Colóquio de História revisita os 200 anos da Confederação do Equador - Unicap
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Colóquio de História revisita os 200 anos da Confederação do Equador
Nesta quinta-feira (7), o colóquio dos cursos de História (graduação e mestrado) da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) trouxe à tona uma reflexão sobre os 200 anos da Confederação do Equador, um movimento rebelde que, em 1824, marcou um dos maiores confrontos entre as províncias nordestinas e o governo central de Dom Pedro I. A palestra intitulada “200 anos da Confederação do Equador: linguagens e disputas” contou com a participação dos professores e pesquisadores Flávio Cabral (Unicap) e Tiago Silva (UFPE), que aprofundaram diferentes narrativas e a importância desse evento na história do Brasil.
De acordo com os especialistas, o movimento da Confederação do Equador, que teve como epicentro Pernambuco, não deve ser entendido apenas como uma tentativa separatista. Seu objetivo central era a busca pela descentralização do poder, uma autonomia maior para o Nordeste e, em algumas versões, a criação de um governo republicano. No entanto, os líderes do movimento, como o carmelita Frei Caneca, não desejavam romper com o Império, mas sim desafiar a centralização política promovida por Dom Pedro I.
Panfletos e críticas ao governo de Dom Pedro I
Em sua fala, o professor Flávio Cabral explicou que, para entender a Confederação, é essencial compreender o uso de diferentes linguagens na época, como a panfletagem. "O trabalho que hoje vamos apresentar tem como título 'As armas', que seria em torno das questões da panfletagem, dos panfletos do século XIX, que eram distribuídos, afixados nos muros, colocados debaixo das portas das pessoas. Na realidade, criticando a atitude do imperador Pedro I, por conta das mudanças políticas", contou o professor Flávio.
Esses panfletos, que surgiram após a dissolução da Assembleia Constituinte e a mudança na nomeação dos governadores das províncias, serviram para mobilizar a população contra o governo central. Flávio Cabral destacou que a panfletagem foi uma resposta à imposição de algumas leis, como a de 20 de outubro de 1823, que determinou a nomeação dos governadores por parte do imperador, intensificando a centralização do poder. "Esses panfletos surgiam a partir do momento em que a imprensa, através dos jornais de Cipriano Barata e Frei Caneca, criticavam e isso motivava algumas pessoas a fazer esse tipo de mensagem", explicou.
O professor também mostrou um panfleto raro impresso pelas mulheres de Goiânia, um exemplo da participação feminina em um período em que a política era predominantemente masculina. Esse panfleto, segundo Flávio, "se torna raro, porque era muito difícil a atuação das mulheres em política naquela época, o que demonstra claramente como Pernambuco estava a par dos acontecimentos europeus". Ele ainda explicou que as mulheres estavam engajadas em um "gabinete patriótico" e que, em Recife, o debate sobre a participação das mulheres na política foi fortemente influenciado pelos acontecimentos da Revolução do Porto, que abalou a política portuguesa.
O protesto contra Dom Pedro I e a construção de uma federação
O professor Flávio também falou sobre a grande crise política que marcou o período, em especial em Pernambuco, e as tensões que levaram à Confederação. "A dissolução da constituinte, por exemplo, foi um grande ponto de inflexão", afirmou. Ele explicou que, ao assumir o trono, Dom Pedro I propôs uma monarquia centralizada, o que gerou insatisfação no Nordeste, especialmente entre os pernambucanos. "A bancada pernambucana do trabalhava muito na questão de termos uma federação. Quer dizer, poderia existir uma monarquia federativa, mas com ela havia uma questão de que Dom Pedro não poderia interferir muito nas províncias", detalhou.
A Confederação do Equador, embora tenha sido uma tentativa de estabelecer um sistema mais federativo, não tinha a intenção de uma separação total do Brasil, mas sim a constituição de um governo mais autônomo nas províncias. Flávio explicou que, em suas reivindicações, os insurretos queriam um Brasil sem a monarquia de Dom Pedro, com o apoio das províncias que não aderiram ao movimento. "A ideia era que as províncias aderissem a esse plano e dessem um não a um governo que eles diziam que era de um déspota", disse ele.
Frei Caneca e a luta por uma república
O professor Flávio também destacou a figura central de Frei Caneca, que simboliza a resistência à opressão do Império. Embora a Confederação tenha sido derrotada, Frei Caneca continuou a ser um ícone da resistência ao regime centralizador. Flávio explicou que a Confederação foi, de fato, uma das primeiras manifestações republicanas no Brasil, antecipando uma discussão que só seria retomada de maneira mais explícita nas décadas seguintes.
A representação de Frei Caneca
O professor Tiago Silva, por sua vez, trouxe uma perspectiva diferente sobre a figura de Frei Caneca, focando na construção de sua imagem ao longo do tempo. "Hoje, vou apresentar um pouquinho sobre como Frei Caneca teve a sua imagem construída a partir de representações gráficas", explicou Tiago. Ele destacou que a imagem de Frei Caneca foi construída ao longo de mais de meio século, sendo representado em quadrinhos, jornais e outras mídias da época a partir de seu suplício.
Para Tiago, entender a construção dessa imagem é essencial para compreender o impacto que Frei Caneca teve no imaginário popular. "O que eu estou fazendo hoje é apresentar como ele foi imaginado ao longo de mais de meio século", afirmou. Ele também abordou a popularização da imagem de Frei Caneca como um mártir, figura emblemática da Confederação do Equador e da luta contra a centralização do poder imperial.
A relevância da Confederação do Equador
Embora o movimento tenha sido derrotado em setembro de 1824, a Confederação do Equador continua a ser um marco importante na história do Brasil, especialmente para o Nordeste. O professor Flávio Cabral destacou que, mesmo após a repressão, o movimento permanece como uma das tentativas mais significativas de contestar o regime imperial e propor um modelo de organização política mais descentralizado.
"É um movimento que, até hoje, se estuda no Brasil", concluiu Flávio. "Aqui em Pernambuco, houve muitas festividades, estudos, e conferências sobre a Confederação do Equador, como o encontro da Sociedade de Estudo dos Oitocentos, que discutiu esse movimento e suas implicações para a história do Brasil."
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