Justiça Climática e Responsabilidade Ambiental são destaques em mesa redonda no XX Congresso Nacional da Anpof - Unicap

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Justiça Climática e Responsabilidade Ambiental são destaques em mesa redonda no XX Congresso Nacional da Anpof

Publicado Por: Daniel França

 

Na tarde desta terça-feira, o auditório G2 da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) recebeu a mesa redonda intitulada Justiça Climática e Responsabilidade Ambiental: um desafio para a filosofia, evento que integrou a programação do XX Congresso Nacional da Associação de Pós-graduação em Filosofia (Anpof). O debate trouxe reflexões sobre a relação entre as virtudes individuais, as responsabilidades coletivas e a crise ecológica, abordando temas que variaram desde perspectivas filosóficas sobre a natureza até o impacto do capitalismo nas mudanças climáticas.


Denis Coitinho, professor da Unisinos, abriu o debate defendendo a importância das virtudes públicas e privadas no enfrentamento das crises ambientais. Ele destacou que a humildade e a frugalidade, virtudes tradicionalmente consideradas individuais, podem contribuir para a sustentabilidade ambiental se aplicadas em uma escala coletiva. Coitinho argumentou que, ao enxergar a natureza não como um recurso a ser explorado, mas como algo a ser preservado, as sociedades podem adotar modelos econômicos mais sustentáveis. "A justiça, enquanto virtude pública, é fundamental para orientar políticas públicas que protejam as populações mais vulneráveis, que são as mais impactadas pelas mudanças climáticas", disse ele, citando a necessidade de pensar na responsabilidade coletiva para garantir o bem-estar das gerações futuras.

A seguir, Moysés Pinto Neto, da Universidade Federal de Santa Catarina, trouxe uma visão crítica sobre as influências do monoteísmo e da filosofia ocidental na relação com a natureza. Pinto Neto explorou a diferença entre as cosmovisões indígenas e o pensamento ocidental, enfatizando que, nos mundos indígenas, a multiplicidade de poderes e agências, tanto humanos quanto espirituais, coexistem em uma dinâmica complexa, diferente da visão hegemônica que busca subordinar a natureza ao controle humano. “Os mundos indígenas não operam sob a lógica de uma verdade universal e imutável, mas sim em uma rede de interações e negociações com os espíritos ancestrais, algo que difere profundamente das concepções monoteístas”, afirmou o professor.

Nuno Castanheira, da Universidade Federal de Pelotas, focou em como o capitalismo moderno transformou a noção de desenvolvimento sustentável, muitas vezes distorcendo a ideia de preservação ambiental. Castanheira alertou sobre a militarização da natureza e a instrumentalização de conceitos como "serviços ecossistêmicos", que visam quantificar e capitalizar os recursos naturais em benefício do mercado, frequentemente em detrimento das comunidades mais pobres e tradicionais. "Essa transformação do conceito de desenvolvimento sustentável serve, na prática, para justificar a exploração contínua da natureza, resultando em mais desigualdade e pobreza", afirmou.

Fechando o debate, Nythamar de Oliveira, da PUC-RS, ressaltou que a crise ecológica não pode ser dissociada da responsabilidade humana coletiva. Ele relembrou o pensamento da filósofa Hannah Arendt sobre a importância de distinguir culpa e responsabilidade, propondo que, enquanto poucos são culpados diretos pelas mudanças climáticas, todos temos responsabilidade pelo impacto ambiental. "A justiça climática exige que todos nos responsabilizemos pelos desequilíbrios causados ao meio ambiente, reconhecendo nosso papel na preservação do planeta", concluiu Oliveira.


Cecília Cavalieri, professora da PUC-RJ, destacou a importância de novas abordagens filosóficas no enfrentamento dos desafios ambientais. Ela explicou que sua contribuição para o congresso viria com a provocação de um “Manifesto pelos Baixos Estudos”, um conceito que ela interpreta no sentido de se conectar com a terra, com a vida em suas formas mais elementares. "Esse chão é terra, secreção, neném, bicho, nota de rodapé, minério, matéria da vida", refletiu.

Ao questionar por que a Justiça Climática e a Responsabilidade Ambiental são desafios para a Filosofia, Cavalieri se baseou em um texto da professora Déborah Danowski, da PUC-RJ, que lançou luz sobre a responsabilidade histórica da filosofia acadêmica em sustentar preconceitos e formas de opressão. Para ela, o desafio consiste em “quebrar o feitiço de magia branca” que sustenta um sujeito transcendental e universal e abrir caminho para uma filosofia que se faz “com entidades imanentes, vinculadas, emaranhadas e localizadas em seus territórios xamânicos”.

Cavalieri ressaltou que a criação da linha de pesquisa "Filosofia e a Questão Ambiental", liderada por Danowski, foi um marco na transição da filosofia moderna para o pensamento ecológico. "Transição é revolução", afirmou, enfatizando que a entrada da Terra e do colapso ecológico global no centro das preocupações filosóficas exige uma filosofia interseccional e ecossexual, que se vincule à vida para não desaparecer.


A professora também compartilhou algumas das experiências do coletivo de pesquisa Terranias, que ela integra, com cartazes de marchas pelo clima que afirmam mensagens como "ABAIXO O CAPITALISMO PETROSSEXORRACIAL" e "AGRO É ESTRAGO". Essas palavras, segundo Cavalieri, são um convite a sonhar "outros futuros possíveis para além das tragédias em curso" e a construir uma política que não busque restaurar um equilíbrio perdido, mas sim abraçar a transformação radical que o planeta exige.

A mesa redonda foi um dos pontos altos do Congresso, propondo um diálogo profundo e interdisciplinar sobre como a filosofia pode contribuir para enfrentar os desafios ambientais e sociais que ameaçam o futuro do planeta. A discussão deixou clara a urgência de se repensar o modelo de desenvolvimento vigente, a fim de promover uma justiça climática que contemple tanto o presente quanto as futuras gerações. 

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