Que tipo de gente estamos escolhendo para nos representar? - Unicap
Título Notícias Humanitas
Notícias Humanitas

Que tipo de gente estamos escolhendo para nos representar?
Quando o fascismo voltar, ele não dirá “eu sou o fascismo”. Ele dirá “eu sou a liberdade”.
Umberto Eco (escritor, filósofo, professor, semiólogo, linguista e bibliófilo italiano)
As eleições de 2026, partiu!!!.
Nos próximos meses ocorrerão eleições gerais decisivas, não somente para o Brasil, mas para o próprio destino da América do Sul. A extrema direita (digo, o governo Trump) já conta com aliados incondicionais e subservientes na Argentina, Bolívia, Chile, Equador, Paraguai e Peru. Em 2026 haverá eleições no Brasil e na Colômbia.
A relação “interventora”, “imperial” e “colonial” dos EUA está em pleno processo nos países americanos. No Brasil ameaçando e chantageando o poder judiciário, na Venezuela usando o pretexto de ser um país dominado pelos “terroristas”, narcotraficantes, intimidam com intervenção militar. E no México ameaça incursões armadas para combater os cartéis e gangues do narcotráfico.
Neste cenário, apoiar a extrema direita é aceitar a tutela dos USA, se tornar um país submisso, sem soberania, sem respeito a si próprio, tornar uma “República das Bananas”. É isto que propõe os extremistas no Brasil, alojados no partido liberal (PL), e no grupo conhecido como “Centrão” que engloba membros fisiológicos de vários partidos (PSC, PP, PROS, PMDB, PTB, PR e Solidariedade), e que difundiu o lema “é dando que se recebe”.
Mas afinal, o que está em jogo é o projeto de nação que queremos. Não é simplesmente apoiar um plano de governo, que é temporário e dirigido para uma gestão específica. Será que estamos em condições de estabelecer uma maioria expressiva que aponte uma direção contínua, e que transcenda diferentes administrações, visando a soberania, a democracia e a consolidação de uma identidade nacional?
O impeachment deflagrado contra a presidente Dilma acabou interrompendo um ciclo, resultando na eleição do extremista fascista Jair Bolsonaro, com apoio de setores conservadores radicais da sociedade, do empresariado, de segmentos evangélicos, da cadeia do agronegócio predatório, de madeireiros e garimpeiros que atuam ilegalmente na Amazônia, de funcionários públicos de baixo escalão, de setores da classe média, de segmentos fascistas que surgiram em alguns Estados, e de parte das corporações militares. E neste governo ficou claro qual seria o projeto de poder desses grupos que tentaram um golpe de Estado, que teve seu ápice em 8 de janeiro de 2023.
A visão dos golpistas era de uma sociedade com retórica nacionalista, patriótica e autoritária, condicionando a transformação do país à “revitalização dos valores morais, éticos e do civismo”, ao fortalecimento do “sentimento de Pátria”, ao “combate à revolução cultural”, à “promoção do sentimento coletivo de Nação”.
Além de negar a realidade, acusando de globalismo um movimento internacionalista que tem como objetivo, segundo os extremistas fascistas, massificar a humanidade para dominá-la, dirigir e mesmo controlar tanto as relações internacionais, quanto as dos cidadãos entre si, negam a ciência e as mudanças climáticas e seus efeitos provocados pelo modo de vida consumista, perdulário e predatório da sociedade.
São perigosas visões de sociedade que desprezam o pluralismo do mundo contemporâneo, e justificam a tutela da sociedade por uma ordem que se arvora - sem legitimidade para fazê-lo - numa autoridade moderadora acima das instituições democráticas, que seriam as forças armadas.
Convivemos durante 4 anos com esta visão que teve como resultado mais evidente as ações durante a pandemia do COVID, em que foi negado acesso a vacina pelo governo de extrema direita, e que segundo a ciência poderia ter evitado milhares de mortes caso a vacina tivesse sido entregue a população.
Exemplos não faltam para impedir que o fascismo encarnado pelo (des)governo Bolsonaro retome o poder nas eleições de 2026, e implante o ódio, a misoginia, o racismo, o negacionismo. Nos livramos dele em 2022, e mais do que nunca precisamos vencê-lo em 2026.
Em contrapartida precisamos apoiar um conjunto de aspirações e diretrizes amplamente compartilhadas pela sociedade que visam orientar o desenvolvimento do país. Um novo paradigma civilizacional deve ser implantado para superar a lógica do lucro, e das políticas capitalistas, causa da degradação ambiental e da exclusão social.
É essencial a defesa de um Estado soberano e democrático, o respeito ao Estado de direito e às minorias. A busca por uma sociedade mais justa e igualitária, combatendo a pobreza e com inclusão social, e a garantia ao acesso universal aos serviços essenciais, de saúde, educação, segurança e infraestrutura básica. Que o modelo de desenvolvimento concilie a geração de riqueza com respeito e preservação ambiental, além da responsabilidade social. Assim garantindo um futuro de paz, igualdade para as presentes e futuras gerações.
A participação popular deve estar presente na construção de um projeto de nação que deve ser um processo contínuo de diálogo com os diferentes setores da sociedade do campo e da cidade, incluindo trabalhadores, comunidades rurais, populações vulneráveis, comunidades indígenas, quilombolas, juventude e ativistas.
