Missa no Santuário de Fátima marca abertura do ano letivo na Unicap - Unicap

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Missa no Santuário de Fátima marca abertura do ano letivo na Unicap

Publicado Por: Daniel França

A comunidade universitária se reuniu, na tarde desta sexta-feira (16), no Santuário Nossa Senhora de Fátima, para a missa que marcou a abertura oficial do ano letivo da Unicap. A eucaristia foi presidida pelo Padre Delmar Cardoso, Pró-reitor Comunitário e de Extensão da Unicap. 


Já a homilia (íntegra ao final da reportagem) foi do Reitor Padre Pedro Rubens. Ele falou sobre os significados da Quaresma (momento de preparação para a Páscoa, que significa passagem para uma vida melhor) e elencou três práticas de conversão com perspectiva de ressignificação:


Oração - “Quaresma é, pois, um tempo de oração ou um tempo para refletir sobre a nossa forma de rezar e de alimentar uma relação com Deus. Aprendemos a rezar em família, com os nossos pais e avós. Aperfeiçoamos e ampliamos a nossa oração em comunidade, rezando uns com os outros, uns pelos outros”. 


Esmola – “A prática antiga da esmola diz respeito à nossa relação com o amor ao próximo, a ser exercitado como amor aos empobrecidos: há, porém, um sentido pejorativo e minimalista de doar qualquer coisa que sobra, uma moedinha, para ser visto ou para apaziguar a consciência culpada. Mas a Quaresma é um tempo de conversão de nossa relação com os outros, sobretudo com os empobrecidos: como responder à fome imediata e como pensar políticas e ações que ajudem a superar a pobreza?”


Jejum – “Importa, portanto, discernir qual o jejum que agrada a Deus, pois, do contrário, nem tem valor jejuar somente como prática externa, como o próprio Jesus questiona – inclusive dispensando esse tipo de jejum aos seus discípulos. A prática do jejum não é específica do cristianismo e, em primeiro lugar, tem a ver com a nossa saúde, mas também com salvação (saúde e salvação têm a mesma raiz), são exercícios livres e em nome da liberdade e da libertação”. 


Ao final, Padre Delmar pediu aos coordenadores dos cursos de Filosofia, Padre José Marcos, e de Teologia, Sérgio Douets, darem as boas-vindas aos alunos. Ambos desejaram votos de bom semestre a todos. Em 2024, o curso de Teologia celebra os dez anos de filiação à Universidade Gregoriana de Roma e a chegada de novas comunidades religiosas que farão a sua formação na Unicap: os franciscanos e os redentoristas.

Eucaristia de abertura do Semestre acadêmico da Unicap, 16/2/2024

Para início de conversa, chamou minha atenção a expressão “sexta-feira depois das Cinzas”: expressão interessante para indicar que a Quaresma é um tempo “depois” das cinzas, não uma mortificação qualquer, nem uma culpabilização pelo que se fez ou se deixou de fazer (no Carnaval ou na vida), mas um reconhecimento responsável do pecado, olhando para o futuro, na perspectiva da esperança pascal, um caminho que recorda a história de libertação de um povo e, como também somos parte do povo, nossa caminhada de vida com Deus. Assim, a melhor fórmula da abertura da Quaresma não é “tu és pó e ao pó retornarás”, mas um caminho novo a trilhar e um envio: “convertei-vos e crede no Evangelho”. 

Trata-se, pois, de uma boa notícia, de um tempo favorável, de um recomeço, uma nova chance que não deve ser desperdiçada. Os textos desses últimos dias, inclusive da Quarta-feira de Cinzas, têm uma questão de fundo: a condenação da obediência à Lei com práticas externas e o chamado à conversão interior que não tem nada de intimista, mas um chamado a uma mudança de vida e/ou de aprofundamento, mudar de rumo para seguir o caminho de maior interioridade que não significa intimismo, mas, ao contrário, um convite a sair de si, cada pessoa e a Igreja inteira (Igreja em saída) para encontrar o outro em sua indigência, em sua dor, em sua situação de vida, mas, igualmente, o outro em sua capacidade de amar e ser amado, de nos chamar à conversão, a um estilo de vida bem diferente. 

Nesse sentido, três práticas de conversão, inclusive semelhantes a várias religiões, são retomadas na perspectiva de uma ressignificação, a saber: a oração, a esmola e o jejum.
Quaresma é, pois, um tempo de oração ou um tempo para refletir sobre a nossa forma de rezar e de alimentar uma relação com Deus. Aprendemos a rezar em família, com os nossos pais e avós. Aperfeiçoamos e ampliamos a nossa oração em comunidade, rezando uns com os outros, uns pelos outros. Mas, sobretudo quando se chega em uma universidade, lugar de reelaboração dos conceitos e das concepções, a partir de uma diversidade de saberes e críticas, precisamos aprofundar nossa maneira de rezar, não poucas vezes colocando em crise as fórmulas aprendidas, que serão insuficientes para uma fé adulta. Muita gente perde a fé na juventude e/ou quando faz estudos críticos aprofundados.

