Nossa História

Nascida no coração da Igreja no centro do Recife: Universidade Católica de Pernambuco, educação superior católica de qualidade desde 1943

Newton Darwin de Andrade Cabral

RESUMO

A Universidade Católica de Pernambuco originou-se de uma conjugação de esforços empreendida na adesão a uma ação da Igreja Católica que, sobretudo nas décadas de 1940 e 1950, incentivava a criação de Faculdades e Universidades Católicas, devidamente sintonizadas com as perspectivas eclesiais para aquelas instituições. A ação foi concretamente assumida, no caso estudado, pelos membros da Companhia de Jesus e por seus colaboradores. A trajetória da UNICAP teve início com a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Manoel da Nóbrega, em 18 de abril de 1943, e sua formalização como universidade se deu em 27 de setembro de 1951, a partir da agregação de unidades preexistentes. Uma tão modesta origem, não impediu seu crescimento. Este artigo objetiva reconstituir aspectos primordiais da caminhada encetada e, nela, destacar pontos que marcaram a sua evolução e os compromissos que vem assumindo com as sociedades recifense, pernambucana e nordestina, tendo como viés de análise a sua atuação enquanto Instituição de Ensino Superior e a importância que foi conquistando. Para escrevê-lo, o autor fez revisão da literatura e pesquisa nos arquivos da própria UNICAP, da Vice-província do Brasil Setentrional da Companhia de Jesus, e no Arquivo Púbico Estadual. A análise empreendida permite afirmar que a Universidade Católica de Pernambuco não nasceu de um decreto governamental: ela é fruto de um projeto educativo da Igreja e da Companhia de Jesus que entusiasmou os que a sonharam outrora, conduziram-na durante sete décadas e a compõem atualmente.

Palavras-chave: Igreja; Educação superior católica; Modelos eclesiais.

INTRODUÇÃO

De maneira muito conscienciosa, levem-se em conta [nas universidades católicas] novos problemas e pesquisas do progresso atual, para chegar-se a perceber com mais profundeza como a fé e a razão colaboram para uma só verdade. […] Assim se realiza uma como que pública, estável e universal presença da mentalidade cristã em todo o esforço de promover cultura mais profunda. Os alunos desses institutos se formem de fato como homens de grande saber, preparados para enfrentarem tarefas de maior responsabilidade na sociedade e para serem também no mundo testemunhas da fé.

Declaração Gravissimum Educationis, nº 10

Quando à frente da Arquidiocese de Olinda e Recife, Dom Luiz Raimundo da Silva Brito concedeu uma entrevista ao jornal “A República”, em 1º de dezembro de 1912, defendendo a criação de uma Universidade Católica no Recife. Nela, o prelado justificou por que a capital de Pernambuco:

Desde que bispo eleito de Pernambuco, para aqui cheguei, comprehendi immediatamente que o Recife seria em curto espaço de tempo, o centro de attração dos educandos do Norte.

A grande extensão do Brazil e a privilegiada situação geográfica da cidade, faziam-me crer na verdade daquelle asserto, máxime porque a ascendência cultural de Pernambuco sobre os demais Estados do Norte é facto inconteste. (BRITO apud PEREIRA, 1983, p. 13).

Seu sucessor, Dom Sebastião Leme, em Carta Pastoral na qual saudava os diocesanos, lamentou a existência de uma maioria de brasileiros considerando-se católica, sem ter, no entanto, influência proporcional no governo, além de ter-se mostrado insatisfeito com a qualidade da educação religiosa ministrada:

Foi com alvoroço que nos chegou ao conhecimento a resolução tomada pelos Senhores Arcebispos e Bispos das Províncias Eclesiásticas Setentrionais do Brasil, quando reunidos na Bahia sob a presidência do venerando e preclaro Sr. Arcebispo Primaz, acordaram em fundar na cidade do Recife uma Universidade Católica.

Supérfluo julgamos dizer que, da nossa parte, envidaremos todo esforço para secundar o voto e propósito dos nossos Veneráveis Irmãos no Episcopado.

Será mais uma glória para a nossa ilustre Sede Arquiepiscopal o ressuscitar daqueles tempos em que, ao lado das catedrais, se erguiam as mais respeitadas universidades. Quem nos dera transplantar para o Recife as relíquias preciosas da Universidade de Louvain! (CINTRA, 1916, p. 111-112).

Outras repercussões foram registradas acerca da ideia de Universidade Católica, inclusive por parte de intelectuais leigos (CABRAL, 2009, p. 26-30). As posições dos dois epíscopos foram destacadas pelo fato de eles ocuparem a Arquidiocese local e por fazerem a explicitação de uma preferência pela cidade do Recife, além de ambos mencionarem ideias veiculadas e/ou resoluções tomadas em reuniões de parte do episcopado. Elas objetivam destacar, sobretudo, que, no conjunto das circunstâncias nas quais surgiu a Católica de Pernambuco, estava uma expectativa reiteradamente anunciada pelos bispos de Olinda e Recife.

TRAJETÓRIA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO

Os anseios manifestados tanto pelos leigos quanto pela hierarquia eclesial não caíram no vazio. Realizações foram acontecendo em diversas partes do Brasil. No âmbito pernambucano, desde 1827, esteve presente a Faculdade de Direito e, durante as primeiras décadas do século XX, houve a fundação de várias Faculdades e Institutos (AZEVEDO, 1976, p. 6). Por exemplo, para citar iniciativas da Igreja, na segunda década do século XX, a partir de esforços da Ordem Beneditina, foi fundada a Escola Superior de Agronomia e Veterinária (VASCONCELOS, 1950, p. 1). Em 13 de março de 1941, foi inaugurada a Faculdade de Filosofia do Recife – FAFIRE –, iniciativa das Irmãs Doroteias. Essa Faculdade estava voltada exclusivamente para o sexo feminino (VASCONCELOS, 1953, p. 2).

