Jubileu de 500 anos da Conversão de Santo Inácio de Loyola

2021 é um Ano Jubilar para a Companhia de Jesus, porque marca os 500 anos de Conversão de Santo Inácio de Loyola, quando ele quase perdeu a vida, depois de ser atingido na perna por uma bala de canhão, na Batalha de Pamplona. Essa conversão não foi algo rápido, instantâneo ou automático, mas fruto de um processo espiritual de transformação pessoal e comunitária que, cinco séculos mais tarde, permanece reverberando na vida de tanta gente. Muitas pessoas sentem-se, portanto, inspiradas pela espiritualidade inaciana e se juntam aos jesuítas na Missão, como colaboradores, no serviço da fé e na promoção da justiça, por um mundo reconciliado, porque querem ser “homens e mulheres para os demais e com os demais”.

As celebrações deste tempo especial vão mobilizar todas as obras apostólicas da Companhia de Jesus ao redor do mundo. Este Ano Inaciano será comemorado, então, por meio de vários eventos, entre 20 de maio de 2021 e 31 de julho de 2022.

“El año ignaciano 2021-2022 se convierte así en ocasión privilegiada para escuchar el grito de los pobres, de los excluidos, a quienes su dignidad ha sido irrespetada, en los diversos contextos sociales y culturales en los que vivimos y trabajamos. Una escucha que moverá nuestros corazones y podrá impulsarnos a una mayor cercanía a los pobres, a caminar con ellos en busca de la justicia y la reconciliación” - diz um trecho da carta do Superior Geral da Companhia de Jesus, Padre Arturo Sosa, enviada para animar todas as comunidades jesuítas.

Para o Reitor Padre Pedro Rubens, “a partir da espiritualidade aplicada à universidade e encarnada na nossa realidade, importa que desenvolvamos outros aspectos da contribuição de Inácio de Loyola e da ordem jesuíta, notadamente na educação. A Companhia de Jesus nasceu no meio universitário, como indicado na entrada da capela do campus: Inácio criou um grupo de companheiros, estudantes universitários que sonharam com um mundo novo. E irradiou mediante muitas perspectivas de atuação: pedagogia, diálogo com as ciências, com as culturas, com as religiões, transformação social. O ano inaciano, na Unicap, é uma agenda aberta e um apelo à criatividade e a interdisciplinaridade: a ideia geradora é promover ações em todos os eventos do calendário deste período”, explicou.

Para o Vice-reitor da Unicap, Padre Lúcio Flávio Ribeiro Cirne, Loyola tinha uma percepção a frente de seu tempo. “Santo Inácio, em sua época, conseguiu enxergar o mundo com uma visão surpreendentemente atual. No centro da sua compreensão está uma matriz relacional e integradora que une harmoniosamente criaturas, ambiente e o criador. Encontrar Deus em todas as coisas e todas as coisas em Deus é o grande horizonte da sua espiritualidade. Essa perspectiva inaciana converge com o contemporâneo paradigma sistêmico, no qual todas as coisas se encontram relacionadas e está na base de uma ética socioambiental da coexistência, ou de uma ecologia integral, como nos propõe o Papa Francisco em sua encíclica “Laudato si”, uma das contribuições mais lúcidas para um diagnóstico da degradação ecológica que estamos vivendo e para caminhos que conduzem ao cuidado e preservação do planeta terra, a nossa casa comum.

A Universidade Católica de Pernambuco não poderia ficar de fora dessa celebração global, tanto que vai antecipar as celebrações, em uma programação especial, já nesta quinta-feira, 29 de abril, às 18h30, com uma live intitulada: “... por uma Pedagogia do Afeto II: Inácio de Loyola vendo novas todas as coisas”.

A transmissão será pelo www.youtube.com/unicapvideo. O tema vai ser abordado pelo padre jesuíta André Araújo. Ele explica que se trata da continuação de uma live que ocorreu na Jornada Unicap Comunitária e que marcou a abertura do semestre letivo 2021.1. “Em função do tempo, muitas questões colocadas no chat do Youtube, na ocasião, não puderam ser respondidas e, agora, vamos propor uma roda de conversa tratando dessas e de outras perguntas que surgirem”, explicou.

O evento vai contar com a participação de três professores: Profª Drª Andréa Trigueiro, da Escola de Comunicação; Prof. Dr. Gilbraz Aragão, da Escola de Educação e Humanidades; Prof. Ms. João Elton de Jesus, da Unicap Icam Tech International School e do Instituto Humanitas. Na ocasião, eles vão representar o corpo docente da Unicap.

Padre André explica, ainda, que a tradição espiritual de Santo Inácio de Loyola foi sistematizada em um método pedagógico, pela segunda geração dos padres jesuítas que, em 1599, publicaram a “Ratio Studiorum”, uma espécie de manual que traz os princípios educativos que pautam a pedagogia inaciana que inspira o trabalho, de maneira geral, nos colégios e nas universidades da Companhia de Jesus. Pode-se dizer que se trata da “experiência pessoal do próprio Inácio convertida em método”.

Ainda segundo Padre André, “Inácio queria que mais pessoas pudessem experimentar o caminho de fé e de conversão proposto pelos Exercícios Espirituais e, já naquela época, acompanhou e incentivou muito a sua prática como um modo de ajudar as almas”.

O jesuíta destaca, também, que Inácio ajudou muita gente a reconhecer e a integrar os próprios afetos, para evitar uma desordem e, consequentemente, suas determinações. Afinal, ao que tudo indica: o que é afetivo tende a se tornar efetivo.

Daí a importância do exame espiritual diário para verificação dos afetos, que podem ser a senha para o crescimento humano e para a liberdade. O exame diário ajuda a identificar o que se desordena, antes mesmo que isso possa determinar nossas ações para algo mau. Uma consciência mais alargada dos sentimentos e das sensações, bem como de nosso modo de proceder ajuda muito nesse sentido.

Padre André ressalta que o método inaciano funciona, independentemente de quem tem ou não religião. “É um processo antropológico e espiritual que independe de pertença religiosa. A grande contribuição de Inácio é ajudar-nos a mapear os nossos afetos, que são puros e neutros em si mesmos...”