Encerramento do Colóquio de História da Unicap destaca atualidade da Revolta da Chibata nos conceitos de golpe, revoltas e democracia - Unicap

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Encerramento do Colóquio de História da Unicap destaca atualidade da Revolta da Chibata nos conceitos de golpe, revoltas e democracia

Publicado Por: Daniel França

O auditório da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) foi palco da palestra de encerramento do colóquio promovido pela licenciatura e pelo mestrado profissional em História. Com o tema “Democracias, golpes e revoluções: conexões históricas”, o evento teve como destaque a conferência do professor Dr. Álvaro Pereira do Nascimento, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Especialista em história social e das relações raciais, o professor fez uma reflexão sobre a Revolta da Chibata, ocorrida em 1910, e sua relevância para a compreensão das lutas sociais e raciais no Brasil.

Entre os dias 22 e 27 de novembro de 1910, a Revolta da Chibata marcou a história do Brasil como um dos primeiros movimentos de resistência de trabalhadores negros. Liderados por João Cândido Felisberto, marinheiros insatisfeitos com o uso de castigos corporais na Marinha Brasileira — prática remanescente do período escravocrata — tomaram o controle de navios da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, e exigiram o fim dessas punições. A ameaça de bombardear a então capital federal forçou o governo do presidente Hermes da Fonseca a negociar, prometendo a abolição dos castigos físicos e a concessão de anistia aos envolvidos. No entanto, o compromisso foi quebrado, e os marinheiros enfrentaram uma repressão severa, com prisões e execuções.

Durante sua palestra, o professor Álvaro Pereira destacou que a Revolta da Chibata possui implicações que vão além da luta contra o autoritarismo militar, tocando em questões de justiça racial que ainda reverberam. “A inserção do líder desse movimento, João Cândido, no Livro dos Heróis Nacionais reacendeu uma discussão que se arrasta há 114 anos”, observou o professor. “A Marinha de Guerra é totalmente contrária a isso, inclusive com a oposição do atual comandante da Marinha”, completou.


O professor ressaltou a resistência que o reconhecimento de João Cândido como herói nacional encontra nas Forças Armadas, atribuída, em grande parte, ao preconceito racial. Segundo ele, “essa resistência em reconhecer um marinheiro negro e de origem humilde como herói se baseia em justificativas que vão desde a quebra de hierarquia militar até acusações de que o movimento resultou em mortes civis, como no caso de duas crianças”. No entanto, Pereira foi incisivo ao lembrar que, historicamente, oficiais da Marinha também quebraram a hierarquia em diversos contextos, inclusive em golpes de Estado, sem sofrer sanções semelhantes.

O Estado e os canais de diálogo - Para o professor, a Revolta da Chibata serve de exemplo sobre a importância de canais de comunicação entre o Estado e a sociedade civil. “O Estado deve garantir canais de comunicação com a sociedade para que a população seja ouvida e para evitar a necessidade de explosões sociais, como a que ocorreu em 1910”, afirmou. Ele enfatizou que, embora o Brasil tenha avançado na criação de espaços para a participação popular, a fragilidade desses canais se evidencia quando líderes políticos bloqueiam o diálogo social.

Álvaro Pereira também destacou o perigo de retrocessos democráticos: “Se um governante fecha canais de diálogo, é como aumentar a pressão de uma panela prestes a explodir. E quando explode, não sabemos até onde as consequências podem chegar”. A reflexão serve de alerta sobre a importância da manutenção de um Estado democrático que realmente represente a população, valorizando o papel do diálogo como base para o contrato social.

Conceitos históricos para o debate contemporâneo - A fala do professor também teve um cunho didático, convidando os estudantes a explorar conceitos como golpe, revolta, revolução e democracia. Esses elementos foram centrais para que o público compreendesse as particularidades da Revolta da Chibata e seu papel na construção de uma consciência coletiva sobre direitos e cidadania.

Pereira argumentou que a Revolta da Chibata deve ser vista sob a ótica de uma “revolta reformista” e não uma revolução em si. “João Cândido e os marinheiros não buscavam transformar radicalmente a sociedade brasileira, mas sim conquistar dignidade e justiça nas condições de trabalho dentro da Marinha”, explicou. Contudo, ele ressaltou que, mesmo com um objetivo específico e moderado, a reação desproporcional do governo marcou a memória coletiva dos brasileiros sobre os limites do Estado autoritário.

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