Polo Universitário Santo Inácio tem primeira defesa do mestrado interinstitucional

O Programa de Pós-graduação em Ciências da Linguagem viveu um momento histórico com a defesa pública da primeira dissertação do Mestrado Interinstitucional (Minter) entre a Universidade Católica de Pernambuco, o Centro Universitário Católica de Quixadá (Unicatólica-CE) e o Colégio Santo Inácio de Fortaleza, que formam um polo universitário. O evento aconteceu por meio remoto.

A proeza coube a aluna (agora mestra) Luiza Gorete Cavalcante Ferreira que defendeu a dissertação intitulada O Mundo Fora dos Eixos, de Bernardo Carvalho: hibridismos e transformações na crônica brasileira contemporânea.  A orientação foi do Prof. Dr. Pe André Luís de Araújo que fez parte da banca com o Prof. Dr. Leandro Gracia Rodrigues, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); e a Prof.ª Dr.ª Rossana Regina Guimarães Ramos Henz, da Unicap.

Quem passa por uma defesa pública de mestrado ou doutorado sabe que a banca é resultado de uma jornada tão ampla, complexa, exaustiva quanto gratificante. Gorete superou esse e outros desafios em meio a uma pandemia com a experiência de quem tem 38 anos de carreira como professora na rede particular de Fortaleza. Uma vocação descoberta quando ela ainda estava no final do ensino médio na terra natal Tauá, a 345 km de Fortaleza. “Não tive nenhuma dúvida de que seria professora”.

A certeza reafirmada ao longo de quase quatro décadas de trajetória profissional caminhou lado a lado com o sonho de fazer mestrado. Ela conta que há alguns anos entrou num programa de outra instituição, mas o curso acabou não tendo reconhecimento da Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). “Foi uma frustração terrível”.

O sonho foi adiado também por Gorete precisar trabalhar mais para financiar os estudos dos filhos fora do país. Até que em 2019 houve a seleção da primeira turma do Minter do Polo Universitário Santo Inácio. Gorete foi aprovada em primeiro lugar na Linha 2 do Programa de Pós-graduação em Ciências da Linguagem (PPGCL) - Processos de Organização Linguística e Identidade Social. “Fui a única professora do Colégio a fazer parte da turma”, observa ela.

O primeiro passo rumo à obtenção do título estava dado. A pesquisa de Gorete girou em torno de como os fatos sociais deste século foram retratados na crônica brasileira. Era preciso desenhar um arcabouço teórico-metodológico que desse conta da teoria literária e um trabalho de resgate dessas transformações que agitaram o século.

Um esforço epistemológico (e mental) hercúleo. “Tive de conciliar o trabalho em três escolas. Aos sábados me dedicava à leitura das 10h às 15h e aos domingos das 13h30 às 16h”, revela Gorete que tinha que estar “descansada” para a maratona de aulas ao longo da semana.

Foi aí que o papel do orientador foi fundamental. O Prof. André é doutor e mestre em Letras Estudos Literários pela UFMG. A pesquisa de Gorete fez um recorte da obra do cronista Bernardo Carvalho a partir de um livro que fez um compêndio de textos publicados na Folha de São Paulo. “Um gênero híbrido que passou por grandes transformações. A crônica evoluiu de tal maneira no Brasil desde a chegada dos portugueses. Cada navegação tinha seu cronista”, explica.

André e Gorete contam que a pesquisa teve idas e vindas, ajustes, reinícios que exigiram um verdadeiro malabarismo para atender as demandas acadêmicas, profissionais e pessoais da então mestranda. E ainda assim o orientador classificou o desempenho dela como um “fenômeno”. Isso porque a pré-banca, que contou com os mesmos professores da defesa final, exigiu uma série de mudanças no dia 5 de fevereiro de 2021.

Gorete fez os ajustes em um tempo record e defendeu a dissertação no dia 9 de abril de 2021. “Por conta da pandemia o programa dilatou o prazo, mas ela fez questão de defender no prazo regulamentar”, conta o Prof. André. “Seja disciplinado, use o tempo que você tem para fazer aquilo”, ensina Gorete.

O Minter – A primeira turma do Minter começou com doze alunos em 2019 na fase de aulas para a obtenção dos créditos. No primeiro ano, as disciplinas obrigatórias aconteceram na estrutura do Colégio Santo Inácio.

A coordenadora do Minter, Profª Drª Roberta Caiado, conta que a grade de aulas foi organizada de maneira a que uma dupla de professores ministrasse aulas pela manhã e à tarde “mês sim, mês não”. Desde março de 2020, por conta da pandemia, o Minter passou a funcionar de modo remoto, mas nessa fase os alunos já haviam cumprido a carga horária necessária aos créditos obrigatórios do programa.

 “Para que esses alunos não ficassem solitários durante a escrita, nós propusemos a eles que acompanhassem como ouvintes as disciplinas ministradas por seus orientadores nos semestres, ficando então mais próximos. Isso foi muito bom para que pudessem ler e escrever com mais segurança. Eles gostaram muito. O feedback é bastante positivo”, explica Roberta.         

Ao longo 2020 o Minter promoveu vários encontros virtuais para que os mestrandos informassem como estava o andamento da pesquisa com as presenças dos orientadores e coordenação. “Nós fizemos um acompanhamento remoto também do desenvolvimento das pesquisas deles”, detalha Roberta ao se referir à plataforma Google Meet e ao grupo da turma no WhatsApp.

“Com relação à proximidade, foi uma experiência muito importante não só para o amadurecimento ainda maior do PPGCL, mas pela parceria com a Unicatólica e pela difusão disso no Polo Santo Inácio. A experiência do Minter e a primeira defesa no prazo, ela é única pelo momento pelo qual estamos passando, pelas perdas que tivemos e porque motiva os demais a passar por esse momento da banca”, pontua Roberta. A coordenação operacional do curso é da Profª. Drª. Stânia Nágila Mendes Vasconcelos, da Unicatólica.

O Minter do Polo Santo Inácio consolida a interiorização e a internacionalização do PPGCL, o que contribui para as avaliações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). A defesa de Gorete abre caminho para a implantação da terceira linha do PPGCL: Estudos Literários. Mas o Prof. Dr. André Araújo chama a atenção ainda para outro aspecto que ele chama de dívida social.

“Essa parceria com a Unicatólica de Quixadá marca as identidades próprias das instituições, reafirma nossas identidades comunitárias fazendo algo pelo nosso Programa”. Ele também avalia que “o retorno foi muito bom, com muita gente interessada. Pessoas que não tiveram oportunidade ao longo da vida, com alunos mais maduros e que foram ao encontro de projetos de vida, muitos vindo do interior”.