Homilia Missa de Natal 2021 - Unicap

Título Notícias

Homilia Missa de Natal 2021

Publicado Por: Redação

HOMILIA PARA MISSA DE NATAL

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO

Leituras da Missa da Vigília – Ano C

21/12/2021

Pe. Clovis Cabral,SJ

      Natal de 2021. Não é o mesmo Natal de 2020. O Natal não pode ser uma repetição de celebrações, textos religiosos, cantos. Todos os anos já sabemos, quais os autores bíblicos...,quais as leituras indicadas pelas normas litúrgicas. O Natal não pode reduzir-se a ser mais um “evento anual” no calendário do capitalismo selvagem que transforma tudo em “negócio”...;mais especificamente um “grande negócio”. As celebrações natalinas não podem ser reduzidas a “duas teclas de um computador: Control C e Control V”.

    Pelo contrário os Textos Sagrados Natalinos deveriam ganhar sempre novas significações consoante a mudança dos tempos e dos contextos históricos. Nós os deveríamos ler e interpretá-los com os olhos de hoje, no quadro real no qual vivemos. Essa hermenêutica, essa interpretação, podem e devem ajudar-nos a perceber similitudes e poucas diferenças entre o Natal de outrora e de hoje. (Leonardo Boff)

QUAL O CENÁRIO NO QUAL ESTE ANO CELEBRAMOS O NATAL?

      O cenário geopolítico atual pode ser caracterizado como uma situação “em que as sociedades do mundo e a humanidade como um todo enfrentam múltiplas crises agudas (uma pandemia global, desastres ambientais, desigualdade maciça, bolsões de pobreza, guerras potencialmente devastadoras, etc.), mas parecem incapazes de tomar as medidas (reconhecidamente radicais ou revolucionárias) necessárias para resolver essas crises. Sabemos que a ordem está rompida. Sabemos o que precisa ser refeito. Por vezes até temos ideias sobre como fazê-lo. No entanto, continuamos a não fazer nada para reparar os danos já causados ou para evitar novos danos facilmente previsíveis”. (Adrian Johnston)

TRAZENDO ESSES DADOS PARA O BRASIL

[Vou tomar dados que se referem às mulheres, pessoas idosas, crianças e adolescentes, pois são elas a maioria entre as personagens dos textos bíblicos natalinos: O menino Jesus,o jovem João Batista,Maria,sua prima Isabel e o jovem adulto José]

         “... 1.005 mulheres que morreram pelo simples fato de serem mulheres durante os meses da pandemia de 2020, entre março e dezembro. Isso quer dizer que, por dia, pelo menos três mulheres foram vítimas de feminicídio no Brasil.

         (...) Se para mulheres sem deficiência, fazer uma denúncia de um abuso, de um assédio, em uma delegacia já é um super processo, imagina para mulheres com deficiência. Seus próprios agressores são seus cuidadores.

    

Em 2020 em todo o país, foram 175 assassinatos de pessoas trans, um percentual 21,3% maior que a média de 122,2 assassinatos/ano. O segundo número mais alto desde 2017. Todas as pessoas trans assassinadas em 2020 se identificavam com o gênero feminino. Entre os assassinatos levantados num  dossiê em 2020, 77% dos foram praticados com requintes de crueldade, uso excessivo de violência e mais de um método de violência.

    (...) O crescimento no número de crianças e adolescentes afetadas pela violência doméstica durante a pandemia aumentou exponencialmente. Cada vez mais crianças e adolescentes testemunham a morte ou espancamento de suas mães, avós ou cuidadoras. São os “órfãos da violência”. A verdade é que essas crianças sofrem essa violência ainda na vida uterina, fenômeno nomeado de “orfandade anunciada”. No Brasil a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado. (Marco Zero Conteúdo)

   O que a gente pode esperar de 2022 com um auxílio emergencial de valor baixo, arrocho fiscal, inflação alta, desemprego em alta e a permanência da pandemia? O que podemos esperar, se não, o aprofundamento da pobreza.

    O que podemos esperar de um projeto político que nega a importância da ciência, que desmonta o Sistema de Política Cultural e do Ensino Público...; que atenta todos os dias, contra o Sistema Único de Saúde (SUS), que desmonta o ainda incipiente Sistema Único de Assistência Social (SUAS)...;um projeto político que destrói o Sistema Público de Proteção as Florestas,as nascentes dos rios e o Meio Ambiente?  O que podemos esperar de um projeto político que interdita a participação popular na tomada de decisões políticas que afetam a todos, principalmente os mais empobrecidos? Um projeto político que promove a fabricação de armas e incentiva o seu consumo, ao invés da produção de alimentos, deixando a maioria da população pobre exposta a uma continuada “insegurança alimentar”, que é outro nome para a fome

   O número de pessoas pobres e miseráveis vai aumentar. A fome vai aumentar exponencialmente. E as pessoas mais atingidas continuarão sendo as mulheres, as mulheres negras, as crianças, as crianças negras, as pessoas idosas, as pessoas idosas negras. No Brasil a pobreza tem cor, gênero e faixa etária.

   O que podemos esperar de um projeto político, que é um projeto de “Necropolítica”?

