Maria, Maternidade e o Feminismo que Gesta a Esperança

                                                                                                                                                               Por Taciana Spinelli

Gostaria de propor uma breve reflexão sobre a maternidade e o feminino, à luz da vida de Maria, nossa Mãe. Que lugar essa mulher ocupa na história da fé, e o que sua vida tem a nos ensinar sobre força, resistência e revolução?

Quando pensamos em Maria, não devemos pensar apenas em uma figura santa e distante. Precisamos pensar em uma mulher real, de carne e osso, que viveu desafios profundos, que conheceu o medo, a dor, mas também a coragem e a confiança absoluta em Deus.

Maria não foi apenas um símbolo de docilidade ou obediência. Foi uma mulher que, em uma sociedade patriarcal, ousou dizer “sim” a um chamado divino que colocaria sua vida em risco. Grávida fora do casamento, poderia ter sido rejeitada, apedrejada, silenciada. Mas ela resistiu. E esse não foi um ato de passividade, mas de profunda entrega e força interior. Com coragem, deu à luz à esperança em um mundo onde as mulheres não tinham voz. Maria, uma jovem pobre e periférica, tornou-se mãe do Salvador — e isso não foi coincidência, foi uma escolha divina. Deus escolheu se encarnar no ventre de uma mulher invisibilizada pelo mundo, mas suficiente em sua força e fé.

Ser mãe, como muitas aqui sabem, não é uma tarefa simples. Não se resume ao gesto de gerar uma vida, mas de sustentá-la com amor e esperança. A maternidade de Maria nos convida a repensar o que significa ser mãe: que não se trata apenas de gerar filhos, mas de gerar mundos. Maternar futuros. Gerar justiça. Gerar cuidado. Gerar amor e rebeldia diante das estruturas que matam, oprimem e esquecem.

Hoje, quando falamos de feminilidade ou até mesmo de feminismo buscamos, no fundo, o reconhecimento da dignidade e da força da mulher — como o próprio Deus reconheceu ao escolher Maria. Maria nos inspira a lutar por um feminismo que não exclui a fé, mas a incorpora. Um feminismo que honra a experiência de mulheres de fé, mães, cuidadoras, trabalhadoras, líderes silenciosas e poderosas, e que nos permita ter liberdade e ocupar todos os espaços.

Hoje, ao olharmos para Maria, não a vemos apenas com um véu e um olhar doce. A vemos como uma mulher de fibra, que enfrentou o império e a religião oficial da época, com sua maternidade corajosa e o coração cheio de fé. Para mim, ela é exemplo de que a revolução começa dentro do ventre — físico ou simbólico — de cada mulher que acredita em um mundo mais justo. Seguir Maria significa transformar a dor em canção, acolher a vida e desafiar as estruturas injustas.

Maria foi uma mulher de oração, mas também de ação. Educou Jesus com sabedoria e caminhou com Ele até o Calvário. Ela não se ausentou do sofrimento nem da missão. Permaneceu. Portanto, ao olhar para a trajetória dela, somos convidados a valorizar a experiência das mulheres que, assim como ela, sustentam famílias, comunidades e gerações inteiras com sua força, sua ternura e sua fé.

Que Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe, interceda por todas as mulheres, mães, avós, filhas, que ainda hoje continuam dizendo “sim” à vida, à fé, e à construção de um mundo mais humano e mais divino.

Que Maria nos inspire a gestar novas possibilidades. Que sejamos como ela: fortes, amorosas, ousadas. Mães de novas realidades.