pesquisadores da área.


“A ideia é trazer palestrantes externos, regressos do nosso programa que se diplomaram em ciberpsicologia e que hoje estão desenvolvendo suas pesquisas, além de abrir espaço para os atuais mestrandos e doutorandos. É mostrar o que se produz dentro da linha e como o laboratório pode continuar acompanhando os egressos e interagindo com pesquisadores externos”, explicou Veronique Donard, coordenadora da linha.

Segundo a professora, o campo da ciberpsicologia ganha cada vez mais relevância diante da realidade contemporânea perpassada pelas tecnologias digitais. “Se a psicologia não levar em conta o fato de que o ser humano hoje é quase indissociável de sua experiência digital, ela estará desatualizada. Nossa realidade é continuamente prolongada por experiências digitais: consumo de informações, redes sociais, colonialismo digital, economia da atenção, impacto decisional das redes sobre nossas vidas”, analisou.

Veronique também mencionou que sua pesquisa atual, contemplada com bolsa de produtividade do CNPq, investiga os impactos da chegada da inteligência artificial geral na vida das pessoas. “Estamos estudando como compreender e prevenir um certo desamparo digital, ou seja, o risco das pessoas não conseguirem distinguir mais a realidade do conteúdo gerado por IA. Os grandes modelos de linguagem são como espelhos. Se você tem certos problemas psíquicos, eles vão dizer o que você quer ouvir”, disse.


A professora Suely de Melo Santana destacou que um dos objetivos centrais do evento é democratizar o acesso ao conhecimento científico produzido na área. “Queremos trazer a público nossa produção, convidar as pessoas a se integrarem mais ao nosso PPG em Psicologia Clínica, ao Laboratório de Ciberpsicologia, para que a gente possa ampliar os estudos e pesquisas sobre os impactos da relação homem-tecnologia, que sabemos que veio para ficar”, afirmou.

Para Suely, não se trata de negar os riscos da tecnologia, mas de compreender seus efeitos com mais profundidade. “Muitas vezes a gente discrimina os efeitos da tecnologia como sendo negativos, mas precisamos parar, investigar e refletir. Também há muitos benefícios: democratização do acesso, ampliação de recursos clínicos e pedagógicos. Mas é preciso aprender a fazer escolhas para mediar as relações interpessoais de forma mais saudável”, concluiu.

Encerramento da programação

A tarde de atividades da I Jornada de Ciberpsicologia e Humanidades Digitais foi encerrada com a mesa-redonda “Impactos das Tecnologias Digitais: potencialidades educativas, clínicas e desafios do jogo patológico on-line”, que reuniu o mestrando Lucas Glasner e os doutorandos Geórgia Moura e Davi Ítalo Barbosa da Silva.

Entrevista Especial - professor Tailson Mariano 

 

Num mundo cada vez mais moldado pelas tecnologias digitais, compreender como essas transformações afetam o comportamento humano tornou-se um desafio urgente. Foi nesse contexto que surgiu, em 2018, o Laboratório de Ciberpsicologia da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGPSI). A proposta é investigar, de forma empírica e interdisciplinar, os efeitos das interações mediadas por tecnologias – como redes sociais, jogos eletrônicos e inteligência artificial – sobre emoções, relações sociais e saúde mental. Em entrevista ao Boletim Unicap, o professor Tailson Mariano, um dos coordenadores do laboratório, fala sobre a origem da iniciativa, as ações desenvolvidas e a importância do engajamento institucional e científico diante dos desafios do mundo digital.

Boletim Unicap - Como e quando surgiu o laboratório e quais aspectos motivaram a sua criação ?

Tailson Mariano - O Laboratório de Ciberpsicologia da UNICAP surgiu oficialmente em 2018, como uma iniciativa vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGPSI), a partir das demandas percebidas em nossas pesquisas e práticas acadêmicas. A motivação principal foi compreender, de forma mais sistemática e empírica, os impactos psicológicos das interações humanas em contextos mediados por tecnologia (e.g., como redes sociais, jogos eletrônicos, inteligência artificial e outras interfaces digitais). Vivemos um tempo em que o digital não é mais um complemento da vida, mas parte estruturante dela, e a psicologia precisa acompanhar criticamente essa transformação.

B.U – Este foi o primeiro Simpósio do Laboratório. Na sua visão, como a academia pode contribuir para o debate de um tema cada vez mais presente no cotidiano das pessoas?

TM - Acredito que a academia tem um papel essencial de mediar esse debate com profundidade, responsabilidade e escuta. A I Jornada de Ciberpsicologia foi justamente um espaço para promover essa reflexão interdisciplinar, reunindo estudantes, professores e especialistas para apresentar e discutir pesquisas de como as tecnologias afetam o comportamento, as emoções, as relações sociais e até mesmo a saúde mental. Em um cenário cada vez mais acelerado, com inovações digitais surgindo a todo momento, precisamos desenvolver formas críticas e éticas de lidar com esses fenômenos, e isso só é possível com conhecimento científico e diálogo com a sociedade.


B.U - Entendo que o Laboratório faz parte de uma linha de pesquisa do PPGPsi. A população em geral tem acesso a algum tipo de serviço oferecido?

TM - Atualmente, o laboratório é voltado prioritariamente para atividades de pesquisa, extensão e formação de estudantes em nível de graduação e pós-graduação. Além disso, temos buscado parcerias para desenvolver ações que dialoguem com escolas, organizações sociais e outras instituições interessadas em compreender melhor os efeitos da tecnologia na vida cotidiana.

B.U – Como tem sido o apoio institucional a essa linha de pesquisa?

TM - Gostaria apenas de destacar que a criação do laboratório e a realização da I Jornada foram possíveis graças ao apoio institucional da UNICAP e ao trabalho coletivo de estudantes, professores e colaboradores de diferentes áreas. A ciberpsicologia é um campo em expansão no Brasil e no mundo, e nossa universidade tem demonstrado sensibilidade e protagonismo ao investir nessa temática. Seguimos abertos a parcerias, colaborações e à construção de novos projetos que fortaleçam ainda mais esse campo tão necessário para os tempos que vivemos.

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