Escola de Comunicação da Unicap promove debate sobre os impactos da Inteligência Artificial

Na noite desta terça-feira (23), a Escola de Comunicação da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), por meio do Mestrado em Indústrias Criativas, promoveu um debate intitulado "Quem tem medo da Inteligência Artificial?" O evento, realizado no auditório Dom Helder, reuniu professores, estudantes e especialistas da área para discutir os impactos da Inteligência Artificial no mercado de trabalho, regulação, vida social e criatividade.

Essas transformações estão se tornando uma realidade presente que vem se consolidando ao longo dos últimos 20 anos. Lula Pinto, coordenador do Mestrado em Indústrias Criativas e doutor em Sociologia pela UFPE, fez a abertura do evento, dando as boas-vindas ao público e destacando a história da Inteligência Artificial.

“A sociedade foi tomada por um conjunto de funcionalidades e ferramentas nos últimos meses, mas a história da IA começou a ser formulada ainda nos anos de 1950 com os seus primeiros experimentos”, afirmou.

Além de Lula Pinto, o debate contou com a participação de Filipe Calegário, doutor e professor de Ciência da Computação do Centro de Informática (CIn) da UFPE, que abordou a IA generativa e a importância de compreender os riscos e oportunidades envolvidos nesse campo. Calegário enfatizou “a necessidade de não atribuir personalidade a algo que não a possui” e discutiu sobre a percepção de classificação de eventos e a criação de conteúdo através da IA.

Citando o filósofo israelense Yuval Harari, ele chamou a atenção para o fato de que, “pela primeira vez, estamos dando autonomia a um artefato criado por nós mesmos. Ele nem usa o termo Inteligência Artificial e sim Inteligência Alienígena porque ela é capaz de se adaptar”.

Apesar do cuidado, Calegário enfatizou que não é preciso ter medo ou lutar contra essas novas ferramentas. Mostrando experimentos usados em projetos de disciplinas do CIn, ele defendeu a importância de os usuários testar essas tecnologias com senso crítico. “É preciso mais experimentos, menos medo. Mais cooperação e menos competição”.  

Outra participante do debate foi Raquel Saraiva, fundadora Instituto de pesquisa em Direito e Tecnologia do Recife (IP.Rec), advogada formada na Unicap e mestra e doutoranda em Ciência da Computação. Saraiva destacou o uso da IA nas interações cotidianas, citando como exemplos as recomendações personalizadas da Netflix baseadas no histórico de visualizações dos usuários.

Ela explicou que os algoritmos são instruções matemáticas utilizadas pelos computadores para processar informações. Raquel ressaltou que a IA depende de grandes quantidades de dados e que “não existe uma IA geral que seja capaz de realizar todas as tarefas. As IAs são desenvolvidas de maneira específica, com propósitos definidos”. Além disso, foram discutidos os enviesamentos presentes nos algoritmos e a importância de construir conjuntos de dados cuidadosos.

Raquel fez um alerta para o uso de IA no reconhecimento facial na segurança pública. “Há erros significativos ao identificar pessoas negras e trans”, disse ela ao mencionar a campanha capitaneada pelo IP.Rec “Sem Câmera na Minha Cara”, que se posiciona contra o uso dessa tecnologia no Recife.

Outro ponto que, segundo ela, requer atenção é o ChatGPT. A especialista se mostrou cética quanto ao uso de dados pessoais do usuário pela empresa que desenvolveu a ferramenta.

“Na Itália, ele foi bloqueado porque fez uso dos dados pessoais para compor o banco de dados da empresa sem consentimento do usuário e sem respeitar essa proteção”, frisou.

O debate terminou após a participação do público com perguntas aos convidados.