O desejo de Dom Leme, de ver criada uma Universidade Católica no Recife, não se concretizou sob sua orientação. Todavia, antes de ser transferido, além de ter estimulado as Associações Católicas de Moços, ele convidou os Jesuítas para voltarem a trabalhar, no campo educativo, no Recife; vendeu-lhes, então, o Palácio da Soledade, antiga residência episcopal. O Palácio passou a abrigar o Colégio Nóbrega, fundado em 1917, que se tornou o centro da continuidade do trabalho educativo dos Jesuítas em Pernambuco (AZEVEDO, 1976, p. 7-9). Tal venda pode indicar o desejo de Dom Leme viabilizar a sonhada Universidade Católica que, naquele imóvel, poderia instalar-se, ao menos inicialmente.

Objetivando prosseguir com o apostolado educacional junto aos alunos formados pelo Colégio Nóbrega, sobretudo, preocuparam-se os Jesuítas com a formação espiritual dos acadêmicos, trabalhando, dessa forma, junto às lideranças católicas. Nessa tarefa, empenhou-se o Pe. Antonio Paulo Fernandes, SJ, que liderava o Movimento Acadêmico Católico (STRIEDER, 1985, p. 8-9), especialmente através da Congregação Mariana.

A partir do trabalho no Colégio Nóbrega, e já existindo a Faculdade de Filosofia para moças, pleitearam os Jesuítas, em sintonia com as aspirações existentes na Igreja do Brasil e também particularmente do Nordeste, através do Pe. Antonio dos Santos Abranches, SJ, a criação de outra Faculdade de Filosofia, destinada aos rapazes, com funcionamento previsto para a noite, de forma a atender aos jovens trabalhadores impedidos de frequentar as poucas instituições de ensino superior então existentes na cidade, que eram diurnas. Independente de gênero, é interessante destacar que, ainda hoje o turno da noite atende a um contingente expressivo de jovens trabalhadores.

O pleito tornou-se realidade a partir de 18 de abril de 1943, quando foi criada a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Manoel da Nóbrega. Autorizada pelo Decreto nº 12.042, de 23/03/1943, começou a funcionar com os cursos de Filosofia, Física, Matemática, Química, História e Geografia, Letras Clássicas, Letras Neolatinas. Alguns cursos, autorizados pelo mesmo decreto, posteriormente iniciaram suas atividades.

Sua incorporação à futura Universidade Federal de Pernambuco chegou a ser cogitada, em 1946. Embora o intento não tenha se concretizado, no decorrer das atividades, os Jesuítas receberam, do mantenedor – sem exigências de reparações financeiras – o título da Faculdade de Ciências Econômicas, que também funcionava desde 1943.

No Brasil, o Decreto 19.851, de 11 de abril de 1931, então vigente, regulamentava a constituição de novas Universidades; para tanto, exigia a existência de, no mínimo, três Faculdades: obrigatoriamente uma de Filosofia e outra de Direito, Engenharia ou Medicina; não havia determinações sobre a terceira.

Havendo as Faculdades de Filosofia e de Ciências Econômicas, para atender às exigências legais, iniciaram-se negociações com a Escola Politécnica de Pernambuco que, embora fundada em 1912, ainda não estava incorporada ao sistema universitário. As vantagens recíprocas, oriundas da agregação, ensejaram, por iniciativa tomada pela Politécnica (CABRAL, 1993, p. 54), numerosas reuniões que conduziram à fundação da Universidade Católica de Pernambuco, no dia 27 de setembro de 1951. Nascia a primeira universidade católica do Norte-Nordeste e a quarta do país, cuja equiparação foi concedida, pelo Decreto nº 30.417, de 18/01/1952.

Foram modestas as condições do seu nascimento, ocorrido a partir da agregação de faculdades pré-existentes. Além dessa evidência, a trajetória reconstituída neste artigo aponta para uma questão acerca da data em que teve início a sua trajetória. É possível concordar que, enquanto Universidade do ponto de vista formal, ela é de 1951 (27 de setembro). Porém, ainda que se entenda esse acento, não se pode desconsiderar a caminhada encetada a partir de 18 de abril de 1943, desde a criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Manoel da Nóbrega. Ela deve ser computada como integrante da vida da UNICAP, e não como apenas um embrião que se gestava. A adoção desse ângulo implica, então, afirmar que a Universidade Católica de Pernambuco completa, neste ano de 2013, 70 anos de serviços prestados à causa da educação superior católica.

A universidade representou uma continuidade cronológica e orgânica do que havia sido a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Manoel da Nóbrega, que, por sua vez, dava continuidade ao que fora a Congregação Mariana e ao que havia sido a Associação Desportiva Acadêmica (ADA), instituição vinculada ao Colégio Nóbrega e liderada pelo supracitado Pe. Antonio Fernandes, SJ. Cronologicamente, a universidade aproveitou o prestígio social por elas conquistado bem como o professorado da Faculdade. Já o cunho de continuidade orgânica pode ser percebido nos aspectos que caracterizavam o processo de romanização, que a Igreja no Brasil vivenciava quando a UNICAP vivia seus primeiros anos: as atividades anticomunistas; a vivência de uma espiritualidade centrada nos sacramentos; o culto de novas devoções com manifestações de verdadeiras paradas de fé, como as que aconteciam na Capela de Nossa Senhora de Fátima, do Colégio Nóbrega; a predominância de uma linha de pensamento tomista (CABRAL, 2013).

