Ela resolveu cursar Jornalismo na Unicap aos 90 anos!

Se tem alguém que leva a sério a máxima de que ‘universidade não tem idade’, é dona Dorothi Lira da Silva. No alto dos seus 90 anos, ela resolveu cursar Jornalismo na Católica e desde então é o xodó da turma do 1º período. Dorothi concluiu o curso de Direito em uma instituição de Olinda no fim do ano passado e já emendou na busca da sua quinta formação. Mãe de seis filhos, avó de seis netos e quatro bisnetos, ela conta com o apoio da família. “Eles acham que quando estou na escola fico melhor, fico mais alegre”.

A relação com o jornalismo começou décadas antes de frequentar as salas de aula da Católica. Aos 14 anos, Dorothi lia os artigos do Diario de Pernambuco para o pai, que era analfabeto. Quiseram as circunstâncias que ela enveredasse pela Educação. Uma trajetória que começou em Palmares, na Mata Sul do Estado, sua terra natal, quando ela atuou como professora de matemática depois de se formar em ‘Ciências Físicas e Biológicas’.

Dorothi foi supervisora do Colégio Municipal Augusto Pinto Ribeiro e diretora da Escola Estadual Ascenso Ferreira. A permanência na rede estadual estava ligada à necessidade de ter formação em pedagogia. “Só permanecia no concurso do Estado quem tivesse Pedagogia. Aí eu fui para Caruaru”, conta Dorothi ao relembrar que saía de Palmares todas as noites para a Faculdade de Ciências, Letras e Filosofia (Fafica). “Passei poucas e boas. Meu marido não gostava, mas eu ia mesmo assim”. Isso nos idos de 1977, já mãe de seis. “Eu era uma galinha de pinto, cuidava muito dos meus filhos”, lembra com orgulho a brincalhona Dorothi.

A carreira ainda contemplou uma formação em Ensino Religioso, exigência da Secretaria de Educação nos anos 1980. Ao se aposentar, em 1994, ela se mudou com a família para Olinda. A esta altura, com os filhos casados, Dorothi adiou planos. Influenciada por três filhos advogados, fez Direito.

Como qualquer estudante, ela tem uma rotina movimentada tendo que conciliar vida pessoal com as atividades do curso de Jornalismo. “Lá em casa tem quem ajude, mas eu cozinho. A cozinha é minha”. Nem todo dia dá tempo de almoçar em casa. O deslocamento até a Unicap é feito com ajuda dos netos. “Às vezes eles ficam na Universidade me esperando”.

Esse clima de companheirismo e empatia se vê também em sala de aula. São os colegas de 17, 18 anos que ajudam a localizar livros na Biblioteca, a usar a plataforma virtual Teams e a manusear computadores. A turma imprime os slides das aulas. Tudo para que Dorothi cumpra seu papel de aluna assídua e dedicada. “Tem hora que eu olho e parece que eles são meus alunos”, comenta.

A troca entre gerações é motivo de orgulho na turma. “Eu acho que é muito enriquecedor ter uma pessoa com tanta vitalidade, tanta vontade assim de aprender do nosso lado. A gente acaba aprendendo muita coisa sobre a vida”, pontua a aluna Rebeca Lamin. E Dorothi dá um recado à turma dos 60+. “Jamais deveriam ficar em casa. A gente enfrenta dificuldades, mas eu acho muito bom”.