ESPERAR CONTRA TODA ESPERANÇA: “...acreditou, firme na esperança contra toda esperança” (Rm 4, 18)

  As personagens das leituras de hoje, nos indicam um “itinerário espiritual”, que pode ajudar-nos a dar respostas ancoradas na ESPERANÇA no “sentido freireano” e evangélico do termo: Ter Esperança..., “Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo…” (Freire, 1992)

    Essa é a esperança anunciada pelo Profeta Isaías. Diante de uma Jerusalém subjugada pelo colonialismo dos Césares...; diante de uma Jerusalém ferida por suas lideranças religiosas que se tornaram colaboracionistas dos opressores...; diante de uma Jerusalém que matava os profetas e excluía do “festim nupcial” as viúvas, os órfãos e os estrangeiros...; Isaías profetizava como ouvimos na Primeira Leitura: “As outras nações verão a tua justiça, serás chamada com um nome novo...; Não mais te chamarão Abandonada e tua terra não mais será chamada de Deserta; assim como a noiva é a alegria do noivo, assim também tu és a alegria de teu Deus” (Is 62,1-5).   

  Essa mesma Esperança nutriu o coração de João Batista. Ele foi um dos últimos da longa tradição dos Profetas da Esperança depositada na chegada iminente do Messias Salvador. Na leitura do Livro dos Atos dos Apóstolos, escutamos que Paulo anunciava aos “condenados da terra”: “O Deus de Israel escolheu os nossos antepassados e fez deles um grande povo quando viviam estrangeiros escravizados no Egito”. Paulo afirma que antes que Jesus iniciasse sua Missão, João Batista, o precursor do Messias, pregou um “batismo de conversão”: “Convertei-vos e crede no Evangelho”, esse era o coração da pregação de João Batista.

     Maria e José também eram parte dessa longa tradição do Profeta Isaias e do Profeta João Batista.

   Alguns estudiosos da Bíblia os nomeiam de anawim. Com a palavra anawim, os “pobres de Javé”, ou como nomeados por alguns profetas o “pequeno resto de Israel”. Alguns exegetas definem esses “pobres de Javé” como um grupo social no mundo Judeu da época. Com este nome a Bíblia dos Hebreus se referia frequentemente às pessoas humildes no sentido mais geral da palavra: desde a humildade de sua situação econômica, passando pela humildade de caráter, até uma atitude de total confiança em Deus e na sua promessa feita ao povo no cativeiro.

     Estes “pobres de Javé” encarnam a esperança de Israel que celebramos no Advento. A eles pertence esse conjunto de pessoas que reconhecem e acolhem a Jesus quando este chega: Zacarias e Isabel, os pastores, Simeão e Ana e muitos outros mais cujos nomes chegaram até nós. Pobre de Javé é José, e, sobretudo, Maria.

“Naquele dia o resto de Israel e os bem entregues da casa de Jacó não voltarão mais para se apoiar naquele que os feriu, mas eles voltarão a apoiar-se firmemente no Senhor. O resto voltará, o resto de Jacó, ao Deus poderoso. Que mesmo se for teu povo, Israel, como a areia do mar, só um resto voltará " (Is 10, 20 -22a) Sofonias também: “Deixarei no meio de vocês um povo humilde e pobre, e em nome de Iahweh o Resto de Israel se abrigará. Eles pastarão e descansarão sem serem perturbados por ninguém” (So ¿¿3, 12.13b)

   O termo anawim fazia referencia, pois àquelas pessoas que estão dobradas, curvadas, debaixo do peso da opressão dos poderosos (cf. Is 32,7; Am 2, 7, Jb 24, 4; Pr 14, 21) e mesmo assim permaneciam firmes na fé em Deus Misericordioso e Libertador.

  Essas pessoas, organizadas em “pequenas comunidades”, teriam permanecido firmes num estilo de vida e numa fé profunda na “Promessa” de que Deus viria visitar seu Povo e não o abandonaria nunca mais. Eles acreditaram contra toda desesperança que Deus não abandona filho nenhum seu, filha nenhuma sua. Deus é Emanuel, isto é, DEUS CONOSCO!

(Ou como escutamos numa das leituras propostas para a Missa de hoje, 21/12:

“Cante, ó cidade de Sião; exulte, ó Israel! Alegre-se, regozije-se de todo o coração, ó cidade de Jerusalém!

O Senhor anulou a sentença contra você, ele fez retroceder os seus inimigos. O Senhor, o Rei de Israel, está em seu meio; nunca mais você temerá perigo algum.

Naquele dia, dirão a Jerusalém: Não tenha medo, ó Sião; não deixe suas mãos enfraquecerem.

O Senhor, o seu Deus, está em seu meio, poderoso para salvar. Ele se regozijará em você; com o seu amor a renovará, ele se regozijará em você com brados de alegria.

Eu ajuntarei os que choram pelas festas fixas, os que se afastaram de vocês, para que isso não mais pese como ­vergonha para vocês”. (Cf. Sofonias 3,14-18)

      Ou como escutamos na leitura do Evangelho de Mateus, pela boca do anjo, que falou a José: “José, filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo...” (Mt 1,18-25)

      O Papa Francisco nos ensina: A nossa esperança não se rege por raciocínios, previsões e seguranças humanas; e se manifesta lá onde não há mais esperança, onde não há mais nada em que esperar... (Catequese do Papa Francisco na Praça São Pedro, 29 de março de 2017)

    Eis o convite que o Senhor nos faz hoje no seu Natal: Sermos homens e mulheres que se colocam num caminho de mudança de vida, de conversão e nos tornemos assim anunciadores, anunciadoras da Esperança de que “Outro Mundo é Possível”.

Um Feliz e Santo Natal.

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