Inicialmente, muito pequena, a Universidade vivia uma atmosfera de proximidade entre seus membros e funcionava nas dependências do Colégio Nóbrega. Negociações conduziram à compra de terrenos de antiga associação desportiva – a ADA, já referida –, pertencente ao Colégio, o que ensejou o início da construção, lenta e contínua, dos prédios do campus. Em 1959, foi fundada a Faculdade de Direito, cujos alunos, em pouco tempo, passaram a constituir a maior parcela do corpo discente da instituição, fato que ainda perdura.

Em 1960, em meio a um contexto de mudanças, nos âmbitos da sociedade civil e da Igreja, a Universidade implantou três Institutos e aconteceu a agregação da Escola de Enfermagem Nossa Senhora das Graças; em 1961, foi implantado um curso autônomo, pioneiro no país – Jornalismo. Portanto, para a UNICAP, a década se iniciava com um conjunto grandioso: três faculdades, três Institutos, um Curso autônomo e duas Escolas agregadas.

Em 1961, a Universidade assumiu o patrimônio e a direção do Liceu de Artes e Ofícios, instituição com relevantes serviços, prestados a Pernambuco. A doação do Lyceu com o seu patrimônio foi realizada com a condição de que fosse assegurada a continuidade do ensino das artes e ofícios e a criação de novos cursos profissionais. Contando com grande valor histórico, sua sede própria, inaugurada em novembro de 1880, é um imponente prédio de estilo clássico, localizado na Praça da República.

A Universidade crescia, apesar de também sofrer perdas. Em fevereiro de 1967, a Escola de Enfermagem optou por desligar-se da UNICAP e, em outubro do mesmo ano, tomou a mesma iniciativa a agregada fundadora: a Escola Politécnica. Nos dois casos, não se concretizara, satisfatoriamente, a aquisição de verbas, através do sistema Universitário. Tais saídas sinalizaram a existência de solidez na universidade, pois esta continuou sua trajetória, sem alteração de rumos, com normalidade e constância.

Depois das desagregações, três eram as Faculdades que, respondendo às exigências do Decreto de 1931, garantiam a sustentação da UNICAP: Filosofia, Economia e Direito, uma vez que os Institutos existentes não funcionaram como unidades independentes. Nos anos sessenta, foram iniciados novos cursos, entre os quais os de Ciências Contábeis, Psicologia, Jornalismo, Engenharia Elétrica e Engenharia Mecânica.

Em 1968, a Universidade adquiriu o Colégio Arquidiocesano. Em suas dependências, foi instalado, a partir de 1970, o Colégio de Aplicação Pe. Abranches, extinto alguns anos depois.

A decretação do AI-5, no final de 1968, ocasionou uma sucessão de medidas de “fechamento” em diversas instituições, no país, e atingiu a UNICAP. Em sua estrutura administrativa, existia, naquela época, o cargo de Vice-reitor, criado em 1962, mas exercido, de fato, entre 1966 e 1971. Em julho de 1969, o então Vice-reitor substituía o titular e foi, alguns meses depois, efetivado. No universo católico brasileiro, pela primeira vez, um reitor leigo era nomeado para uma Universidade jesuíta.

No princípio de 1971, assumiu a Reitoria um sacerdote da Diocese do Crato (CE), que trabalhava na UNICAP há algum tempo. Embora o Brasil vivesse uma fase de crescimento, a primeira tarefa-desafio do novo reitor foi o enfrentamento de uma crise financeira que tomava dimensões, até antes, desconhecidas, na Universidade.

Os fatores principais da crise eram, de um lado, compromissos assumidos pela administração descentralizada e, do outro, a substancial redução na receita pública. No bojo da crise, a Universidade recebeu a visita de um Assessor Econômico do Padre Geral da Companhia de Jesus. Em tal visita, propôs-se uma reestruturação da UNICAP que conduzisse a uma centralização. A crise começou a ser superada quando se recorreu a um empréstimo bancário vultoso, resgatável em quatro anos.

Em conformidade com a Lei Educacional de 1971, procedeu-se, em 1972, à reestruturação orgânica das unidades fundamentais da UNICAP. Os Departamentos, que tinham sido iniciados em 1968, através de delegação de poderes, na Faculdade de Filosofia, foram, efetivamente, implantados, em 1970 e passaram a ser agrupados em quatro Centros: o de Teologia e Ciências Humanas (CTCH), o de Ciências Sociais (CCS), o de Tecnologia e Ciências Exatas (CTCE) e o de Educação (CE). Posteriormente, foi extinto o de Educação e o CTCE transformou-se em Centro de Ciências e Tecnologia (CCT). Também, em 1972, foram criadas três Pró-reitorias: a Acadêmica, a Administrativa e a Comunitária. As Pró-reitorias são as que, ainda hoje, existem e aos três Centros, foram, posteriormente, acrescentados os de Ciências Biológicas e da Saúde e o de Ciências Jurídicas. Também a estrutura de Departamentos foi desativada; atualmente funcionam Coordenações de Cursos.

Ainda nas mudanças de 1972, instituiu-se o sistema de créditos. No mesmo período de reformas, criou-se o Ciclo Básico, que tem continuidade. Sob a responsabilidade de uma Coordenação Geral, é vinculado à Pró-reitoria Acadêmica.

Ultrapassando dificuldades e em meio a elas, a Universidade dava sinais de expansão. Assim, nos anos setenta, foi inaugurada a Capela, a qual propiciou a existência, no próprio campus, de seu lugar privilegiado para a vivência de momentos mais fortes de oração e celebrações. No mesmo período, foi inaugurado mais um dos grandes blocos, o D, e iniciado outro de ainda maior porte, o G, além do R, menor, destinado à administração. Foram construídos novos laboratórios, em diversas áreas.

