"Inteligência Artificial e o Futuro das Universidades" é tema de conferência na abertura da Jornada Unicap Comunitária

Com provocações sobre ética, inovação e transformação digital, evento marca o início do semestre letivo com foco em planejamento e desenvolvimento institucional

A abertura da Jornada Unicap Comunitária — encontro semestral que reúne professores e funcionários da Universidade Católica de Pernambuco em atividades de planejamento — foi marcada por reflexões sobre o impacto da Inteligência Artificial (IA) na educação superior. A conferência “Inteligência Artificial e a Transformação das Universidades” foi proferida por Rafael Nasser, diretor do Instituto Ecoa da PUC-Rio, e mediada pelo professor Anthony Lins, da Escola de Tecnologia e Comunicação da Unicap.

Nasser trouxe um panorama sobre como as tecnologias emergentes vêm alterando, em ritmo acelerado, o cotidiano das universidades e da sociedade. Segundo ele, desde o lançamento do ChatGPT, em 2023, houve uma mudança radical na forma como se compreende e se utiliza a IA. “A obsessão, naquele momento, era fazer com que essa tecnologia funcionasse de forma ética, eficaz e com impacto positivo na jornada dos alunos. Não podíamos esperar quatro anos por um programa formal. Precisávamos agir imediatamente, com experimentação e personalização”, afirmou.

O Instituto Ecoa tem investido em projetos em parceria com grandes empresas, como a Apple e a Petrobras, com foco em formação, inovação e soluções aplicadas. Um dos exemplos apresentados foi o uso de IA generativa para análise de relatórios técnicos na indústria do petróleo, capaz de prever riscos e sugerir medidas com base em padrões de dados. “A plataforma que desenvolvemos analisa volumes massivos de relatórios e apresenta visualizações inteligentes para apoiar decisões, como prever corrosões em equipamentos”, destacou.

Nasser também alertou para os desafios éticos e os riscos de adoção indiscriminada da IA. “Não podemos abrir mão de nossos valores apenas porque todo mundo está seguindo uma direção. A universidade deve absorver inovações com senso crítico e identidade institucional. É preciso cuidar da autonomia, da privacidade e da soberania de dados — inclusive no campo acadêmico.”

Outro ponto enfatizado foi a necessidade de centralizar iniciativas de pesquisa e desenvolvimento em IA para gerar conhecimento compartilhado. “Cada um experimentando isoladamente é desafiador e até angustiante. A universidade precisa ser um espaço estruturado de troca, protagonismo e colaboração.”

A Unicap e a consolidação de uma estratégia em IA

Na mediação do evento, o professor Anthony Lins apresentou a proposta institucional da Unicap para se consolidar como centro de excelência em Inteligência Artificial aplicada ao ensino, pesquisa, inovação e serviços. Ele destacou que a Universidade está dando início à criação de uma estrutura estratégica para organizar suas ações na área, com base em cinco eixos: formação e capacitação, pesquisa e inovação, empreendedorismo, prestação de serviços e regulação/ética.

“A IA já está presente em diversos serviços do nosso dia a dia, muitas vezes sem que a gente perceba. Nosso desafio é ampliar o uso consciente e qualificado dessa tecnologia, respeitando os valores éticos e o compromisso social da Unicap”, afirmou. Segundo ele, o objetivo é desenvolver soluções que sirvam tanto à comunidade acadêmica quanto ao mercado, estimulando a interdisciplinaridade e a aplicação prática do conhecimento produzido.

Entre as ações anunciadas estão:

• Criação de uma coordenação geral da estratégia institucional de IA;
• Mapeamento de capacidades internas e projetos-piloto a serem iniciados ainda neste semestre;
• Lançamento do S.I.L.A.S. — Serviço de Inteligência Lógica Aplicada à Sociedade, uma homenagem póstuma ao professor Silas Pacheco, que teve papel fundamental na gestão universitária e na articulação de soluções tecnológicas.

A estratégia prevê, ainda, a formação de mais de 200 pessoas em dois anos, desenvolvimento de cursos de capacitação, apoio à criação de startups e prestação de consultoria especializada para o setor público e privado. “Vamos criar um ambiente de referência em IA, articulando as escolas, os laboratórios, a gestão e as instâncias de pesquisa. Todo mundo é convidado a participar desse processo”, concluiu Anthony.

Convite à esperança ativa e à dedicação coletiva à missão universitária

A abertura da Jornada Unicap Comunitária, realizada no auditório G1 da Universidade Católica de Pernambuco, reuniu professores e funcionários da instituição para dar início às atividades de planejamento do semestre letivo com um convite ao comprometimento coletivo e à esperança ativa.

A mesa diretora foi representada no evento pelo pelo Vice-reitor, Pe. Delmar Cardoso;.pelo Pró-reitor de Graduação, Prof. Dr. Degislando Nóbrega; pela Pró-reitora de Pesquisa e Pós-graduação, Profª Drª Valdenice José Raimundo; e pelo Pró-reitor Administrativo, Pe. Carlos Fritzen. O momento de acolhida também contou com uma apresentação do grupo MPB Unicap, que trouxe música e sensibilidade à abertura da jornada.

Em sua fala, o Pe. Delmar Cardoso destacou o sentido profundo da Jornada Comunitária, que vai além do planejamento técnico. Segundo ele, trata-se de um tempo propício para renovar o compromisso com a missão universitária da Unicap, que é “se dedicar à verdade e à vida”. O Vice-reitor também sublinhou a importância da participação de todos os segmentos — docentes, técnicos administrativos e gestores — nessa construção coletiva: “Todos nós estamos imbuídos dessa vontade de continuar sendo essa Universidade”.

Pe. Delmar fez questão de convocar especialmente os professores para a programação desta terça-feira (5), que contará com a presença da professora Ester Pereira Neves de Macedo, assessora do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Ela abordará os processos avaliativos e os desafios contemporâneos da educação superior. “Todas as avaliações às quais seremos submetidos envolvem também uma espécie de atualização. Precisamos mostrar quem somos com evidências, com clareza”, pontuou Delmar.

Ao final, ele propôs uma reflexão bíblica sobre o verdadeiro significado dessa agilidade. “Não é a pressa do fazer por fazer, do fazer para ontem. É a agilidade de quem carrega dentro de si a esperança, como a Virgem Maria, que foi apressadamente ao encontro de Isabel, segundo o evangelista Lucas. Apressadamente porque levava dentro de si o Salvador.”