Primeiro, porque a fé é uma realidade dinâmica que precisa ir crescendo como o nosso corpo, nossa vontade, nossa inteligência: muita gente fica com a expressão infantil da fé ou, como condenava Jesus, uma fé baseada somente em práticas exteriores, o que pode ser até um contratestemunho para os outros. Em segundo lugar, como diz uma bela tradição da Igreja e da teologia fundamental inspirada na 1ª carta de Pedro: “Precisamos estar prontos para dar razões de nossa esperança, diante de qualquer pessoa que dela nos pedir contas, com mansidão e respeito” (1 Pd 3,15-16). Enfim, a oração é um exercício espiritual e, como diz santo Inácio de Loyola: “assim como o corpo precisa de exercícios físicos, nós precisamos de exercícios espirituais” para crescer na fé, na esperança e no amor. Não deixem de ler o livro de nosso mais novo Dr. Honoris Causa, Dom José Tolentino: Pai nosso que estais na terra. O Pai-nosso aberto a crentes e não crentes ou o seu livro de orações intitulado Eu creio num Deus que dança.

A prática antiga da esmola diz respeito à nossa relação com o amor ao próximo, a ser exercitado como amor aos empobrecidos: há, porém, um sentido pejorativo e minimalista de doar qualquer coisa que sobra, uma moedinha, para ser visto ou para apaziguar a consciência culpada. Mas a Quaresma é um tempo de conversão de nossa relação com os outros, sobretudo com os empobrecidos: como responder à fome imediata e como pensar políticas e ações que ajudem a superar a pobreza? Eis o sentido da Campanha da fraternidade, repensar a esmola como algo que vai além de um sentimento de culpa e o pecado para além de uma pequena mudança de vida pessoal, inserida em uma estrutura de pecado social que aumenta as consequências e nos deixa impotentes. Refletir sobre a dimensão do pecado ou o pecado estrutural não concorre nem diminui a força do pecado pessoal. Trata-se de pensar as estruturas pecaminosas que são maiores que nossas intenções e que determinam nossas ações e criam situações de pecado. Este ano somos chamados à amizade social, que outra coisa não é que apostar na fraternidade universal, tomar consciência de que todos somos irmãos e irmãs, portanto, filhos e filhas do mesmo Pai que nos ama com o coração de mãe. Como diz São João: “quem diz amar Deus, a quem não vê, e não ama o próximo, a quem vê, é mentiroso”. A esmola não é algo que se oferece a um empobrecido, mas uma possibilidade de reencontro com Deus. Tenho vontade aqui de indicar um livrinho que a maioria da geração de nossos estudantes não conhece: Beber no próprio poço: itinerário espiritual de um povo, de Gustavo Gutierrez, citado por Tolentino em Elogio da sede, outra leitura espiritual para esse tempo de Quaresma.

A liturgia de hoje, enfim, nos convida a aprofundar o jejum. As leituras colocam em questão a maneira de praticar o jejum. Importa, portanto, discernir qual o jejum que agrada a Deus, pois, do contrário, nem tem valor jejuar somente como prática externa, como o próprio Jesus questiona – inclusive dispensando esse tipo de jejum aos seus discípulos. A prática do jejum não é específica do cristianismo e, em primeiro lugar, tem a ver com a nossa saúde, mas também com salvação (saúde e salvação têm a mesma raiz), são exercícios livres e em nome da liberdade e da libertação. Mas, partindo de outra prática próxima, a dieta, creio nunca se fez tanto jejum no mundo como em nossos dias: a dieta, porém, é um jejum rígido e forçado, um jejum prescrito e até uma questão de vida ou morte, em alguns casos. Por que se faz tanta dieta? Entre outros motivos eu diria porque não aprendemos as lições que o jejum quaresmal nos poderia ensinar, a saber: como regrar nossas alimentações? Como alimentar-se com o necessário e partilhar o pão com aqueles que passam fome? A gente seria mais feliz se fizesse jejum durante quarenta dias e nos outros mais de 320 dias do ano tivesse uma alimentação saudável, mesmo com alguns dias de excessos... 

Eis mais uma Quaresma, portanto, um tempo favorável para exercitarmos uma vida saudável para nós, mas, também, já que somos todos somos filhas e filhos do mesmo Pai, um tempo propício para refletirmos sobre a fome em nosso país e no mundo. Como universitários, precisamos reler um clássico – “um livro que não acabou de dizer o que tinha a dizer” (Ítalo Calvino): A geografia da fome, de Josué de Castro, de 1946 e, infelizmente, muito atual. O autor mostra que a fome é um fenômeno histórico, um “flagelo fabricado pelos homens contra outros homens”, como nos recorda o ministro Sílvio Almeida, no prefácio à nova edição dessa obra clássica, intitulado “Nosso alimento é a esperança”. Enfim, concluo com Padre Arrupe, um grande superior geral jesuíta, em um livrinho da coleção Ignatiana, Fome de pão e evangelização: “enquanto houver fome em alguma parte do mundo, nossa eucaristia será incompleta”. Frase forte que nos faz pensar no ato que estamos celebrando, bem como recordar o 18º Congresso eucarístico nacional, realizado em nossa Arquidiocese.

Que possamos fazer desse tempo de Quaresma um momento favorável de aprofundamento do sentido de nossa existência, da importância do outro em nossas vidas e de maior familiaridade com Deus. Que possamos fazer desse tempo de estudos também um itinerário de aprofundamento da nossa fé em Deus, amor ao próximo e esperança em outro mundo possível. Assim seja!

Pe. Pedro Rubens, SJ



 

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