Naquela década, houve ampliação do número de cursos: iniciaram suas atividades os de Educação Moral e Cívica, Serviço Social, Turismo, Engenharia Química e Fonoaudiologia. Fazendo jus a sua adjetivação, a Católica passou a ministrar conteúdos de Teologia em todos os cursos; hoje, eles correspondem às disciplinas de Humanismo e Cidadania e Humanidade e Transcendência.

Para intensificar o relacionamento com a comunidade, criou-se, em 1974, a ASTEPI (Assessoria de Treinamento, Estágio, Pesquisa e Integração), vinculada ao Departamento de Ciências Jurídicas, atualmente, Centro de Ciências Jurídicas. Ainda hoje ela presta serviços de assessoria jurídica gratuita a pessoas comprovadamente carentes, em sua sede, no campus, e em núcleos existentes em bairros periféricos da cidade do Recife.

Em 1976, implantou-se uma Coordenação Geral de Pós-graduação, para administrar as Especializações. Na mesma linha, a Universidade era inserida, ao final da década, no Programa de Capacitação Docente, em convênio com a CAPES.

Em 1978, um jesuíta voltou a ocupar o posto maior da Universidade, após nove anos de ausência. O quadro nacional, então complexo, teve reflexos na vida da Universidade e a escalada inflacionária, rapidamente, veio a se tornar realidade internamente. Se antes, a prática instituída era a da anuidade, depois sucedida pela da semestralidade, rapidamente se passou à mensalidade. A delicada situação era reforçada pela constante diminuição das subvenções, recebidas de Brasília. Em 1969, por exemplo, o auxílio governamental totalizava 53% do total das receitas; em 1979, entretanto, ele representava apenas 8%. Queda tão abrupta colocava a Universidade em maior dependência para com as mensalidades dos alunos que, por sua vez, consideradas as carências da região, faziam esforços enormes para sobreviver às dificuldades do quadro nacional.

No princípio de 1984, uma lei aprovada na Câmara de Vereadores do Recife transformou um trecho da rua Bernardo Guimarães, entre as ruas Afonso Pena e General Simeão, em “rua de pedestre”. Tal modificação implicou duplo benefício: a redução do barulho que dificultava as condições requeridas para as diversas atividades e o aumento da segurança para a comunidade que cotidianamente se desloca entre os diversos blocos cujas localizações são divididas por aquela artéria. Além disso, com a desativação do antigo restaurante universitário, instalaram-se barracas para o serviço de lanches. Assim, recebeu a denominação de “rua de lazer” e se tornou uma referência como ponto de encontro e congraçamento de membros de toda a comunidade universitária, sobretudo dos estudantes.

Ainda no campo das construções, nos anos oitenta, foi inaugurado um novo prédio de quatro pavimentos, com 5.694 m² de área construída: o da Biblioteca Central. Tal construção, a partir de um projeto arquitetônico de grande beleza, proporcionou a prestação dos serviços nela disponibilizados atualmente. Ainda nas intervenções no ambiente físico procedeu-se à reurbanização do campus; à ampliação das áreas de estacionamento; à construção de quadras esportivas polivalentes e à restauração de um velho prédio, no qual foi implantado o Centro Cultural, espaço onde passaram a acontecer mostras artísticas, exposições, lançamentos de livros, coquetéis e outros eventos do interesse da comunidade.

A realização de tal conjunto de obras, sobretudo após a conclusão do prédio da biblioteca, permitiu que, à exceção do grande anexo do bloco G, conhecido como bloco G-4, estivesse concluído o núcleo central de um campus universitário, dotado de perfil, nitidamente, vertical – majoritariamente encravado na Boa Vista, um dos bairros centrais do Recife. Ele constitui um dos mais concentrados dentre os espaços universitários existentes, no país, o que facilita a locomoção e a vivência do dinamismo inerente a uma Instituição de Ensino Superior. Suas características ensejam o slogan “nosso campus é a cidade”.

Além das construções e para dar-lhes sentido, uma vez que os recursos humanos constituem o coração de uma instituição, foi implementado um embrião do que viria a ser o processo de capacitação docente, intensificado na década seguinte. Para isso, realizaram-se programas de Pós-graduação, nível de Especialização, em diversas áreas de ensino; aperfeiçoou-se o Núcleo de Informática e Computação e ampliaram-se as instalações da Gráfica Universitária.

Em 1982, iniciaram-se as pesquisas arqueológicas da UNICAP, no município pernambucano de Brejo da Madre de Deus. As pesquisas, ali realizadas, têm permitido o levantamento de importante conjunto de informações, cujas análises vêm possibilitando interessantes conclusões acerca da ocupação humana na América do Sul, da vida do homem brasileiro na Pré-história, e da adaptação humana ao semiárido nordestino. Na esteira dessa atividade, a Universidade criou, em 1987, o seu Museu de Arqueologia.

Em 1986, primeiro ano de um novo reitorado, foram implantados os laboratórios de Microinformática, no qual passaram a acontecer atividades práticas de diversos cursos. No ano seguinte, enfatizou-se o enriquecimento do acervo da Biblioteca Central e a expansão dos computadores e equipamentos, a eles relacionados. Em 1988, foi reativada a atividade Fórum Acadêmico, da ASTEPI, visando a capacitar alunos estagiários na formação de processos, sobretudo em audiências simuladas. O desenvolvimento dessa atividade alcançou tão grande dimensão, que ensejou a celebração de convênios com Tribunais de Justiça, de forma a não serem mais, as audiências, apenas uma simulação; isso marcou, na área, o pioneirismo da UNICAP, no Estado de Pernambuco. Tal pioneirismo foi definitivamente consolidado com a posterior construção e instalação de um moderno Fórum Universitário.

