Abertura da Jornada Comunitária discute o papel da universidade no combate ao racismo - Unicap
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Abertura da Jornada Comunitária discute o papel da universidade no combate ao racismo
Uma análise aprofundada do atual contexto do racismo no Brasil e no mundo foi o ponto de partida da palestra de abertura da Jornada Comunitária da Unicap. Mediada pelo Doutor Honoris Causa e coordenador do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas da Unicap, Clóvis Cabral, a atividade intitulada O papel da Universidade no combate ao racismo estrutural/institucional: impasses e perspectivas teve como convidado especial o pró-reitor de Extensão, Cultura e Cidadania da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Prof. Dr. Moisés de Melo Santana. O evento foi transmitido ao vivo pelo Youtube da Unicap (1h51m).
Padre Clóvis fez uma introdução chamando atenção para crimes brutais recentes que escandalizaram o país como o caso do congolês Moïse Mugenyi kabagambe, morto a pauladas aos 24 anos, por cobrar R$ 200 por trabalho não recebido em um quiosque na praia da Barra da Tijuca (RJ). Outro caso relembrado por ele foi o de Durval Teófilo Filho, 38 anos, morto a tiros pelo sargento da Marinha Aurélio Bezerra, que alegou o ter confundido com um assaltante na entrada do condomínio onde moravam em São Gonçalo, também no Rio de Janeiro. Clique aqui para ver a íntegra do texto.
O assassinato de crianças, chacinas resultantes de operações policiais e tiroteios também foram destacados por Padre Clóvis como histórico assustador do Rio de Janeiro. Para ele, a situação daquele estado revela uma situação preocupante em todo o Brasil. “Há um recrudescimento da violência racial no Brasil. Nos últimos anos, o país cultivou, ampliou e amadureceu um ambiente favorável ao ódio e ao racismo. Somado à relativização da dor, do preconceito e do racismo brasileiro que é estrutural, institucional e sistêmico, o elevado grau de violência faz com que corpos negros, há séculos violados em território nacional, sejam alvos da sociopatia dos incapazes de enxergar num preto um ser humano pleno em direitos, digno de confiança e de credibilidade, merecedor de respeito e de oportunidade, tão capaz quanto qualquer pessoa” frisou.
Para o educador, a violência contra negros tem encontrado na crueldade uma ferramenta de execução na qual o sadismo virou regra. “A crueldade é um ato de gozo. A crueldade, para diferenciá-la da violência, implica em gozo do perpetrador e prazer no espetáculo”. Há ainda questões históricas herdadas do período da escravidão. Desigualdade, violência institucionalizada e “baixíssima ou quase nenhuma representatividade” são algumas delas.
Herança que, ainda de acordo com Padre Clóvis se mostra em indicadores sociais nos quais os negros aparecem em desvantagem como os déficits ocupacional; habitacional; educacional e “desvantagem étnico-racial, que atinge de maneira criminosamente cruel a juventude negra brasileira”. Entre outros dados relativos a homicídios apresentados durante o evento, o coordenador do Neabi destacou que no Brasil, a cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado.
Em outro momento de sua apresentação, Padre Clóvis destacou o papel do meio acadêmico no combate ao racismo, o que motivou o tema. “A universidade tornou-se também uma instituição social inseparável da ideia de democracia e de democratização do saber: seja para realizar essa ideia, seja para opor-se a ela, a instituição universitária não pôde furtar-se à referência à democracia como ideia reguladora”.
Essa ideia de rede de produção de conhecimento foi também foi apontada pelo professor Moisés como uma das perspectivas de combate ao racismo. De acordo com ele, nos últimos 20 anos, o Brasil passou a contar com mais 200 núcleos afro-brasileiros. “Com a expansão das universidades e institutos federais, esses núcleos formam uma rede complexa, existe um consórcio desses núcleos”, disse ele ao se referir ao Conneabs.
Ainda de acordo com o professor Moisés, esses avanços não vieram sem lutas e movimentos históricos. O pesquisador explicou que o racismo não é algo endógeno do Brasil e sim faz parte da formação das sociedades ocidentais a partir da escravidão entre os séculos 16 e 19. Um processo que começou alimentado pelas rotas do tráfico transatlântico de seres humanos, provocando sofrimento desde o transporte precário e quebra de vínculo afetivo e cultural entre gerações.
“O Brasil foi o país que mais incorporou a sua dinâmica de formação étnica os povos africanos. A maioria dos povos africanos trazidos da África na condição de escravizados veio para o Brasil”, afirmou o professor Moisés apontando um dos maiores fluxos migratórios de escravos da história. Ele destacou ainda que a Abolição não se deu da forma de uma política pública específica para a população negra.
O pesquisador disse ainda que esse modelo colonial não é algo do passado, continua atuando numa perspectiva neocolonial que tem formas de lidar e produzir relações de poder na sociedade. “É a ‘colonialidade’ do ser, controle ou eliminação, não permissão ou permissão com negociação dos modos de pensar, de sentir, de como perceber a vida, o sagrado, os modos de pensar a religiosidade. Há um controle sobre essa relação de poder”.
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