Teresa Dueire relembra convivência com Dom Helder e destaca legado da Operação Esperança na Semana Dom Helder Camara

A programação da Semana Dom Helder Camara, promovida pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), contou, na tarde desta terça-feira (27), com um depoimento da ex-deputada e professora Teresa Dueire sobre sua convivência com o arcebispo emérito de Olinda e Recife durante os anos de ditadura militar no Brasil.

O encontro aconteceu na Biblioteca Central da Unicap e reuniu estudantes e pesquisadores. Nas plateia muitos jovens da Casa de Frei Francisco, projeto social do Instituto Dom Helder Camara para adolescentes. Dueire esteve acompanhada pelo professor Manoel Moraes, coordenador da Cátedra Unesco Unicap Dom Helder Camara de Direitos Humanos, e pelo historiador do Cendhec, Filipe Xavier.

Ao relembrar o período, Teresa destacou a importância da Operação Esperança, iniciativa liderada por Dom Helder voltada para a promoção da justiça social no campo. “A Operação Esperança não morreu. É essa semente que nós devemos conservar no dia a dia quando dizemos que o futuro está em nossas mãos”, afirmou.

A ex-parlamentar relatou experiências em engenhos e comunidades rurais, onde acompanhou de perto a desigualdade entre trabalhadores e pequenos produtores. “O trabalhador rural é obedecer e receber o seu mísero salário, quando o proprietário maior paga em dia ou quando ele não retira parte desse dinheiro. Já o produtor quer empreender, quer fazer alguma coisa que renda o seu dia. O que falta nesse país é política pública para transformar essa realidade”, criticou.

Segundo Dueire, o esforço de Dom Helder e de seus colaboradores era voltado para a criação de condições que possibilitassem ao povo mudar a própria vida. Ela citou exemplos de aquisição de propriedades rurais como forma de garantir dignidade a comunidades inteiras. Em Paulista, por exemplo, famílias deslocadas de uma grande área receberam apoio para reconstruir sua vida em um espaço que hoje corresponde ao bairro de Tururu. “Dom Helder não podia pegar um real que não investisse em alguma coisa que mostrasse ao povo a luz da esperança de que era possível mudar”, recordou.

Teresa também mencionou outras frentes criadas pelo arcebispo, como o Banco da Providência, voltado para aqueles que já não tinham condições de lutar diretamente nos movimentos sociais, chamados por ele de “feridos de guerra”. Para ela, essas iniciativas foram decisivas para manter viva a esperança em tempos de repressão.

O depoimento ainda resgatou momentos de perseguição política vividos por militantes ligados à Operação Esperança. Teresa relatou prisões arbitrárias e desaparecimentos durante a ditadura, lembrando da coragem de Dom Helder ao enfrentar ameaças e se manter ao lado dos mais pobres. “Quem é que ia dar as mãos aos pobres para que eles viessem para a luta também? Dom Helder”, ressaltou.

Ao final, Teresa compartilhou uma lembrança pessoal: o conselho de Dom Helder, dado no início de sua trajetória política. “Ele me disse: amanhã, vista a sandália mais velhinha que tiver. Você pode até não ir à rua com ela, mas diga: eu vesti a sandália da humildade. E essa sandália nunca deve sair dos seus pés. Isso marcou a minha vida toda.”

O encontro terminou com um apelo de Dueire aos estudantes presentes: que sigam o exemplo de luta e solidariedade que caracterizaram a vida de Dom Helder Camara. “Vocês têm que decidir se serão pessoas de luta. O mundo precisa de vocês de uma forma diferente”, concluiu.

Trajetória após redemocratização - Teresa Dueire teve uma ligação direta com Dom Hélder Câmara durante a ditadura militar. Atuou como sua auxiliar em trabalhos sociais desenvolvidos no Recife, voltados para a defesa dos mais pobres e marginalizados. Essa atuação rendeu a Teresa perseguição política, resultando em prisão e exílio nos chamados “anos de chumbo”.

Após a redemocratização, retomou sua vida pública e construiu uma carreira de destaque: exerceu três mandatos como deputada estadual, chegando a liderar o governo Jarbas Vasconcelos na Assembleia Legislativa de Pernambuco, e posteriormente integrou o Tribunal de Contas do Estado. Sua trajetória carrega como marca central a experiência de luta e resistência vivida ao lado de Dom Hélder, cuja influência foi decisiva em sua formação política e social.