Preocupada com a sua visibilidade, em um mundo cada vez mais identificado por símbolos que carregam, em si, uma identidade e remetem a toda uma significação, ainda em 1986, implantou-se a nova marca da UNICAP: a silhueta da pomba-trocaz. Trata-se de uma ave de voo possante, que vive em bandos e é uma das maiores pombas brasileiras. Muito frequente no Nordeste, recebeu o nome de asa-branca e foi imortalizada em conhecidas peças do cancioneiro popular da região. A escolha reflete a identidade de uma universidade nordestina e, simultaneamente, remete ao desejo e à busca de, renovando horizontes de visão e atuação, colocar o conhecimento, a favor da vida e a serviço de uma cultura da paz. Além disso, ligada aos valores do Cristianismo, a escolha do novo símbolo remete a um terceiro significado, pois evoca uma das imagens do Espírito Santo (Lc 3, 22).

Ao final dos anos 1980, em decorrência dos trajetos, até então, empreendidos, a Universidade apresentava-se consolidada. No começo da década de 1990, já contava com um conjunto de edificações satisfatórias e adequadas ao seu pleno funcionamento. Era chegada a hora de direcionar as energias para a qualificação do ensino e institucionalização da pesquisa. Em 1991, a então Coordenação Geral de Pesquisa e Pós-graduação realizou uma sondagem sobre capacitação docente na UNICAP, visando a detectar o interesse dos professores em participar de Cursos de Pós-graduação. Tal detecção serviu para balizar os sucessivos pedidos de licença, os quais eram analisados a fim de se compatibilizarem os interesses apresentados pelos docentes e por seus respectivos Cursos, com os da Universidade e com a disponibilidade de recursos requeridos para cada caso.

Considerando a qualidade dos programas oferecidos, numerosas universidades passaram a ter professores da UNICAP, integrados ao corpo discente de suas Pós-graduações; entretanto, ocorreu maior incidência de procura, no Brasil, pela Federal de Pernambuco e, no exterior, pela Universidade de Deusto, na Espanha, devido à existência de um convênio de capacitação docente, celebrado entre aquela Universidade e Universidades jesuíticas da América Latina. Os esforços realizados conduziram à existência de um corpo docente bem qualificado.

No mesmo ano de 1991, a UNICAP instituiu o primeiro de um dos seus mais significativos eventos anuais: a Semana de Estudos para Docentes. Realizada no início do mês de fevereiro, ela constitui um fórum de debates através do qual os professores se congregam, entre si e com os administradores; continuam sua formação; participam do planejamento e organização das atividades pedagógicas; refletem sobre o papel de uma Universidade Católica, Jesuítica e Nordestina na sociedade brasileira e no mundo.

Na Semana Docente de 1995, deu-se a culminância de um processo de elaboração coletiva da Carta de Princípios UNICAP. Proclamada e aprovada pela comunidade, tem servido como constante referência para as decisões tomadas.

Ainda em 1991, a UNICAP sediou o I Seminário de Universidades pela Integração Brasil-Argentina. Contando com a participação de representantes de seis universidades argentinas, cinco brasileiras, duas paraguaias e uma uruguaia, o evento teve, como objetivos, discutir a problemática do Mercosul e promover o intercâmbio de estudos e pesquisas, desenvolvidos por especialistas de instituições daqueles países. Ao encontro referido, outros se sucederam. Na mesma temática de integração latino-americana e no âmbito da Companhia de Jesus, a UNICAP é membro da Associação das Universidades Confiadas à Companhia de Jesus na América Latina – AUSJAL. Em decorrência, iniciou-se, em 1996, um Programa de Intercâmbio de Estudantes entre a UNICAP e outras Universidades da AUSJAL. Vários outros convênios e acordos de cooperação técnica, científica e cultural têm sido celebrados com instituições nacionais e internacionais.

Em 1992, iniciaram-se as atividades do Núcleo Unicap de Apoio aos Movimentos Populares – NUAMPO –, que objetiva favorecer ações de integração dos movimentos populares, que, em algumas de suas atividades, trabalha em parceria com entidades da sociedade civil. Sua área de abrangência atinge várias comunidades carentes do Recife, as quais assessora, em questões referentes à urbanização e à legalização do solo urbano e melhoria das condições habitacionais, trabalhando com grupos de mulheres e idosos e implementando pesquisas sociais. Na mesma perspectiva de abertura a segmentos múltiplos da sociedade, em 1995 foi realizada a I Semana de Estudos sobre a Terceira Idade, evento repetido nos anos seguintes.

Embora vivenciando uma fase em que a ênfase vinha recaindo sobre a capacitação dos recursos humanos e a abertura das fronteiras da Universidade, o campo das construções físicas não foi abandonado. Uma quarta e última etapa do bloco G, também com nove pavimentos, passou a ser ocupada, a partir de 1994. A conclusão do G-4 representou acréscimo de mais de 6.300 m² à área construída do campus.

Objetivando a produção de indicadores que revelem o perfil e a situação de cada curso, dentro da instituição, a UNICAP, paulatinamente, tem vivenciado um processo de avaliação institucional. Nessa caminhada, evidenciando o pioneirismo do Centro de Teologia e Ciências Humanas, saíram à frente os Departamento de Filosofia e Educação, quando introduziram dinâmicas de reuniões conjuntas entre professores e estudantes e, em seguida, incentivaram seus alunos a responderem a questionários cujas respostas eram tabuladas e discutidas em encontros docentes internos. Em decorrência, passaram a revisar seus projetos pedagógicos.

