Pesquisadoras da Unicap participam do 3º Encontro Continental de Estudos Afro-Latino-Americanos – Alari 2024

No próximo mês de julho um time de pesquisadoras da Universidade Católica de Pernambuco – Lídia Rafaela, Valdenice Raimundo e Carla Teixeira - estará participando, na Universidade de São Paulo (USP), do 3º Encontro Continental de Estudos Afro-Latino-Americanos - ALARI 2024. O evento é uma promoção do University Consortium for Afro-Latin American Studies, em colaboração com a Universidade de São Paulo e o Institute for Afro-Latin American Research do Hutchins Center for African and Afro-American Research da Universidade de Harvard. Reúne professores, alunos, pesquisadores, acadêmicos, ativistas, artistas e
formuladores de políticas públicas que trabalham com comunidades afrodescendentes na América Latina para promover o campo acadêmico dos Estudos Afro-Latino-Americanos, por meio de diálogos entre os atores envolvidos na produção e implementação de agendas acadêmicas e de justiça racial na América Latina.

As professoras e pesquisadoras estarão no Painel Cultura Negra entre Memória, Identidades e Resistência, proposto em dezembro de 2023 por Lídia Santos, com a colaboração ainda do professor da Universidade Federal do Acre, Paulo Almeida. De acordo com Lídia, professora do curso de História e do Mestrado Profissional em História, o painel propõe a reflexão interdisciplinar sobre experiências e práticas de vivência da cultura negra no trânsito cultural do Atlântico Negro em diferentes temporalidades:  Oitocentos, pós-abolição e tempo presente, contribuindo assim para a afirmação do papel da cultura na diversidade e pluralidade da experiência negra no Brasil.

“Sejam festejando, criando peças, poesias ou jogos, as pessoas negras fizeram da cultura elemento de resistência e definição de suas identidades, ainda que muitas vezes tenham sido silenciadas, inviabilizadas e discriminadas”, destaca a pesquisadora. “Irei enfatizar a participação de escravizados e libertos nas festas de Pernambuco oitocentista através da análise da festa negra no São João pernambucano. Analiso um número da coluna Lendas e tradições populares do Norte, de Franklin Távora, publicada no periódico carioca Ilustração Brasileira, relacionando a festividade a uma lenda urbana envolvendo práticas religiosas”.

A pró-reitora de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação e professora do curso de Serviço Social e do Mestrado e Doutorado em Ciências da Religião, Valdenice Raimundo, traz para o painel a cultura e trajetória na poesia de duas mulheres, a africana Abena Busia e a pernambucana Odailta Alves. “A poesia pode ser um instrumento de luta e de prazer, de denúncia e de acolhida, utilizado na África, no Brasil e em qualquer lugar do mundo onde o sonho de libertação for acalentado”, comenta Valdenice Raimundo. “Vou compartilhar o que as mulheres negras e feministas trazem em sua poesia. Tanto Abena quanto Odailta debatem a questão das agressões, das violências, bem como a luta e a resistência”.

Já a professora do curso de Jornalismo e do Mestrado em Indústrias Criativas, Carla Teixeira, também coordenadora da Pós-Graduação Stricto Sensu, analisa os usos do Jogo Contos de Ifás como uma ferramenta de combate à intolerância religiosa pelo Centro Cultural Coco de Umbigada. “O jogo cria espaços de conexão por meio de laboratórios de inovação em escolas, terreiros e centros culturais. A proposta envolve reconstruir os modos de viver sob o ponto de vista da matriz afro-brasileira e combater o extermínio da juventude negra através de metodologias ágeis de desenvolvimento de jogos sobre o panteão africano”. Carla Teixeira ressalta ainda a importância de estar no ALARI 2024. “Vamos ter a oportunidade de mostrar a qualidade das pesquisas desenvolvidas na Unicap e ampliar o diálogo com pesquisadores nacionais e internacionais, na perspectiva dos Estudos Afro-Latino-Americanos. O trabalho trata do combate ao racismo mostrando a cultura pernambucana por meio de um centro cultural de matriz afro-indígena”.

O pesquisador da Universidade Federal do Acre, Paulo Almeida fala sobre o teatro de revista. “É possível percebê-lo como uma arena capaz de leituras plurais do que se via no palco. O resultado desse caráter polissêmico seria o debate de temas do momento por uma plateia diversificada. Um dos que serão abordados neste trabalho é a questão racial. A partir da análise da revista “250 contos” e da trajetória da atriz negra Ascendina dos Santos, coloco no centro da investigação as representações da população negra nos palcos e a recriação de estereótipos, que reforçavam o racismo em meio a um divulgado imaginário sobre a harmonia racial no Brasil.

A doutoranda Lilian Alves Machado, do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica da Unicap, irá participar do painel Juventudes Y Adolescencias Afectadas. Lilian apresenta o trabalho “Escrevivências da violência sexual contra meninas negras”. “Assentada na escrevivência de Conceição Evaristo como possibilidade de inversão metodológica – por mim nomeada de odumetá – para produzirmos conhecimento a partir de nossas experiências compartilhadas, como mulheres negras, bem como fazendo das rodas de conversa um espaço de produção de dados, mas, antes, de cuidado. A escuta de mulheres negras cujas existências foram dilaceradas pela violência sexual, ainda na infância, é ato político e transformativo das realidades que corroem nossas dignidades, dia após dia”. Lilian ainda comenta que estar em um evento dessa magnitude é poder difundir tais realidades e refletir sobre os impactos e os efeitos dessa violência-crime em suas/nossas subjetividades. “Assim, levamos adiante o compromisso por transformação das questões de nosso tempo, a partir da ciência que fazemos”, finaliza.

E o Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Unicap vai ter outra representante no evento internacional. A egressa do Doutorado em Psicologia, a psicóloga e pesquisadora Maria Conceição Costa, também estará no Alari, como coordenadora do Painel Educação. A psicóloga ressalta a importância do evento e do painel, ao observar que existe uma lacuna em relação a autores e autoras negras na psicologia brasileira. “A formação deveria preparar os profissionais para compreender o racismo como um condicionante na produção de uma sociedade desigual. A partir desta formação, profissionais e pesquisadores poderão ajudar a debelar o racismo brasileiro, um dos mais sofisticados do mundo”, afirma. Conceição apresenta ainda o trabalho “Por uma formação antirracista em Psicologia: Experiências em letramento racial”.