Grupo de Pesquisa ligado ao Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião lança Dicionário do Pluralismo Religioso

Reportagem: Daniel França

Pesquisadores ligados ao Programa de Ciências da Religião da Universidade Católica de Pernambuco (PPGCR) fazem parte de uma rede que acaba de lançar o primeiro Dicionário do Pluralismo Religioso. A obra reúne a produção de núcleos que trabalham o diálogo inter-religioso na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF-MG), na PUC-MG, além da própria Unicap, que sedia o Observatório das Religiões do Recife.

O livro publicado pela Editora Recriar foi escrito por quase 40 pesquisadores. São mais de 300 páginas que abordam verbetes conceituais e descritivos. Assinam a coordenação do livro os professores Cláudio Ribeiro (UFJF) e Roberlei Panasiewicz (PUC- MG), e Gilbraz Aragão (Unicap), com quem a reportagem conversou via WhatsApp.

Reportagem – O sentido de diálogo toca em convivência. Como vocês abordam o relacionamento entre as religiões?

Gilbraz Aragão - O Papa Bento XVI dizia que o grande desafio pro Cristianismo hoje é como interpretar as outras religiões, que estão sempre mais visíveis. O livro da gente trata disso. É um livro que condensa e aprofunda os conceitos mais importantes que a gente vem trabalhando para avançar na compreensão e na promoção da convivência entre religiões. Tem verbetes mais conceituais, assim como Princípio Pluralista e Transreligiosidade. E tem verbetes mais descritivos como Pluralidade Religiosa no Mundo e no Brasil, Políticas de Respeito à Diversidade, Interculturalidade e Espiritualidade, etc. Resultou em um Dicionário com mais de trezentas páginas, que vai fazer história porque traz uma compreensão da diversidade cultural e religiosa que é orientada pelos estudos de história e antropologia e não decorrente de uma metafísica que despreza a pluralidade e desconfia do pluralismo. Estamos mostrando como a diversidade é originária na história humana e conseguimos interpretá-la como uma bênção!

R - Este é o primeiro dicionário do tipo publicado no Brasil. Onde está a originalidade desse estudo?

G.A - O respeito e mesmo devoção pela diversidade, pelos caminhos dos outros, resultam dos estudos de religião bem informados pela história, pela abordagem antropológica e psicossocial. Isso muda tudo, das atitudes frente à alteridade no espaço público às teologias das religiões em todas as confissões. Por isso mesmo, o “Dicionário do pluralismo religioso” vai fazer história e se tornar uma obra de referência para uma atitude dialógica, tanto na pesquisa como na vida.

É um material inédito e muito original nos estudos de religião no Brasil. Porque a maioria dos pesquisadores tem interesse na que é comum e geral, e nós estamos partindo da diversidade e da espiritualidade que está surgindo entre e além das religiões. Para nosso Grupo de Pesquisa, a religião institucional é apenas a ponta do iceberg da espiritualidade humana.

R – O Dicionário reúne uma produção científica considerável. Há quanto tempo vocês vêm estudando a perspectiva do pluralismo?

G.A - Desde 2008 o pessoal vem se reunindo como grupo de trabalho formado pelos núcleos que trabalham diálogo inter-religioso nos principais congressos da área. Já vamos para a realização do terceiro seminário próprio, através do que tem articulado publicações para sintetizar e aprofundar os conceitos e autores que estão sendo estudados em comum. É um livro para toda pessoa envolvida com o diálogo entre religiões e convicções, tematizando o Princípio Pluralista em verbetes mais conceituais ou mais descritivos. Tal Princípio confronta quem entende a diversidade humana como mera “pluralidade de fato” e por causa de um “pecado original”, com a perspectiva do “pluralismo de princípio” e decorrente de uma “bênção original”.

Esse Princípio Pluralista alavanca teoricamente as análises sobre a diversidade cultural e religiosa, sensibilizando para a percepção de identidades (re)construídas nas fronteiras institucionais e mobilizando para o diálogo alterativo que se desenvolve nos “entre-lugares”, éticos e místicos, das relações pessoais e culturais. Há quem pense na pluralidade de religiões como resultado da perversão humana e a gente está ousando pensar no pluralismo de fés, convicções e espiritualidades, como resultante de uma bênção das origens e de uma evolução salutar do espírito humano.