Enquanto a UNICAP se colocava na rota da avaliação institucional, implementando o PAIUB (Projeto de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras), a CAPES e a Secretaria de Ensino Superior do MEC incentivavam as instituições a elaborarem amplos programas para serem aprovados pelo Ministério. Assim, internamente, procedeu-se à transformação do Projeto de Avaliação Institucional, que estava ganhando vida, em Programa de Avaliação Institucional da UNICAP, que passou a atuar em 1995. O PAI-UNICAP era referência permanente na consulta de dados e no fornecimento de subsídios auxiliares para a execução de políticas de planejamento e aperfeiçoamento da instituição.

O amadurecimento conquistado, bem como a abertura a numerosas atividades, conduziram a UNICAP a, em 1998, implantar uma Assessoria de Pesquisa e Iniciação Científica (ASSEPES), diretamente vinculada à reitoria. Com ela instituiu-se, no mesmo ano, o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica, ainda existente, que conta com um número expressivo de bolsistas financiados pela própria instituição. Além dele, são captadas bolsas de Iniciação Científica na FACEPE e no CNPq.

A existência da ASSEPES viabilizou a implantação de um programa institucional de Pós-graduação na UNICAP: foram pioneiros os Mestrados de Psicologia Clínica e de Fonoaudiologia – esse último com caráter interinstitucional, em convênio com a PUC/SP –, aos quais outros vêm sendo acrescentados, paulatinamente.

Em 1999, a UNICAP assinou um convênio com a Prefeitura do Município do Rio Formoso, na Região da Mata Sul do Estado de Pernambuco, para a execução do Projeto de Desenvolvimento Sustentável daquele município. O programa objetivava, prioritariamente, implementar os desenvolvimentos científico e tecnológico em um município nordestino, de modo a se constituir referência em tal integração. Funcionando a partir de convênio com a Fundação AVINA Group, da Suíça, ocasionou o estabelecimento de parcerias com diversas entidades nacionais. Em três anos de duração, significou uma experiência pioneira na qual uma Instituição de Educação Superior, integrando ensino, pesquisa e extensão, assumiu ações globalizadas em todos os setores vitais de um município, com aproximadamente 20.000 habitantes, a partir de um planejamento que considerasse as especificidades da área. O projeto mobilizou a comunidade universitária e deixou, no município, significativo saldo de intervenções.

A chegada de um novo milênio veio, no Brasil, quanto à educação superior, acompanhada das consequências de uma política ministerial que possibilitou a abertura de um sem-número de novas instituições, o que implicou concorrência com IES que se dedicam, apenas, às atividades de ensino e acarretou dificuldades para as instituições cujos amplos serviços oferecidos demandam maior dotação orçamentária. A UNICAP sente os reflexos dessa situação no decréscimo quantitativo de seu corpo discente, embora conte com programas de Bolsas de Estudos (próprios e governamentais) para alunos carentes, e, na medida do possível, renegocie compromissos anteriores, quando os estudantes não conseguem saldá-los a contento.

Apesar do quadro nem sempre favorável da conjuntura nacional, a Católica de Pernambuco cresceu, qualitativamente. Em março de 2001, inaugurou duas novas construções modernas e funcionais: a sede do Núcleo de Prática Jurídica da ASTEPI e o anteriormente referido I Fórum Universitário do Recife. O mesmo mês de março de 2001 assinalou o marco inicial da Empresa Júnior da UNICAP, criada com o objetivo de oferecer uma complementação prática ao aprendizado teórico, adquirido pelos alunos, proporcionando-lhes contato com a realidade do mercado e da sociedade. Com natureza multidisciplinar, abrange alunos de todos os cursos de graduação.

Ao longo dos anos, novos cursos foram criados e alguns, extintos, como é praxe das instituições de ensino que se adequam às demandas científicas e sociais. Na reconstituição feita neste artigo, não foram registradas todas as alterações ocorridas.

Sinalizando crescimento, diversificação e inserção em distintos níveis de atuação social e em diversas áreas do saber, a Universidade tem celebrado convênios, a fim de possibilitar intercâmbios nos campos do ensino, da pesquisa e da extensão e aperfeiçoar os seus recursos humanos e tecnológicos. No ano de 2006, tomou posse o atual reitor, que deu continuidade aos processos anteriores, celebrando numerosos convênios de cooperação técnica e de intercâmbio e cooperação educacional, nacionais e internacionais. Em tal perspectiva, têm destaque o Projeto Criança Esperança e o início das atividades da Fundação Fé e Alegria. Também foi criada a Cátedra Dom Helder Câmara de Direitos Humanos.

Na atual gestão, novos eventos foram incorporados ao calendário escolar, como a Jornada de Portas Abertas, o Católica In e as Jornadas de Integração para o corpo técnico-administrativo. Também foram efetuadas novas intervenções, no ambiente: a reestruturação do jardim principal e a criação de salas de convivência para alunos e funcionários, além da inauguração da Clínica de Fisioterapia e Terapia Ocupacional.

Como coroamento de tantas ações conjuntas, a UNICAP busca intensificar seus Programas de Pós-graduação; aliás, no atual reitorado, teve início o primeiro curso de Doutorado, em Psicologia Clínica. Requerendo a realização de sucessivas pesquisas, os Programas de Pós-graduação revitalizam o conjunto universitário, o que incide na melhor qualidade das graduações e no crescimento da inserção da Universidade na comunidade. A pós-graduação também incrementa o campo da produção técnica, científica e cultural.

Desde os seus primeiros anos, a Universidade se ocupa em possuir sua revista oficial, a exemplo da inicial, depois extinta: a Verdade e Vida. Em janeiro de 1997, foi reestruturada a Comissão Editorial da UNICAP, que regularizou a periodização da revista atual, a Symposium. Eventos, sediados no campus local têm ensejado a publicação dos respectivos anais ou de edições temáticas da Revista da Universidade. Alguns docentes/pesquisadores publicam livros e outros trabalhos, em diversos órgãos, criando a tradição de divulgar os resultados das pesquisas efetuadas.