Após a prisão do ex-presidente, a extrema direita (pois hoje não existe direita no país) tenta reagir. As recentes ações da matança ocorrida no Rio de Janeiro, a chacina policial mais letal da história do país, fazem parte da estratégia a ser utilizada tendo como tema central nas próximas eleições, a segurança pública. Em nome de combater a violência engendrada por grupos organizados, o mandante deste massacre, o governador do RJ Cláudio Castro (PL) foi aplaudido em um culto/missa, conforme relatado na imprensa. Não nos esqueçamos que também Adolf Hitler costumava ir à Igreja e ser recebido com aplausos.
A espetacularização do extermínio é usada para fins políticos, e que nada resolve o problema. É incapaz de desarticular estas redes de criminosas, muito menos de atingir os fluxos financeiros que dão sustentação a esta atividade ilegal. Buscam utilizar o discurso do ódio, da guerra contra o narcotráfico, para melhorar suas chances eleitorais. A questão da segurança pública sem dúvida terá papel de destaque na campanha eleitoral, e não podemos cair na armadilha dos governadores extremistas de Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Goiás e do Rio de Janeiro que se reuniram no Rio de Janeiro, em apoio ao massacre orquestrado pelo governador carioca, e anunciaram a formação do “consorcio da paz”. Segundo eles para combater a violência, e integrar forças de segurança destes Estados, e suas equipes de inteligência. Uma manobra político-eleitoral, pois a reunião serviu somente para a fotografia, sem que fossem anunciadas medidas concretas para o combate efetivo da violência. Um simples contraponto midiático ao governo federal.
O perigo deste agrupamento de ocasião, que apoia ex-presidente presidiário Bolsonaro, é montar uma armadilha retórica, e assim minar a democracia através da desinformação. Lembremos que estes governadores, alguns deles candidatos nas eleições de 2026, apoiaram o que ficou conhecido como a PEC da Bandidagem. Projeto de Lei de emenda à Constituição que exigia a autorização do Congresso Nacional para o Supremo Tribunal Federal (STF) abrir ações penais protegendo os parlamentares investigados de processos criminais, como assassinato, roubo e corrupção, criando um escudo para impunidade, e restringindo a ação da polícia federal. Felizmente manifestações públicas em todo o Brasil fizeram recuar, e impedir no Senado Federal que esta proposta escandalosa virasse Lei.
Diante do momento histórico que estamos vivendo às perguntas que os eleitores deverão responder nas próximas eleições para a escolha de seus candidatos podem ser simplificadas em:
- Votaria em candidato que apoiou a tentativa de golpe de Estado e a PEC da blindagem/bandidagem
- Votaria em candidato que derrubou os vetos presidenciais ao PL da Devastação, atacando o principal instrumento de proteção ambiental do país, a lei do licenciamento ambiental?
- Votaria em candidato que apoia os jogos de azar, cassinos no país?
- Votaria em candidato envolvido em escândalos financeiros, em sonegação de impostos?
- Votaria em candidatos que apoiam a manutenção de seis dias trabalhados, mesmo sendo reconhecido que a atual norma padrão 6x1 limita a convivência familiar, reduz o tempo disponível para estudo e aumenta riscos de adoecimento?
- Votaria em candidato que responde processos na justiça?
- Votaria em candidato que defende agrotóxicos proibidos em outros países, que fazem mal a saúde das pessoas e contamina o meio ambiente?
- Votaria em candidato que nega a ciência quando ela afirma que a destruição da natureza causa as mudanças no clima, o aquecimento global?
- Votaria em candidato que utiliza e manipula a fé para seus objetivos políticos?
- Votaria em candidato que ataca a democracia, e conclama militares a tomarem o poder?
- Votaria em candidato que propõe comprar seu voto com favores e benefícios?
Os eleitores precisam escolher nomes com história, com coerência, que respeitam o povo, e não quem o iluda. Devemos evitar de eleger parlamentares espertalhões que compram ou sequestram votos para serem eleitos, querem se tornar “políticos” – uma das “profissões” mais cobiçadas – para enriquecer sem maiores sobressaltos, defendendo seus próprios interesses e os dos que financiam suas campanhas.
Com o surgimento da Lei 9840/99, conhecida como a "Lei Contra a Compra de Votos", a Justiça Eleitoral tem um instrumento contra o crime de uso do poder político e econômico para entrar no Legislativo e Executivo. Esta lei combate à corrupção eleitoral no Brasil, proibindo candidatos de doarem bens ou vantagens em troca de votos e o uso indevido da máquina administrativa (como dar empregos ou brindes), prevendo para os infratores multa e cassação do registro ou diploma.
Está nas mãos do eleitor elevar o nível ético e da representatividade do Poder Legislativo de nossos parlamentos, em seus diversos níveis e eleger pessoas dignas e comprometidas com a construção de um país mais justo, igualitário e sustentável. Recente pesquisa Datafolha mostrou que de cada 10 eleitores, 6 não se lembram em quem votou nas últimas eleições. Não sabem o que o político fez, assim não dá para reclamar do resultado. A culpa é de quem vota.
Neste ano teremos cinco votos depositados (deputado estadual, deputado federal, 2 senadores e presidente da República) para o futuro que desejamos ao país. A escolha que faremos é o espelho da sociedade que queremos. Essas eleições darão rumos significativos para nossa democracia, pois desde a Constituição de 1988, as instituições democráticas nunca estiveram tão ameaçadas.
Heitor Scalambrini Costa
Professor associado aposentado da Universidade Federal de Pernambuco
*Imagem gerada por IA
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