Cidade das Culturas Populares: projeto da Unicap e comunidade propõe ressignificação urbana e ecológica para o bairro de São José - Unicap

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Cidade das Culturas Populares: projeto da Unicap e comunidade propõe ressignificação urbana e ecológica para o bairro de São José

Publicado Por: Daniel França

No coração do Recife, entre galpões ferroviários esquecidos e memórias soterradas pela especulação imobiliária, um projeto desenvolvido por estudantes do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica de Pernambuco propõe uma nova encruzilhada para o futuro da cidade. Aliando cultura popular, ecologia urbana e justiça climática, a iniciativa Cidade das Culturas Populares: encruzilhada insurgente transforma ruínas em possibilidades e reimagina o bairro de São José como um território de resistência, celebração e pertencimento. A proposta integra o conceito de infraestrutura verde como base de resiliência urbana, incorporando a ancestralidade como um eixo estruturante de uma arquitetura decolonial que escuta, aprende e constrói com a comunidade.

A ideia acaba de ganhar reconhecimento internacional: o trabalho da Unicap foi um dos 30 selecionados entre mais de 130 inscritos no Concurso Internacional de Escolas de Arquitetura e Urbanismo e agora integra a exibição oficial da 14ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, na Oca do Parque Ibirapuera, a partir de 18 de setembro. Essa é a terceira fase de um percurso que começou com audiências públicas na Câmara dos Vereadores do Recife e reuniões com o Recentro e o Iphan, passando pela vitória no concurso de Práticas Inovadoras promovido pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco (CAU-PE). A demanda partiu da Liga das Culturas Populares, que reivindica um espaço com infraestrutura permanente para ensaios, apresentações e a transmissão de saberes tradicionais — algo semelhante ao sambódromo de São Paulo, mas com alma recifense.

A proposta virou tema de estudos na disciplina de Introdução ao Pensamento Decolonial em Arquitetura, ministrada pelos professores Lula Marcondes e Dyego Digean Domenico. Um projeto construído a muitas mãos — com oficinas de escuta, reuniões públicas e diálogo contínuo com a comunidade. “Esse projeto é fruto da comunidade local”, resume o professor Dyego. “A comunidade se organiza, se mobiliza politicamente, civilmente, para buscar alternativas e parceiros que poderiam desenhar um pouco do sonho que eles já tinham construído. Essa experiência demonstra a força da extensão da Unicap, não só pela questão social, de fazer junto com a comunidade, mas de nossos alunos estarem atuando na solução de problemas reais”, analisa.


A proposta contempla a ocupação dos galpões desativados no entorno do Parque Ferroviário Cinco Pontas, numa área que antecede o futuro Parque da Resistência Leonardo Cisneiros. Os espaços antes abandonados serão transformados em centros vivos de cultura, formação e celebração. O antigo armazém se torna o Armazém Multiuso, abrigando museu, polo gastronômico e espaço de vendas. As Oficinas Ferroviárias são adaptadas para confecção de fantasias e adereços. O galpão da antiga estação vira o Centro de Formação das Culturas Populares, com foco na transmissão de saberes para as novas gerações. Já o Galpão Cultural terá como entrada um átrio central verde, abraçado por espécies nativas, criando um ambiente de acolhimento e pertencimento desde a chegada.

A concepção dos espaços respeita os princípios da sustentabilidade e do reuso adaptativo do patrimônio industrial. As intervenções são mínimas, reversíveis e valorizam elementos existentes como os trilhos (que serão preservados sob piso envidraçado), os cobogós e os tijolos que garantem ventilação natural. A cobertura foi reinterpretada com estrutura metálica leve, incorporando telhas translúcidas PET, telhas cerâmicas e teto jardim, além de placas solares fotovoltaicas. A vegetação existente será mantida e enriquecida com espécies do bioma local.

“Como foi também parte de um processo participativo, foi muito importante para entender outras perspectivas, principalmente da nossa cultura popular, dos representantes da nossa cultura popular”, relata a arquiteta Iara Cavalcanti, egressa da Unicap e uma das participantes do projeto. “Esse foi um processo que começou no passado, em que tivemos várias escutas e que agora, nesse semestre, tivemos essa oportunidade de expressá-las e expô-las para o mundo”.


Essa escuta ativa é a essência da proposta. “Então acho que esse projeto é muito sobre como a gente, enquanto universidade, pode devolver à sociedade, mas muito sobre como a gente, arquiteto, pode ouvi-las para poder melhorar a vida dessas pessoas”, pontua um estudante participante. Ao todo, 20 pessoas estiveram diretamente envolvidas na construção da proposta — entre oito professores, nove estudantes e dois técnicos da Escola de Comunicação e Tecnologia da Unicap, que contribuíram com a produção do vídeo enviado para a Bienal.


“O maior desafio para mim foi entender como aplicar as ideias orientadas pelos professores”, relata Taisa Cardoso de Brito, aluna do 8º período. “Eles tinham uma visão clara na cabeça deles, mas para mim, que estou no processo de aprendizagem, foi algo desafiador e enriquecedor. A gente pôde trabalhar em equipe e fazer com que a coisa andasse”.

O projeto propõe uma alternativa de cidade viva, porosa, enraizada nas memórias e aberta ao futuro. A resiliência climática aqui se constrói com saberes afro-indígenas, com danças e tambores, com a conexão espiritual e ecológica com as águas da Bacia do Pina, materializada no Eixo Ancestral — um corredor simbólico que prolonga a Avenida Dantas Barreto, ligando o bairro de São José à Bacia do Pina, adornado com totens e um baobá sagrado, inspirado na força dos orixás. Daí o título “Encruzilhada Insurgente”.


“O conceito tem uma relação muito forte com a questão climática”, explica o professor Rafael Rangel. “Então a gente foi buscar na cultura popular um instrumento de resiliência, permitindo que a proposta englobasse os aspectos arquitetônicos vinculados à estrutura verde, à sustentabilidade e às demandas dos brincantes da região que desejavam ter um espaço permanente para enaltecer a nossa cultura popular”.



 

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