Além de tantos aspectos mais diretamente ligados a sua natureza acadêmica, a UNICAP, comprometida com a espiritualidade do fundador da Companhia de Jesus – Santo Inácio de Loyola –, busca estar em sintonia com as transformações verificadas no mundo, para proporcionar, aos seus membros, a vivência e a expressão de suas manifestações de fé, solidariedade e fraternidade. O Instituto Humanitas/UNICAP traduz e atualiza essa preocupação, articulando e dinamizando a dimensão pastoral da Católica. Além disso, ele realiza múltiplas atividades sintonizadas com a Missão da Companhia de Jesus, voltada, no âmbito universitário, para o “serviço da fé, promoção da justiça, e diálogo cultural e inter-religioso”. Focado na realidade nordestina, sem perder a perspectiva das questões locais com as globais, o Humanitas faz sobressair uma nova linguagem na Universidade. Para tanto, as atividades que desenvolve, sempre em perspectiva transdisciplinar,  são organizadas em torno dos seguintes pólos temáticos: a) Teologia, ciência e cultura; b) mercado, pobreza e desigualdades; c) ecologia, desenvolvimento e sociedade sustentável; d) gênero, diversidade e questão étnico-racial; e) democracia, sociedade e políticas públicas.

Igualmente significativas são as iniciativas da Coordenação Geral de Esportes, pois englobam múltiplas modalidades, através das quais se atualiza a exigência posta pelo adágio latino mens sana in corpore sano. Os treinamentos e a participação em eventos desportivos internos e externos integram o cotidiano da Universidade.

Também são fundamentais, na dinâmica que compõe o conjunto de áreas de abrangência, as múltiplas atividades artístico-culturais existentes, como os grupos MPB UNICAP, Wave, Grupo de Dança Mandacaru, Madrigal e Grupo de Capoeira.

A UNICAP é uma instituição cujo variado leque de atividades, desenvolvidas ao longo de sete décadas, vem marcando, positivamente, sua presença no panorama universitário. A credibilidade que conquistou e a confiança de que desfruta refletem sua importância para a cidade do Recife, para Pernambuco e para o Nordeste.

Inserida na tradição da Companhia de Jesus, a UNICAP se inspira na visão cristã do mundo e do ser humano. Situada em uma região com muitos problemas socioeconômicos, ela não somente está no Nordeste; indo além do apenas situar-se, para ele se volta no afã de conhecer suas peculiaridades, desafios e riquezas para, a partir desse conhecimento, colocar-se em diálogo permanente com outras universidades, regiões brasileiras e nações. Essa posição é assumida em articulação com o seu caráter de universidade comunitária. Tal condição, unida a sua inserção no Nordeste, implica a existência de uma consciência acerca da situação regional, originada de abordagens multidisciplinares que visam a contribuir com a solução das questões específicas, conforme explicita a Carta de Princípios da Católica (1995).

A dinâmica requerida de uma instituição de ensino superior com tais características conduz a mecanismos de integração, intercâmbios e participação institucional em diversos fóruns e associações como ABRUC (Associação Brasileira de Universidades Comunitárias), ANEC (Associação Nacional de Educação Católica do Brasil), AUSJAL – já citada – e FIUC (Federação Internacional das Universidades Católica), entre outras. Um sinal significativo dessa participação foi a eleição, em julho de 2012, do reitor da UNICAP como Presidente da FIUC, tornando-se o primeiro brasileiro a assumir tal função. Esse processo simultâneo de nacionalização e internacionalização visa a comprometer toda a comunidade universitária na construção contínua da melhor qualidade acadêmica e da excelência humana, em uma síntese a partir da qual “o ideal divino contribui para ser realizada a aspiração suprema do espírito humano” (PEREIRA, 1951).

Os aspectos aqui abordados evidenciam como integrantes da vocação, identidade e missão institucionais: o compromisso de somar esforços na luta pela justiça social, em decorrência de seu caráter confessional católico; o desejo de o exercício da cidadania perpassar toda a vida da universidade; a aspiração de uma qualidade expressa em condições que, ultrapassando as necessidades peculiares à trilogia ensino, pesquisa e extensão, atinge valores inerentes à dignidade e ao bem-estar dos que a compõem, numa conjugação dos interesses de cada um com os da instituição, a todos empenhando na prática acadêmica decorrente de um projeto educativo cuja eficácia requer a vivência de relações éticas e fraternas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Hoje, a UNICAP se destaca pela qualidade dos trabalhos que efetua em um ensino de qualidade, na pesquisa que, cada vez mais, precisa consolidar-se e ser inovadora, na extensão sempre mais consequente e na ação comunitária. Essa articulação requer um olhar atento para conhecer e dar respostas a uma pluralidade de questões postas diante de uma instituição cuja ideia nasceu no coração da Igreja e necessitou, para que o desejo fosse realizado, aglutinar forças da Companhia de Jesus e da sociedade de Pernambuco. Embora esteja, hoje, inserida no contexto brasileiro de uma sociedade laica, a Católica foi desafiada, desde 2010, a ser também formadora do clero da arquidiocese local, de outras dioceses pernambucanas, de uma do estado do Piauí e de membros de mais de quinze congregações religiosas. Outros desafios requerem que a UNICAP e suas congêneres se apresentem como alternativas a polarizações existentes:

– entre estatal e particular, a ousadia das instituições comunitárias, por um lado, desmascara o elitismo da Educação Superior estatal; por outro lado, resiste aos imperativos do mercado e da liberalização do ensino; no contexto da educação nacional, nossas instituições postulam um modelo para além da polarização público-privado;

– entre a secularização e os espiritualismos, a proposta das universidades jesuítas funda-se sobre a lucidez de um humanismo aberto à transcendência, em diálogo com as culturas e religiões;

– entre o realismo fatalista e as utopias idealistas, as universidades de inspiração cristã postulam a construção da esperança a partir de projetos históricos sustentáveis, inclusivos e inovadores;

– entre os avanços tecnológicos e as ideologias de mercado, nossa universidade aposta numa formação humana e profissional voltada para a região, mas aberta ao mundo de possibilidades, à condição de criarmos oportunidades (OLIVEIRA, 2010).

Em meio aos impasses comuns da educação nacional, a inserção em distintas regiões propicia que cada universidade jesuíta desenvolva o seu próprio perfil. Neste ano de 2013, quando atinge a marca de setenta anos, a reconstituição dos principais trajetos e compromissos da UNICAP, permite afirmar que a sua história registra a autoafirmação de uma instituição que aspira à busca de melhor qualidade e a concretiza sem esquecer o propósito de sua autotranscendência. Os dois movimentos são efetuados em meio a muitas limitações.

Todavia, se as limitações fossem impedimento para evolução, a UNICAP seria apenas a lembrança de um sonho que se tornara realidade efêmera. Não tem sido assim. Exercendo papel inestimável, em toda a Região Nordeste, a “jovem septuagenária” Universidade se afirma, no presente, enquanto se projeta para o futuro. Os compromissos com a verdade libertadora e a promoção da vida perpassam sua trajetória. A projeção de sua continuidade encontra raízes no denodo e no dinamismo de todos que, alicerçados na fé, a sonharam no passado, conduziram-na no tempo e a compõem na atualidade. A sua história é conduzida por forças que transcendem os idealismos humanos, embora os inspirem e deles façam uso.

REFERÊNCIAS

AZEVEDO, Ferdinand. Universidade Católica de Pernambuco: subsídios para sua história. Symposium, Recife, v. 18, n. 2, p. 5-25, 1976.

BRASIL. Constituição Federal. In: Vade Mecum RT. 2. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008. p. 21-164.

CABRAL, Newton Darwin de Andrade. Da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras “Manoel da Nóbrega” à Universidade Católica de Pernambuco: uma trajetória direcionada pela Igreja romanizada (1943-1956). Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 1993.

______. Memórias de um cotidiano escolar: Universidade Católica de Pernambuco, 1943-1956. Recife: FASA, 2009.

______. Repercussões da romanização da Igreja nos anos iniciais da Universidade Católica de Pernambuco. Horizonte – Revista de Teologia e Ciências da Religião da PUC Minas, Belo Horizonte, v. 11, n. 29, p. 230-253, 2013.

______. Verdade e vida sob o céu do Nordeste: trajetos e compromissos da Universidade Católica de Pernambuco. Recife, 2001. Texto não publicado.

______. 70 anos de história. Jornal do Commercio, Recife, 25 jun. 2013, p. 8.

CARTA DE PRINCÍPIOS da Universidade Católica de Pernambuco. Recife, 1995.

CARTA PASTORAL de Dom Sebastião Leme da Silveira Cintra ao clero e fiéis da Arquidiocese de Olinda. 16 de julho de 1916. Recife: [s. n.], p. 111-12.

LUBAMBO, Manuel. A obra apostólica do Pe. Fernandes, SJ. In: ARQUIVO da Congregação Mariana da Mocidade Acadêmica. v. 3. Recife: Tipografia de Renda Priori, 1940.

OLIVEIRA, Pedro Rubens Ferreira. Discurso de posse na reitoria da Universidade Católica de Pernambuco – período 2010 a 2014. Recife, 2010. Texto não publicado.

PEREIRA, Nilo. Pernambucanidade. Recife: CEPE, 1983. vol. 3.

______. Folha da Manhã, Recife, 12 out. 1951.

RAUCH, Norberto Francisco. As Universidades Católicas no Brasil. Veritas, Porto Alegre, v. 35, n. 139, set. 1990, p. 325-332.

SANTOS, Manoel Heleno Rodrigues dos Santos. Memória da Escola Politécnica de Pernambuco. Recife: CEPE, 1991.

STRIEDER, Inácio. A evolução histórica da Universidade Católica de Pernambuco. Symposium, Recife, v. 27, n. 1, p. 07-21, 1985.

VASCONCELOS, Itamar. Subsídio para a história do ensino de Filosofia, Ciências e Letras no Recife. Folha da Manhã, Recife, 04 de janeiro de 1953, p. 2 e 8.

______. Uma Universidade Católica para o Nordeste. A Tribuna, Recife, 04 mar 1950, p. 1 e 8.

 

APÊNDICE

Quadro de reitores da UNICAP

NOME INÍCIO TÉRMINO
Padre Francisco Tavares de Bragança, SJ Setembro 1951 Janeiro 1957
Padre Aloísio Mosca de Carvalho, SJ Janeiro 1957 Janeiro 1966
Padre Geraldo Cursino de Freitas, SJ Janeiro 1966 Julho 1969
Professor Potyguar de Figueiredo Matos Dezembro 1969 Janeiro 1971
Monsenhor Rubens Gondim Lóssio Janeiro 1971 Janeiro 1978
Padre Antonio Geraldo Amaral da Rosa, SJ Janeiro 1978 Janeiro 1986
Padre Theodoro Paulo Severino Peters, SJ Janeiro 1986 Janeiro 2006
Padre Pedro Rubens Ferreira Oliveira, SJ Janeiro 2006
Antiga Biblioteca Central da Unicap
Dom Luiz Raimundo da Silva Brito
Unicap 77 anos - 2020